segunda-feira, novembro 25, 2024
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O fim do jornal e a internet

O debate se prolonga, mas já se consegue chegar a uma constatação, no entender de especilistas: a internet supera o jornal e caminha para ultrapassar a TV. Focamos em dois eventos para tentar esta apaixonante discussão: o lançamento do livro “A Explosão do Jornalismo”, de Ignacio Romanet, do Le Monde Diplomatique, e a IV edição do Fórum NBC (New Brand Communication), em São Paulo.
Ramonet é taxativo: “Tem-se dito que a Internet é tão importante quanto à invenção de Gutenberg. Mas é mais importante do que a imprensa. Porque com a imprensa se tem apenas o livro, o escrito. Não o desenho ou as representações gráficas que mudaram o Ocidente”.

Já no NBC, não há consenso entre os profissionais da imprensa, do marketing digital e da propaganda: qual será o modelo vencedor no futuro, capaz de gerar renda na internet e substituir os negócios hoje ainda centrados no papel e na televisão?
A favor da internet, Ramonet ainda sustenta que a informação se torna um ato coletivo, mais democrático: O jornalista não está sozinho. Antes, se tinha dois atores, um ativo e outro passivo. O emissor e o receptor. Hoje, o receptor é tanto ativo como o emissor. Hoje, a informação é um ato coletivo, mais democrático. O jornalista não está sozinho. “Antes, se tinha dois atores, um ativo e outro passivo. O emissor e o receptor. Hoje, o receptor é tanto ativo como o emissor. Eu o chamo de webator”, observa o velho jornalista.

No NBC, a discussão evoluiu para a questão se a internet conseguirá democratizar a comunicação no Brasil, hoje concentradas em algumas poucas corporações familiares. A questão pesa tanto na publicidade quanto no jornalismo. “A gente tem um vício que é a Casa Grande – Senzala,” diz Rene de Paula, que participou da mesa “Inovação em Comunicação de Marcas”. Segundo o publicitário, os profissionais da área acabam imersos em um universo particular, onde “todos possuem Iphone, enquanto a maioria do Brasil está comprando um notebook ou PC em 12 prestações”. É esse público que o marketing online deve atingir. “O grande desafio é entender que as coisas não acontecem somente na Vila Olímpia. A inovação deve ser social, política”, diz.

O Café na Política reproduz a entrevista de Ignacio Romanet, que nos foi cedida pelo serviço de email Sgeral, do MST. Em seguida, oferece o link do material da revista Carta Capital sobre o Fórum do NBC.

Entrevista de Romanet

“Hoje, a informação é um ato coletivo, mais democrático. O jornalista não está sozinho. Antes, se tinha dois atores, um ativo e outro passivo. O emissor e o receptor. Hoje, o receptor é tanto ativo como o emissor. Eu o chamo de webator”.

O comentário é do jornalista Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique e doutor em Semiologia e História da Cultura. Ramonet acaba de escrever o livro A explosão do jornalismo.

O jornalista concedeu entrevista à Martín Granovsky do Página/12, 11-09-2011. A tradução é do Cepat.

Eis a entrevista.

Por que a Internet é mais importante do que a imprensa?

Tem-se dito que a Internet é tão importante quanto à invenção de Gutenberg. Mas é mais importante do que a imprensa. Porque com a imprensa se tem apenas o livro, o escrito. Não o desenho ou as representações gráficas que mudaram o Ocidente quando nos séculos XIV e XV Filippo Brunelleschi inventou a perspectiva. A imprensa foi chave, sim. Não apenas mudou a maneira de fabricar textos como o número de universidades. Em 1440 havia quatro ou cinco. Com a extensão do livro se multiplicou e surgiu o humanismo, o Renascimento.

A edição da bíblia em línguas que não se resumiam ao latim.

