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Crítica do filme "Uma prova de amor"

(Publicado originalmente em Qua, 16 de Setembro de 2009 18:36)

Por Reynaldo Domingos Ferreira

Veja aqui o trailer.

Em Uma Prova de Amor, Nick Cassavetes retoma a questão da criação dos filhos na sociedade moderna, desenvolvida por ele antes em Alpha Dog, para mostrar, dessa feita, como uma família deve se preparar para enfrentar a perda de um de seus entes mais jovens.

Como no filme anterior, Cassavetes joga com improbabilidades, principalmente no campo jurídico, para dar realce ao posicionamento dos filhos em relação ao dos pais, que, nesse caso, apesar de não deixarem aparentar, guardam ressentimentos de um para com o outro.

A linguagem, segura e firme, é um tanto glamurosa, rica em elementos visuais e sonoros – a trilha sonora de Aaron Zigman é muito boa – , como convém a Hollywood, para formular uma pergunta séria: terão direito os pais de conceber um filho, por fertilização in vitro, para que ele possa fornecer a medula óssea a fim de prorrogar a vida (ou o padecimento) de um outro, sofredor de leucemia promielocítica?

O roteiro de Cassavetes e de Jeremy Levin, baseado no bestseller de Jodi Picoult, My Sister´s Keeper, narra, por meio de sucessivos flashbacks – e nem sempre fiel ao livro – , a história de Anna Fitzgerald (Abgail Breslin), de 11 anos, que contrata o advogado Alexander Campbell (Alec Baldwin) para pleitear, na justiça, a emancipação de seu corpo do domínio paterno.

Ela alega não suportar mais os constantes internamentos a que é submetida, desde que nasceu, para transfusões de sangue à irmã Kate (Sofia Vassilieva), que quando tiver 15 anos, apresentará insuficiência renal e necessitará dela a cessão de um rim. Kate, por sua vez, segundo o que Anna confessa, mais tarde, na audiência judicial, no deslinde do caso, já lhe teria dito que não quer mais viver, principalmente após a morte de Taylor Ambrose (Thomas Dekker), seu namorado, também paciente terminal de câncer.

Se no trabalho anterior, Cassavetes fustigava os pais pela omissão na educação dos filhos, nesse ele destaca o desvelo de ambos – Brian (Jason Patrick) e Sarah (Cameron Diaz) Fitzgerald – em propiciar o melhor atendimento possível à filha doente. Eles erram, contudo, segundo o realizador, não só em relação a Anna, como também a Jesse (Brennan Bayle), o mais novo, deixado ao léu da sorte, que, atingido pelo drama familiar,  perambula, sem destino, pelas ruas de Nova York.

Em termos visuais, a direção de Cassavetes é impecável, apoiando-se no manejo de câmera de Caleb Deschanel para compor plano e para dar destaque a personagens de acordo com suas participações em cena. Observe-se, por exemplo, o momento em que Taylor e Kate deixam o baile, no hospital, a fim de procurar um local, onde possam ficar a sós. Na saída, Taylor antecipa sua despedida, fazendo balançar o cordão de estrelas luminosas que ornamenta a porta.

O elenco é bom, mas não pode sustentar comparação com o de Alpha Dog, que tinha, pelo menos, duas memoráveis atuações: as de Justin Thimberlake e a de Emile Hirsch. Jason Patrick, nesse filme, é o mais prejudicado por interpretar o papel do pai Brown Fitzgerald, personagem sem traços característicos próprios, desde sua criação literária, que só tem um instante de reação: quando insiste em satisfazer a vontade de Kate de ir ver o mar. Afora isso, o ator nada tem a fazer em cena.

Cameron Diaz, atriz de comédias, mostra que, bem dirigida, tem potencialidade dramática. Ela interpreta o papel de Sarah Fitzgerald, uma advogada, que deixou de exercer a profissão para se dedicar, em tempo integral, à filha, que luta contra a leucemia. E, com isso, ela acredita estar defendendo a família. Tem boa atuação principalmente nas cenas em que Sarah se alterca com Campbell, no escritório dele ou em juízo. Alec Baldwin, com sua experiência de palco, no papel de Campbell, domina as cenas no tribunal.

Baldwin representa um advogado epiléptico, que por isso se faz acompanhar por um cão-guia até nas audiências sob o protesto da juíza De Salvo (Joan Cusak), que o conhece desde a Universidade. E possivelmente tenha sido uma sua ex-namorada. É de Campbell uma das “falas” emblemáticas do filme: Existe um mundo à parte aos avanços da ciência e da tecnologia que precisa ser preservado!… Mas os atores que realmente se projetam  são os mais jovens: Sofia Vassieleva como Kate, Abgail Breslin, ótima como Anna, Brennan Bayle como Jesse e Thomas Dekker como Taylor Ambrose.

FICHA TÉCNICA

UMA PROVA DE AMOR

MY SISTER´S KEEPER

EUA/2009

Duração –

Direção – Nick Cassavetes

Roteiro – Nick Cassavetes e Jeremy Levin com base no livro My Sister´s Keeper, de Jodi Picoult

Produção – Stephen Furst, Scott Goldman e Mark Johnson

Fotografia – Caleb Deschanel

Música – Aaron Zigman

Edição – Jim Flynn e Alan Heim

Elenco – Abgail Breslin (Anna Fitzgerald), Sofia Vassilieva (Kate Fitzgerald), Cameron Diaz (Sarah Fitzgerald), Jason Patrick (Brian Fitzgerald), Brennan Bayle (Jesse Fitzgerald),Thomas Dekker (Taylor Ambrose), Alec Baldwin (Alexander Campbell), Joan Cusak (Juíza De Salvo).

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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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