Steve Jobs concebia seus produtos – Macintosh, Mac, iPod, iPhone, iPad – desde a embalagem, que também tinha de ser simples e eficiente, mas bonita, acima de tudo. Daí a diferença dos produtos da maçã mordida – símbolo inconfundível da Apple, outro prodígio do mago de Cupertino – das outras marcas. Em todos os aspectos de suas criações, havia um traço da concepção de vida, de amor e de arte desta criança enjeitada, extinta aos 56 anos, em plena glória, como herói mundial da alta tecnologia.
Por essas e outras coisas, Jobs foi um líder, além de gênio. Desde a adolescência rebelde, nas viagens pelo mundo como hippie e os contatos com culturas e religiões bem distantes de seu acanhado mundo familiar da luminescente San Francisco, onde nasceu, Jobs imprimia sua personalidade em tudo. Devorador de livros e apreciador da arte, as ambições intelectuais do errático estudante foram vencendo com a força de sua imaginação e criatividade. O casal que o adotara – Paul e Clara Hagopian Jobs, que lhe deram o nome de Steven Paul – não tinha dinheiro para custear seus estudos sofisticados. Os pais biológicos – a universitária americana Joanne Simpson e seu professor Abdulfattah Jandali, um imigrante sírio, foram obrigados a doar a criança, antes do nascimento, aparentemente forçados pelo preconceito racial dos pais da moça.
Como bom empreendedor, Steve matriculou-se na marra no sofisticado Reed College, em Portland, Oregon, onde militavam os grandes intelectuais de sua época. Um mês depois, diante do susto do pai, um operário, com o boleto da escola, Jobs prometeu que ia resolver o problema por conta própria. É quando vai ao diretor
e diz precisar de uma bolsa especial, por ser ele, Steve, um aluno especial. O diretor se convence. Seis meses depois, o aluno brilhante abandonaria a faculdade e nunca conseguiria um diploma formal. Seus sonhos estavam voltados para a livre criação, que se materializaria nos computadores pessoais, que ele soube fazer e orientar à sua maneira.
Steve Jobs não era um líder político strictu sensu, mas o foi na medida em que marcou sua época e sua geração. Seus rasgos de empreendedorismo e criatividade encontram paralelos em muitas partes do mundo e aqui mesmo no Brasil. Lembro-me a propósito de Leonel Brizola que, também estudante pobre e esforçado, bateu às portas de alguns empresários de Porto Alegre, para financiar seus estudos universitários. O Brasil não era os Estados Unidos e os empresários riram na cara do moço Leonel, que teve de se desdobrar, para trabalhar, estudar e fazer política. Lula da Silva também pode passar o exemplo de Steve Jobs na cara das elites intelectuais que o fustigam e discriminam por não ter título universitário.
Steve Jobs virou um grande capitalista, aposentando seus sonhos igualitários, mas nem por isso deixou de ser um grande exemplo de vida, como mostram os vídeos que reproduzimos ao longo deste texto. Num deles, ao falar para os estudantes da Universidade de Stanford, também na Califórnia, ele os estimulou “a correrem atrás de seus sonhos, ouvindo o coração e descobrindo oportunidades onde menos se espera, principalmente nos reveses da vida”.
– Você precisa confiar em alguma coisa – seu Deus, destino, a vida ou o Karma. Seja o que for – ensina Jobs. Pois acreditar que os pontos (de conexão sua vida) se ligarão estrada afora dará a confiança de seguir o seu coração, mesmo que te leve longe do caminho esperado. E isso fará a diferença”.