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Crítica do filme A Árvore

O trauma causado por uma inesperada morte leva integrantes de uma família, na Austrália, a imaginar que a alma do falecido poderia estar se manifestando pela evolução natural de uma figueira, que expande suas raízes de forma a comprometer os alicerces da casa, erguida sob a sua copa. Esse é o tema de A Árvore, de Julie Bertuccelli, que encerrou o Festival de Cannes do ano passado – agora reeditado – sob muitos aplausos.

Baseado no romance Our Father Who Art In The Tree, de Judy Pascoe, o roteiro, escrito por Bertuccelli, narra a história de uma criança de oitos anos, Simone (Morgana Davies) que, abalada pelo repentino desaparecimento do pai, Peter (Aden Young), confidencia à mãe Dawn (Charlotte Gainsburg) sua impressão de que ele se comunica com ela e lhe assegura proteção pelo ranger dos galhos e pelo agito da folhagem de sua árvore preferida.

Novo impacto psicológico sofre Simone depois, quando a mãe inicia um relacionamento com George (Marton Csokas), um encanador, com quem trabalha na cidade, que viera para verificar até que ponto as raízes constituem ameaça para a segurança dela e de seus três filhos. Como George constata a necessidade de que a figueira seja prontamente abatida, a começar pelas ramas mais altas, o conflito se estabelece pela resistência principalmente de Simone.

Não estaria enganado quem se perguntasse se a temática não é semelhante ou mais ou menos próxima da de Anticristo, de Lars von Trier, pois igualmente por esse filme de Bertuccelli o espectador não só vai ter contato com a tristeza do luto, como também vai tomar ciência de como é difícil domar a força da natureza. Foi esse o motivo certamente que definiu a escolha de Charlotte Gainsburg – premiada em Cannes por sua interpretação na película do cineasta dinamarquês – para fazer o papel de Dawn.

É evidente que o nível de complexidade da narrativa dessa produção franco-australiana não pode nem de longe ser comparado ao das questões de ordem psicológica e metafísica expostas brilhantemente por Von Trier em seu filme. As características gerais do trabalho de Bertuccelli são bem menos ambiciosas. Em vista disso, sua linguagem é mais despojada. Quase não tem artifícios nem apelos ao simbolismo. Tudo é narrado de forma objetiva, com boa pontuação da trilha sonora de Grégoire Hetzel, o que faz assemelhar o seu estilo ao de Jane Champion (O Piano).

Bertuccelli, experiente em documentários, é rigorosa na composição de planos e na observância do preceito herdado do teatro, mas que prevalece na grande maioria dos bons filmes, de que as personagens se revelam pelo que dizem. Assim, por exemplo, as conversas de Simone com a sua melhor amiga, Megan Lu (Zoe Boe) são de muita importância para compreender o que se passa em sua cabeça tumultuada pelo sentimento de perda do pai.

A atuação dos atores se pauta pela discrição da linha imposta por Bertuccelli, que os mantém sob rédeas curtas. É possível que seja esse o maior defeito de seu trabalho porque inibe uma composição interpretativa mais espontânea, menos esquematizada. É verdade que é esse justo o estilo de Charlotte Gainsburg, habituada mais ao naturalismo de François Ozon (O Refúgio) – de quem é a atriz preferida – do que ao expressionismo de Von Trier. De qualquer forma, porém, como Dawn, ela apresenta um desempenho de bom nível principalmente nos momentos em que contracena com Marton Csokas (Supremacia Bourne), de dupla nacionalidade – húngara-neozelandesa -, com ampla experiência teatral, que instila vida na personagem George, sem deixar que caia no estereótipo. E Morgana Davies, como Simone, apesar de sua pouca idade, responde bem à responsabilidade que assume nos momentos mais intensos de sua participação.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
www.theresacatharinacampos.com
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FICHA TÉCNICA
A ÁRVORE
THE TREE
França-Austrália / 2010
Duração – 102 minutos
Direção – Julie Bertuccelli
Roteiro – Julie Bertuccelli com base no romance Our Father Who Art In The Tree, de Judy Pascoe
Produção – Julie Bertuccelli, Sue Taylor e Yael Fogiel
Fotografia – Niguel Bluck
Trilha Sonora – Grégoire Hetzel
Elenco – Charlotte Gainsburg (Dawn), Marton Csokas (George), Morgana Davies (Simone), Aden Young (Peter), Zoe Boe (Megan Lu), Christian Byers (Tim), Tom Roussell (Lou).

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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