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Crítida do filme J. Edgar

Aos 81 anos, Clint Eastwood leva para a tela, por meio de linguagem magistral, incisiva e dura, a vida de Hoover, criador do FBI, uma das figuras mais poderosas e controversas da cena americana no século passado, em J. Edgar, que não precisa das premiações convencionais – Globo de Ouro e Oscar – para se perpetuar como um grande filme.

Com base no roteiro de Dustin Lance Black (Milk, 2008), a película, de natureza biográfica, ou seja, uma peça de ficção com base em fatos reais, abrange a trajetória de Hoover (Leonardo DiCaprio), apoiando-se em flashbacks (alguns de apenas uma tomada ), desde os 22 anos. Ele foi então designado o primeiro diretor do Federal Bureau of Invesgation (FBI), com sede em Washington, num edifício que, de forma merecida, ostenta o seu nome.

A narrativa, feita em off, por Leonardo DiCaprio – ao ditar para o agente Smith (Ed Westwick), as memórias de Hoover sobre a criação do FBI -, adverte, logo, ao início, que, quando ocorre o declínio moral e a inação dos homens de bem, o mal floresce, exatamente como aqui, nos tempos atuais. O narrador se refere aos fatos anteriores à década de vinte, quando bolcheviques e anarquistas, para comemorar o aniversário da Revolução Russa, iniciaram uma série de atentados a bomba, matando inúmeras pessoas em Chicago, e em várias cidades dos Estados Unidos.

Ao estruturar o FBI, Hoover, que teria ajudado antes a organizar a biblioteca do Congresso Americano, como ele explica, no local, à sua secretária Helen Gandy (Naomi Watts), procura criar, para dar vazão à sua necessidade doentia de ameaçar pessoas e de assumir poderes, dossiês secretos sobre negros, homossexuais e comunistas. De posse de um desses dossiês, ele vai ao procurador-geral, Robert F. Kennedy (Jeffrey Donavan) para revelar que tem conhecimento de relacionamentos homossexuais do presidente John F. Kennedy (vide, a propósito, Tempestade Sobre Washington, 1962, de Otto Preminger). Isso também ele sugere, mais adiante, em relação ao pastor Martin Luther King e ao presidente Richard Nixon.

É pois, sobre o relacionamento de Hoover – de amplo conhecimento entre os intelectuais da época – com o seu assistente Clyde Tolson (Armie Hammer), que mais se dá destaque no argumento de Lance Black. Em vista disso, Eastwood (que, embora não confesse, tinha lá suas secretas razões para realizar o filme), encontrou inéditas dificuldades a fim de obter o financiamento necessário, conforme admite. Mas o trabalho dele, que cobre longo período da história recente americana (1935-1972), é, no que diz respeito à ambientação, à trilha sonora ( de sua autoria) e à edição, vigoroso, dinâmico e contundente. Pode-se dizer, por sua harmonia visual, um clássico. E não seria exagero afirmar-se, resguardadas as devidas proporções: – É o Cidadão Kane, de Estwood!…

Para conseguir a perfeição formal da obra, Eastwood registra, pela fotografia de Tom Stern, os acontecimentos sob um ângulo escolhido de forma a compor a imagem real no sentido de humanizar ao máximo o protagonista, em sua luta interior, para assumir a identidade própria e se libertar do domínio da mãe, Anna Marie (Judi Dench). Desde a infância, ela lhe exige que se projete, como alguns de seus antepassados, na vida da nação – Não murches, como uma florzinha!… Sê forte. Sob esse aspecto, a sequência mais significativa, embora um tanto bizarra, mas extremamente bem interpretada por Leonardo DiCaprio, ajudado pela maquiagem, é a de Hoover diante de um armário, após o enterro da mãe, apossando-se de seu colar impositivo e do seu vestido de ver deus para recriar, nele, a imagem dela, refletida no espelho.

As atuações de Dench, como Anna Marie, e de DiCaprio, como Hoover, são memoráveis. Ambos se deram bem, atuando sob a orientação de Eastwood, que extrai interpretações, igualmente marcantes, de Armie Hammer, como Clyde Tolson, e de Naomi Watts, como Helen Gandy, apesar de, em alguns momentos, não estarem eles bem servidos pela maquiagem. O ator Jeffrey Donavan apresenta muita semelhança física com a personagem que interpreta de Robert F. Kennedy.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
J. EDGAR
EUA-2011
Duração – 137 minutos
Direção – Clint Eastwood
Roteiro – Dustin Lance Black
Produção –Clint Eastwood, Brian Grazer, Robert Lorenz
Fotografia – Tom Stern
Trilha Sonora – Clint Eastwood
Edição – Joel Cox e Gary D. Roach
Elenco – Leonardo DiCaprio (J. Edgar Hoover), Armie Hammer (Clyde Tolson), Naomi Watts (Helen Gandy), Judi Dench (Anna Marie), Jeffrey Donavan (Robert. F. Kennedy), Josh Lucas (Charles Lindbergh), Ed Westwick (agente Smith), Damon Herriman (Bruno Hauptman), Lea Thompson (Lela Rogers)

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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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