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Crítica do filme "Paris"

(Publicado originalmente em Sex, 28 de Agosto de 2009 21:07)

Por Reynaldo Domingos Ferreira

Veja aqui o trailer.

Pela ótica de um jovem paciente que necessita de transplante do coração para continuar vivendo, o cineasta Cedric Kaplisch faz, em Paris, uma crônica dura, amarga, porém sincera, sobre as difíceis condições sócioeconômicas que enfrentam os que residem  na cidade considerada  a mais bela do mundo.

Autor também do roteiro, Kaplisch parece haver se inspirado no depoimento de René Clair sobre os últimos momentos de vida do ator Gérard Philippe para escrever, pelo menos, a sequência final em que Pierre (Romain Duris), segue, de táxi, para o hospital a fim de se submeter à arriscada cirurgia do coração. Sem deixar de apreciar a paisagem de famosas avenidas parisienses, Pierre se indaga: – Será que essas pessoas sabem da importância de se ter um instante de tranquilidade em Paris?

Pierre é um dançarino de cabaré, que se isolou no acanhado apartamento em que vive, desde que tomou ciência do agravamento do seu estado de saúde. Os amigos costumeiros dele se ausentaram. A irmã, Élise (Juliette Binoche), uma assistente social, de quarenta anos, sabedora de que ele pode estar com os dias contados, veio, com seus filhos, lhe dar o apoio de que necessita.

A primeira preocupação de Pierre é a de como deve dizer para as crianças, mal acomodadas em sua moradia, o que lhe pode acontecer. Mas desiste ao se conscientizar de que elas preferem não saber disso. Um dos sobrinhos está apenas preocupado com o comentário de um colega, segundo o qual Papai Noel não existe. Pierre não só lhe confirma a existência do bom velhinho, como lhe mostra a Torre Eiffel iluminada, da qual ele se servirá para descer do céu, na noite de Natal, a fim de visitar as crianças de Paris.Assim como os meninos precisam de ilusões e de fantasias, como fica evidente pela atitude de Pierre em relação ao filho de Élise, os adultos necessitam de noitadas em bares, de festas e de fazer amor com quem quer que seja para superar as agruras de insegurança no trabalho, de subemprego e de desemprego, enfrentadas no dia a dia parisiense.  Apesar de as esferas oficiais falarem muito em diversidade social, como observa Pierre,  Paris é cada vez mais uma cidade só para os ricos.

De seu terraço, ele vê desfilar vários tipos – feirantes, padeiros, uma modelo, um arquiteto, um professor de História -, todos assoberbados, introvertidos ou mal humorados, compondo com os seus problemas individuais uma espécie de mosaico ao estilo de Altman. Pierre se interessa por Laetitia (Mélanie Laurent), uma vizinha, moradora do edifício de frente, estudante, jovem e bonita, que, numa frase, entretanto, desanca com os visitantes da cidade, quando diz – Então, vamos fingir que somos turistas idiotas!… Ela recebe, pelo celular, mensagens de assédio de alguém que não se identifica.Esse alguém é o professor Roland Verneuil (Fabrice Luchini), cultor do passado histórico da cidade, servidor público, mal remunerado, que também vive num cubículo sórdido, embora seja irmão de um arquiteto famoso, Philippe Verneuil (François Cluzet), que projeta residências futuristas, de alto luxo, mas é bastante emotivo no que diz respeito às questões familiares.Kaplisch cuida bem da fixação dos traços característicos de cada uma dessas personagens, mas ganha brilho, principalmente ao retratar a figura da dona de uma padaria (Karin Viard), intolerante ao extremo para com seus auxiliares no balcão, por ela criticados, repreendidos ou maltratados mesmo na presença dos clientes. Viard, que recebeu indicação ao César de Melhor Atriz Coadjuvante, tem realmente uma atuação marcante, expressando pelo gestual e pelo olhar mais do que pelos impropérios que, sem papas na língua, a personagem diz.

O elenco é composto de muitos nomes famosos, como os de Juliette Binoche, esplêndida como sempre, Fabrice Luchini, e Romain Duris, este no terceiro filme dirigido por Kaplische, que o lançou no cinema em O Abrigo Espanhol. Há ainda a presença de Albert Dupontel (Um Lugar na Platéia ), no papel do feirante Jean, numa discreta, mas boa  interpretação. Além de contar com as belas imagens de Benoit Delhomme, a narrativa de  Kaplisch ganha impulso graças ao excelente comentário musical, de Loik Dury e Robert Burke, que inclui variadas peças de jazz e de Johann Sebastian Bach.

POR REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

FICHA TÉCNICA
PARIS
França/2008
Duração – 95 minutos
Direção – Cedric Kaplisch
Roteiro – Cedric Kaplisch
Produção – Aissa Djabri, Fahrid Lahoussa, Manuel Munz

Fotografia – Benoit Delhomme
Trilha Sonora –Loik Dury e Robert Burke
Edição – Francine Sandberg
Elenco – Juliette Binoche (Élise), Romain Duris (Pierre), Fabrice Luchini (Roland Verneuil), Albert Dupontel (Jean), Melanie Laurent (Laetitia), Karin Viard (La Boulangère), François Cluset ( Philippe Verneuil)

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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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