sexta-feira, novembro 22, 2024
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Eleição na Venezuela: dois flagrantes de manipulação midiática


Dois episódios importantes no rescaldo da eleição parlamentar da Venezuela no último domingo: O vídeo (acima) da discussão de uma repórter com o presidente Hugo Chávez, durante uma entrevista coletiva, e o manchetão (foto ao lado) do jornal O Globo de ontem: “Chávez perde maioria absoluta no Congresso”. Nem vou me deter aqui, porque o subtítulo, que vem logo abaixo, já implica um desmentido da própria manchete, quando diz: “Oposição volta ao jogo político na Venezuela com mais de um terço das cadeiras”. Ora, se você tem mais de um terço, ou seja 67 deputados, e o PSUV, partido governista, que elegeu 98 deputados, onde o governo Chávez perdeu a maioria absoluta? Ou maioria absoluta não é mais a metade e mais um de um todo? Ou O Globo está querendo agora inverter a matemática?
O que quero ressaltar é que a internet está aí também para desfazer muitas manipulações. É que a rede mundial de computadores, cada vez mais utilizada, mostra os acontecimentos, nos mínimos detalhes, através dos milhões de vídeos feitos a cada momento pelo Youtube e outros sites do gênero, ou mesmo da transmissão instantânea – o streams -, ambos serviços gratuitos e de acesso fácil e imediato para qualquer cidadão.
Tomemos como exemplo o caso da pergunta da repórter Andreina Flores, da Rádio França Internacional, durante aquela entrevista realizada no palácio presidencial de Miraflores. Aandreina indaga ao presidente por que, “obtendo quase o mesmo número de votos (no total apuraodo no país), o PSUV (que ganhou 98 das 165 cadeiras do Parlamento), a oposição elegeu 37 a menos (fazendo 67 deputados)”. Motu contínuo, a repórter extrapola a pergunta, e faz um comentário nitidamente faccioso, mais próprio de uma militante anti-chavista do que a sobriedade que exige de sua missão de bem informar:
“Me pergunto se se estaria confirmando a tese da oposição que sustenta que a redistribuição do peso dos distritos eleitorais se fez com toda a intenção de favorecer al PSUV, ou talvez, ainda pior, o voto do PSUV seria o que vale por dois”.
Antes da pergunta de Andreina, Chávez havia feito uma exposição de quase uma hora, falando inclusive da diferença do número total de votos, objeto da indagação da jornalista. Os resultados, àquela altura (segunda-feira à tarde), também mostravam disparidades no número de deputados eleitos e o total de votos. Um exemplo é o Estado de Zulia, onde o MUD (Movimento de Unidade, da oposição) elegeu 12 deputados e o PSUV apenas 3, a despeito da diferença no número total de votos entre os dois ter sido mínima.
Ao se dirigir à repórter, Chávez perguntou de onde era a jornalista e esta respondeu: “Sou venezuelana”. Em seguida indagou se ela conhecia a constituição de seu país. Neste ponto, Andreina Flores se contradisse, pois depois de responder positivamente, observou: “Se conheço ou não conheço a constituição, é irrelevante. Pergunto em nome das pessoas que estão escutando a Rádio França Internacional e a RCN (rádio colombiana, para onde ela também trabalha)”.
Chávez tinha antes se queixado de que a Rádio França Internacional não respondia aos seus argumentos às “mentiras” que a emissora lhe vinha assacando. Ao retomar a dúvida da jornalista, voltou a perguntar a Andreina se ela não tinha conhecimento de que a eleição parlamentar, por ser distrital (70%) e proporcional (o restante das cadeiras do parlamento), não tinha nada a ver com a eleição nacional (para presidente, onde pesa mais o número de votos). A jornalista respondeu afirmativamente, e e ele devolveu-lhe: “Então por que pergunta?”.
Andreína então insinuou que Chávez a estava chamando de ignorante. E isto foi o suficiente para que toda a mídia internacional se encrespasse e despejasse uma séria de insultos ao presidente venezuelano, inclusive faltando com a verdade, como o internauta poderá conferir no vídeo acima: “Hugo Chávez se irritou, a questionou (Andreina Flores) com duros termos, chamando-a de mentirosa e de ignorante”, afirmou a TN (Todo Notícias), principal canal de notícias da Argentina e pertencente ao poderoso Grupo Clarín.
O internauta verá também nesse vídeo que, em nenhum momento, Chávez chamou Andreina de mentirosa ou de ignorante, ainda que tenha questionado a natureza de sua pergunta. Moral da história: o bom é que a internet está aí para restabelecer a verdade e evitar que os fatos sejam manipulados a bel prazer das grandes corporações midiáticas.

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