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Crítica do filme "Há tanto tempo que te amo"

(Publicado originalmente em Qua, 22 de Julho de 2009 14:23)

Por Reynaldo Domingos Ferreira

Veja aqui o trailer.

As memoráveis atuações de Kristin Scott Thomas e de Elza Zyberstein são a grande credencial do filme Há Tanto Tempo Que Te Amo, do estreante Philippe Claudel, que, no entanto, exagera no tom de dramaticidade e de mistério para conduzir a narrativa da reintegração de uma ex-presidiária, condenada por homicídio, à sua vida familiar.

Autor também do roteiro, Claudel – como escritor, é detentor de dois prêmios Goncourt – demonstra insegurança principalmente em relação à definição da forma pela qual aborda a questão. Reveladora, nesse sentido, é a sequência em que Léa (Elza Zyberstein), professora de literatura, discute, sem serenidade, com seus alunos, o método de exposição adotado por Dostoiévski para contar a história de Raskolnikov, em Crime e Castigo.

Para respeitar o título e a temática, penso eu, a narrativa, no caso, deveria ser – mas não é – sob a forma subjetiva, isto é, sob a ótica de Léa, que convida a irmã, Juliette Fontaine (Kristin Scott Thomas), presa na Inglaterra há quinze anos, a ir morar com ela, em Nancy, cidade universitária, na região da Lorena, onde vivem cidadãos de várias nacionalidades.

No trajeto feito de carro, do aeroporto até sua casa, Léa revela a Juliette, em poucas palavras, que, após a morte do pai delas, se mudara para Nancy a fim de fazer o doutorado, e lá conhecera Luc (Serge Hazanavicius), com quem se casou.  O casal, ao que acrescenta, adotou duas crianças vietnamitas: P´itit Lys (Lyse Ségur) e Emelia (Lyle Rose).

Já  instalada na casa da irmã, que a deixara para ir lecionar, Juliette descobre, ao acaso, um outro conviva, Papy Paul (Jean-Claude Arnaud), de origem polonesa, pai de Luc, que não fala desde que sofrera um AVC, segundo Léa lhe esclarece, depois, constrangida, ao que parece, por lhe haver negado antes a informação, numa cena sem graça, não por culpa das atrizes, e desnecessária.

Assim, outras personagens vão surgindo e, aos poucos, desaparecendo de forma  aleatória, como o homem do bar (Pascal Demolon); Michel (Laurent Grévill), professor, colega de Léa; capitão Fauré (Frédéric Pierrot), um solitário policial, que sonha em desvendar os mistérios sobre a nascente do rio Orinoco, e a mãe (Claire Johnston) de Juliette e de Léa, sofredora do mal de Alzheimer, que se encontra numa casa de saúde.

Para retardar o desvendamento do segredo que Juliette esconde sobre o seu passado criminoso – especialmente a identidade de sua vítima -, Claudel é pródigo em redundâncias ou em digressões típicas de melodramas, sublinhadas pelo comentário musical de Jean Louis Aubert. É o caso da cena de uma reunião familiar campestre em que Claudel expõe, apoiado na bela fotografia de Jérôme Alméras, sua admiração pelo estilo do cineasta Eric Rohmer, que, como se deve observar, nada tem a ver com o seu.

È nessa parte que, instigada por Gérard (Olivier Cruvier), o anfitrião, Juliette, uma ex-médica, então impedida de exercer a profissão, se vê forçada a dizer a todos, ante a ansiedade da irmã, a verdade sobre o seu passado, que, entretanto, dita, cai no descrédito de todos. Exceto no de Michel, que, um tanto mais perceptivo do que lhe ocorre interiormente, a convida a dar uma volta a fim de se espairecer lá fora, vendo as cercanias da casa.

O mérito da direção de Claudel reside sem dúvida na maneira com que ele sabe compor planos para dar destaque às soberbas interpretações de Elza Zyberstein (A Pequena Jerusalém) e de Kristin Scott Thomas. A primeira exprime, com finíssima sensibilidade, o amor, a admiração que Léa sente, desde criança, pela irmã. Muitas coisas se passaram, entre as duas, que precisavam ser por ela consideradas. Juliette fora quem lhe ensinara, por exemplo, a cantar e a tocar piano. Se toda a família, mormente o pai, condenou o ato de Juliette, Léa, ao contrário, sem saber os motivos que a levaram a cometer o crime, nunca a deixou de amar. Em seu diário, ela contava os dias, que ainda faltavam, para ver Juliette em liberdade.

Kristin Scott Thomas, intérprete de O Paciente Inglês, de Anthony Minghella , cria, dessa feita, personagem de máscara rígida, que manifesta, pelas olheiras profundas, além de fadiga, uma secreta tristeza. Era como se ela tivesse  de sustentar a todo o tempo que, apesar da ruína da sua vida, deveria permanecer de pé. Em termos de composição, Kristin explora também muito, como Melissa Leo, em Rio Congelado, o recurso das pausas psicológicas. É notável ainda o uso pela atriz da inflexão de voz, quando Juliette afirma para a irmã:  – A morte de um filho é a pior cadeia que existe. Dela ninguém escapa!…
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

FICHA TÉCNICA
HÁ TANTO TEMPO QUE TE AMO
IL Y A LONGTEMPS QUE JE T´AIME
França/Alemanha/2008
Duração –  
Direção – Philippe Claudel
Roteiro – Philippe Claudel
Produção – Sylvestre Guarino e Yves Marmion
Fotografia – Jérôme Alméras
Trilha Sonora – Jean Louis Aubert
Edição – Viriginie Bruant

Elenco – Kristin Scott Thomas (Juliette Fontaine), Elza Zyberstein (Léa), Serge Hazanavicius (Luc), Jean-Claude Arnaud (Papy Paul), Laurent Grévill (Michel), Frédéric Pierrot (capitão Fauré), Olivier Cruvier (Gérard),  Pascal Demolon (Homem do Bar), Lyse Ségur (P´tit Lys), Lyle Rose (Emelia), Claire Johnston (Mãe).

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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