Exato. Que foi um suporte do protestantismo. Cada um podia ter o seu livro, que antes valia o mesmo que um carro de hoje em dia. Desapareceram, ao poucos, os copiadores. O que eu quero dizer é que há transformações na política, na sociedade, na geopolítica… A guerra dos Trinta Anos, de protestantes contra católicos era uma consequência, nesse sentido, da imprensa. Hoje a Internet e as redes sociais não geram por si só alguns fenômenos, mas os aceleram enormemente.

O uso massivo dos Black Berry nos recentes protestos de Londres?

Por exemplo. Esses protestos, em boa medida, são filhos da Internet.

Internet e as redes sociais produzem o fenômeno ou são ferramentas dos fenômenos?

As redes não são uma causa, mas um acelerador. As causas são sempre as condições sociais, econômicas, políticas… mas, a aceleração é importante. A globalização apenas adquire a intensidade atual quando se criam o que chamamos de autopistas da informação, por onde circulam por 24 horas as ordens de compra e venda nas bolsas que circulam velozmente graças ao que a Era digital permitiu. Internet é um ator do que ocorre e um vetor do que acontece, e em ambos os casos para além do campo da comunicação. O jornalista tinha até agora o monopólio da informação. A sociedade recebia a informação através dos jornalistas.

Agora já não é mais assim?

É um trabalho partilhado. Os cidadãos com seus blogs e a informação que eles mesmos difundem com os sítios de informação on-line, com a informação que se difunde pelo Twitter.

Não é ruim essa nova situação ou é? Inclusive é interessante para os jornalistas, por um lado, se tem mais fontes de informação em mãos e, por outro lado, qualquer um pode corrigir o que fazemos.

Isso mesmo.

E se o jornalista é bom, mantém sua capacidade de edição, ainda que não seja monopolizada.

Claro. Eu diria que é o momento dos jornalistas demonstrarem para a sociedade que são necessários. A sociedade, em teoria, pela extensão dos intrumentos como a Internet, poderia se autoinformar. Naturalmente é um sonho que não se pode realizar. Como diz a psicoanálise, não basta que se tenham conhecimentos para se auto-analisar. Por definição, a auto-análise não existe. A sociedade não pode se “auto-informar”, mas ao menos em teoria seria possível. Daí que os jornalistas são mais exigidos do que antes. Antes tinham esse monopólio, certo prestígio social, exerciam certo “terrorismo” intelectual na sociedade… Esse estatuto um pouco privilegiado está bagunçado por inteiro e agora surgem novas vozes e jornalistas novos. Basta ver o êxito do The Huffington Post nos Estados Unidos.

Até chegou a se vender em poucos anos pelo sucesso que alcançou. Como se reconhece hoje e como se reconhecia anteriormente um bom jornalista? Mudou de verdade a profissão?

O que se pede de informação hoje? Que seja confiável. Muita informação que recebemos não é confiável e às vezes, inclusive, falsa. Nem falo da má intenção e da manipulação voluntária que exite. Apena refiro-me a que um programa de rádio ou um canal de televisão não podem garantir que a informação que transmitem seja verdadeira. O uso da condicional “ao que parece” ou “segundo fontes…” se tornou abusivo. Faz com que os jornalistas se limitem a transmitir uma informação mais rapidamente possível, porque sabem que na rapidez está em parte a captação da audiência, não podem verificar a realidade da informação que estão transmitindo. Então, o cidadão quer confiabilidade. Que meios podem garantir isso? Indiscudivelmente não são os canais de informação urgente, imediata, constante.

O mundo que se escuta, vê e lê multimidiáticamente não tem até o momento uma palavra que o defina, correto?

Não, ainda não.

Essa pessoa para a qual não temos definição, espera ainda que de alguma maneira alguém lhe explique o que está acontecendo?

Você mesmo disse, de maneira nenhuma. A questão é que hoje a informação se dá de acordo com o emprego. Os meios dão a informação e dizem como interpretá-la. Muito rapidamente. Demasiado sumariamente. Quem sabe o cidadão está esperando que lhe coloquem a informação no contexto. Isso impede a urgência, pertuba a imediatez.

A audiência recebe fragmentos.

