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Crítica do filme Coco Chanel & Igor Stravinsky

Com uma narrativa elegante e sensual, Jan Kounen aborda, em Coco Chanel & Igor Stravinsky, o tórrido, mas episódico, romance vivido entre os dois artistas, em Paris, na década de vinte do século passado. Possivelmente por suas inegáveis qualidades estéticas, o filme foi selecionado para ser exibido na sessão de encerramento do Festival de Cannes de 2009.

! O argumento é extraído do livro Coco & Igor, da escritora britânica Chris Greenhald, que se incumbiu também da elaboração do roteiro, este, lamentavelmente, não muito bem resolvido ao final. Mas a película tem vibrante prólogo – talvez porque marcado pelo ritmo da música de Stravinsky de extraordinário efeito cênico -, que reproduz, enquanto correm os créditos iniciais, o grande escândalo causado pela apresentação, em maio de 1913, do balé Sagração da Primavera, no recém-inaugurado Théâtre Comédie des Champs-Élysées.

! É intensa a movimentação nas coxias do teatro, onde Stravinsky ( Mads Mikkelsen), impaciente, aguarda o início do espetáculo. Ele diz para si mesmo: – Esqueça Tchaikovsky, Wagner e Strauss!… Você criou algo novo. Por sua vez, o coreógrafo Vaslav Nijinsky ( Marek Kossakowsky ), observando pelas frestas da cortina as pessoas que ocupam todas as dependências do grande auditório, afirma: Eles não saberão dizer depois o que os atingirá. Stravinsky ocupa então um lugar, na plateia, ao lado da mulher, Catherine (Yelena Morosova), grávida do quinto filho.

! Quando começam as vaias, porém, o compositor regressa, com Catherine, aos bastidores, de onde percebe a inquietação dos bailarinos e do coreógrafo Nijinsky, que ouve de alguém o conselho: – Não se desespere, filho!… Deus coloca à prova aqueles a quem mais ama. Os ânimos, entretanto, continuam exaltados: É uma vergonha!… Isso não é música. Voltem para a Rússia. Há trocas de ofensas entre os espectadores. A polícia é chamada para conter os ânimos. Coco Chanel (Anna Mouglalis), que fora ao teatro em companhia de uma amiga, pois o seu amante Arthur “Boy” Capel (Anatole Taubman) viajara, assiste a tudo impassível.

! Ao se iniciar a ação, transcorre o ano de 1920. Stravinsky está novamente em Paris. Dessa feita, porém, como exilado político, fugido dos horrores da Revolução Bolchevique de 1917. Durante uma reunião com outros exilados, num hotel de luxo, ele é apresentado a Coco Chanel que, de luto pela morte do amante, pede-lhe que a encontre no dia seguinte. Por saber que ele enfrenta dificuldades financeiras, mantendo a família alojada num quarto de hotel, ela quer ajudá-lo. Oferece-lhe o palecete, que tem nos arredores de Paris, para abrigá-lo com a família. A princípio, ele recusa, mas depois, acaba por aceitar. É então que os dois começam a se relacionar.

! Se a linguagem de Kounen, a partir daí, perde no ritmo, ela ganha, por outro lado, no aprimoramento estético pela bela e eficiente composição de planos – a da leitura, por exemplo, da carta de despedida de Catherine a Coco Chanel – e pela exploração de outros recursos, como os repetitivos jogos de espelhos, a lembrar, em alguns momentos, os de Orson Welles. Mas o brilho de sua direção se deve principalmente à condução dos três intérpretes principais – Anna Mouglalis, Mads Mikkelsen e Yelena Morosova -, que apresentam atuações admiráveis.! Mouglalis é modelo (exclusiva da grife), que estreia como atriz com pleno domínio de cena, o que é raro. Mas, se ela assim o consegue, é pela disciplina a que se impôs de seguir à risca as marcações ditadas por Kounen e, além disso, como é preciso observar, sua beleza, postura, elegância e voz contribuem bastante para a exata personificação de Coco Chanel. Mikkelsen (Casino Royale) é ator corretíssimo, um dos preferidos dos cineastas dinamarqueses do Dogma 95, que, para para interpretar Stravinsky, dando-lhe o característico tom de bondade e crueldade, parece haver se inspirado na atuação de Dirk Bogarde como Franz Liszt (Sonho de Amor, de Charles Vidor), já que as duas personalidades se parecem.

FICHA TÉCNICA COCO CHANEL & IGOR STRAVINSKY França/ 2009
Duração – 120 minutos Direção – Jan Kounen Roteiro – Chris Greenhald com base no Produção – Chris Bolzli e Claudie Ossard Fotografia – David Ungaro Trilha Sonora – Gabriel Yared Elenco – Mads Mikkelsen ( Igor Stravinsky), Anna Mouglalis (Coco Chanel), Yelena Morozova (Catherine Stravinsky), Anatole Taubman (Arthur “Boy”Capel), Marek Kossakowski (Vaslav Nijinsky), Aurélie Le Roch (Mme Schmitt)

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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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