Enquanto a Europa varre a esquerda, de ponta a ponta (Portugal foi o último, neste domingo), a América do Sul elegia ontem seu nono presidente progressista, de um total de 12. Trata-se de Ollanta Humala, um militar nacionalista, filho de intelectual indigenista, que deu nome de índio a todos os seus filhos, é alinhado com a política de inclusão social de Hugo Chávez, na Venezuela, e por isso mesmo, satanizado pela mídia e os mercados.
Os países sul-americanos que vem desenvolvendo políticas voltadas para os interesses das grandes maiorias e não dos oligopólios transnacionais são: Brasil, Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia, Equador, Venezuela, Nicarágua e, agora, o Peru. Todos seus presidentes foram eleitos através de eleições, as mais democráticas e polarizadas, em alguns países, mais de uma vez, e a maioria enfrentando o desigual bombardeio econômico.
Talvez aqui resida a diferença entre a esquerda sul-americana e a européia. É que na Europa, a esquerda deixou-se dominar pelo grande capital e a cutela do Fundo Monetário Internacional, que as obrigaram a implantar programas terrivelmente impopulares. Veja-se o caso da Espanha, onde a política industrial de socialista José Luiz Zapatero provoca o desemprego de 21,5%, mais do dobro do que no Brasil, sendo que, entre os jovens, esta cifra sobe a 45%. Na França, o Partido Socialista estava enamorado de que ninguém menos que o diretor-geral do FMI. Dominique Strauss-Kahn, era seu presidenciável mais forte nas pesquisas até a prisão dele, por assédio a uma camareira de hotel, em Nova York. Por sua vez, a Grécia é hoje um país conflagrado, porque seu primeiro ministro George Papandreou, filho e neto de governantes socialistas, pôs-se de quatro diante do FMI e da Comunidade Européia e vem impondo uma política fiscal de arrocho, com cortes cruéis nos salários, no emprego, nas pensões e na produção.
Felizmente, o panorama sul-americano, ao qual se junta agora Ollanta Humala, justamente por causa de uma política coerente e responsável de seus governantes progressistas, mantem taxas de desenvolvimento e de inclusão bem acima, não só dos da Europa, como dos outros países sob regime neoliberal: Chile, Colômbia (O Suriname é um caso à parte). Muitos deles eliminaram o analfabetismo, em reformas educacionais de grande amplitude e implantaram programas sociais que acabaram revertendo na criação de mais emprego e ampliação de seus mercados internos e intramericano.
O intercâmbio entre eles foi outra grande conquista, porque, ao diminuir a dependência das grandes potências – Estados Unidos e Europa -, eles facilitaram a trocas comerciais e propiciaram a transferência tecnológica. Alguns deles foram mais longe, como o intercâmbio Brasil e Argentina, que eliminaram o pedágio do dólar, ao fazer transações com suas próprias moedas. Claro que tudo isso implica em menos ganhos para os grandes oligopólios, o que explica a exasperação de nossas mídias nativas.
No caso do Peru, o país que recebe Humala, é aquele sujeito, até aqui, ao neoliberalismo e a um tratado específico de “livre comércio” com Washington, e que vem exibindo níveis invejáveis de 6,5%de crescimento e 3% de inflação, mas só para as minorias privilegiadas. No plano social, o panorama é bem outro. Segundo levantamento publicado hoje no jornal O Globo, 27% das residências da área urbana não têm água potável, situação que se agrava no interior, onde este percentual pula para 56%. Metade dos jovens peruanos vive em situação de pobreza (situação na qual se encontram 35% da população) sequer tem acesso à escola secundária. Humala promete mudar essa conjuntura, sem traumas e atropelos, mas com um programa coerente e democrático, assim como o vem fazendo seus oito colegas nacionalistas da América do Sul