Efetivamente. Assim funciona a informação. Hoje um fragmento, amanhã outro… Mas o cidadão não vai conseguir realizar o trabalho de reunir o mosaico. Tem que se ter especialistas do geral. São os chamados generalistas.

Podemos chamá-los de “todólogos”.

Pode ser. Mas a cada dia está mais difícil encontrá-los. O mundo se faz muito complexo. Nem todo mundo sabe, se o tema é Fukushima que é a radiotividade, como funciona, o que é um terremoto e que consequência traz.

Bem, o que não sabe, e se é jornalista, pode perguntar.

Sim, mas quando um canal de televisão envia uma equipe porque acontece o acidente de Fukushima e isso assusta o mundo inteiro, e a equipe chega ao Japão, nem todo mundo fala japonês, nem todos os japoneses forçosamente falam inglês, inteiram-se de algumas coisas, como a energia nuclear no Japão, recém chegando, averiguam as autoridades responsáveis. Antes, nos anos 20 ou 30 um jornalista era enviado a um lugar por navio. Com o tempo de deslocamento se lia vários livros e se sabia algo do que lhe esperava. Hoje em dia, em poucas horas se está do outro lado do mundo e nem se teve tempo para se reunir com as pessoas que te possam explicar, nem de ler tudo o que deveria ler. Por isso, o proprio ofício não se faz com as garantias necessárias. Acrescente-se a isso que está se escrevendo e ao mesmo tempo sendo “vigiado” pelo que se escreve, por uma multidão de pessoas que tem a possibilidade de intervir no que você escreve, às vezes desde autoridades em sismologia ou japonologia. O teu trabalho já não vai ser julgado apenas pelos leitores habituais ou os colegas, mas sim por toda uma série de especialistas.

E isso é bom.

Claro que é bom. Alguns jornalistas, como disse, vêem seu estatuto posto em questão. Mas para a coletividade em seu conjunto é muito bom. Antes, na Era industrial, as coisas eram oferecidas prontas. A informação também saia e não era mais alterada. Era autônoma. Hoje não. Sai a informação e na maioria dos meios, on line, já se têm os comentários. A informação vai se transformando e ao final quase é preciso voltar a redigir o artigo em função dos aportes positivos, que obviamente é preciso verificar, que foram aparecendo no caminho. Hoje, a informação é um ato coletivo, mais democrático. Evidentemente que também há rumores, falsa informação, “colagem”, prejuízos. Mas, o avanço é importante porque o jornalista não está sozinho. Antes, se tinha dois atores, um ativo e outro passivo. O emissor e o receptor. Hoje, o receptor é tanto ativo como o emissor. Eu o chamo de webator. Tem o seu proprio sistema de comunicação. Bem, primeiro é preciso aceitar esse diálogo porque faz parte da realidade de hoje e tem muitas coisas boas a recolher. O resultado pode ser muito mais interessante. Não se podem contar estórias. E não se podem contar estórias a todos permanente.

Ou seja, nem tudo está perdido.

Pelo contrário.

Salvo para os que querem se perder.

Para os que ficam parados. Para uma nova geração de jornalistas, ao contrário, nunca se teve tantas oportunidades como as que se apresentam hoje no mundo das comunicações. Um grupo de jornalistas recentemente formados pode criar um meio de comunicação de alcance nacional, continental ou planetário, com poucos recursos financeiros, coisa que era impossível para gerações anteriores. Vejo as coisas de forma muito otimista.

Para ler mais (sugestões do Sgeral:

O jornalismo precisa ser reinventado. Entrevista especial com Edelberto Behs
Midiatização. Um modo de ser em rede comunicacional – Revista IHU On-Line n. 289
Twitter, Facebook, MySpace e Orkut. As redes sociais na web – Revista IHU On-Line n. 290
O futuro do jornalismo digital
Jornalistas vivem situação esquizofrênica na transição para a era digital
O Wikileaks, a mídia e o novo jornalismo
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O debate no IV Fórum do NBC

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