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Crítica do filme "A Partida"

(Publicado originalmente em Seg, 15 de Junho de 2009 14:40)

Por Reynaldo Domingos Ferreira

Veja aqui o trailer.

Ganhador do Oscar, deste ano, de Melhor Filme de Língua Estrangeira, A Partida, de Yojiro Takita, é obra de imagens convencionais, mas de linguagem lírica, competentemente dirigida, que recorre a uma tradicional cerimônia fúnebre japonesa para mostrar, mesmo com certa ironia, como se deve, pela superação das perdas afetivas, valorizar cada momento da vida.

O roteiro, de Kundo Koyama, baseado no livro Coffinman: The Journal of a Buddhist, de Aoki Shinmon, embora esquemático, é rico em simbologia. É disso um exemplo a seqüência em que o protagonista Daigo Kobayashi (Masairo Motoki), estando às margens de um rio, nos arredores de Yamagata, sua terra natal, observa a persistência dos salmões em nadar contra a corrente até chegar ao encontro com a morte.

 Daigo moldou a sua personalidade pela do pai, Toshiki Kobayashi (Toru Mineghishi), que o incentivou, desde criança, a tocar violoncelo e a dar atenção às tradições japonesas, como a da compreensão de mensagens das pedras-cartas. Seus sonhos, porém, foram sempre alimentados pelo lado da música. Quando Kobayashi abandonou a família, a mãe de Daigo teve de montar um pequeno negócio para custear as despesas domésticas e educá-lo.

O filme se inicia em Tóquio, onde Daigo integra uma orquestra sinfônica em dificuldade, que acaba por ser dissolvida. Sem ter como pagar as dívidas, o músico vende o violoncelo e, tendo a concordância da mulher Mika (Riyoko Hirosue), decide retornar à sua cidade para morar na própria casa, vazia desde que sua mãe morrera, há algum tempo, sem que ele pudesse estar presente aos funerais.

A grande surpresa de Daigo, entretanto, acontece, quando ele descobre que o trabalho que lhe é oferecido, com pagamento de compensador salário antecipado, é o de assistente de um profissional, Shoei Sasaki (Tsutomu Yamasaki), preparador de cadáveres para o ritual familiar que antecede à cremação.

A direção de Takita é pródiga em criar elementos visuais para imprimir certo tom impressionista à narrativa, como o que se observa nas seqüências em que ele enclausura Daigo no estreito corredor de sua residência a fim de expressar o quanto a personagem se sente angustiada por não poder dizer à mulher, Mika, temendo reação desfavorável dela, qual é o tipo de trabalho a que se dedica.

Da mesma forma, Takita usa a imagem de Daigo tocando o seu violoncelo dos tempos de criança sobreposta à dos campos que circundam a sua região, captada pela lente de Takeshi Hamada, para simbolizar a tormentosa dúvida em que vive a personagem sobre o possível paradeiro do pai, cuja lembrança, ao decorrer do tempo, sob vários aspectos, por mais que negue, passou a atormentá-lo.

Para envolver mais o espectador na evolução do tema, difícil, pois que de caráter lúgubre, Takita não só soube dosar a narrativa com algumas situações cômicas, como conseguiu tirar proveito da magnífica trilha sonora de Joe Hisaishi, composta – além da bela canção-tema de sua autoria – de peças como o Hino à Alegria, da Nona Sinfonia, de Beethoven, com coro e orquestra, a Ave Maria, de Gounod, e o Wiegenlied, de Brahms, em solo de violoncelo.

Mais que tudo, porém, o elenco, estupendo, reunido por Takita, merece os louros por inúmeros prêmios conquistados pela película, principalmente o veterano Tsutomu Yamasaki, de muita categoria, e o jovem ator Masairo Motoki, que impressiona por seu perfeito domínio de jogo facial. Histriônico, Motoki se sai muito bem nas cenas cômicas e, nas dramáticas, usa os músculos da face com uma habilidade tal que não há como deixar de reconhecer nele um perfeito seguidor da arte de interpretar de Toshiro Mifune.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

FICHA TÉCNICA
A PARTIDA
OKURIBITO
Japão/2008
Duração – 130 minutos

Direção – Yojiro Takita
Roteiro – Kundo Koyama, inspirado no livro Coffinman: The Journal of a Buddhist, de Aoki Shinmon
Produção – Yojiro Takita
Fotografia – Takeshi Hamada
Música Original – Joe Isaishi
Edição – Akimasa Kawashima
Elenco – Masairo Motoki (Daigo Kobayashi), Tsutomu Yamasaki (Shoei Sasaki), Riyoko Hirosue (Mika Kobayashi), Toru Mineghishi (Toshiki Kobayashi), Kimiko Yo (Yuriko Uemura).

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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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