O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou esta tarde, após viagem a Cuba, onde se submeteu a uma tomografia generalizada, que terá de submeter-se a outra cirurgia por causa de uma lesão de dois centímetros, constatada na mesma região (no pélvis, segundo a informação oficial) da qual se operou em julho de 2011. Ele negou os rumores de que tivesse metástase ou que o câncer já tivesse atingido o fígado, como proclamam os rumores midiáticos:
“Desminto as informações que circulam na mídia de que tenho metástase no fígado. Não tenho metástase em nenhum órgão” afirmou, para depois ressaltar:”Estão inventando boatos sobre meu estado de saúde, para tentar criar a angústia, o desassossego, e, por esse meio, desestabilizar o país… Mas lamento informar ao povo venezuelano (que será obrigado a fazer uma nova cirurgia), pois sei que, assim como alguns se alegram, sei que a maioria sofrerá com isso”
Este fato novo poderá levar Chávez a refazer a campanha eleitoral, da qual foi indicado candidato à reeleição pelo governista PSUV, Partido Socialista Unido da Venezuela, de 5,7 milhões de filiados, à frente de uma coalizão de outros partidos menores. No pronunciamento de dez minutos que fez à nação (veja vídeo acima e íntegra abaixo), ele não se referiu diretamente à campanha presidencial da eleição de sete de outubro, mas disse que iria se reunir com os companheiros hoje e amanhã para decidir onde e quando deverá fazer a nova operação (se em Caracas ou em Havana), que, como frisou, terá de ocorrer nos próximos dias.
Veja aqui análise da Agência Reuters, de 22/02/12
É provável que, nesta ocasião, sejam discutidas suas condições físicas para manter a candidatura ou indicar um integrante da cúpula governista para sucedê-lo, permitindo assim que o presidente se afaste do pleito (ele ainda tem mandato constitucional até 2 de fevereiro de 2013) e comande as eleições numa situação mais cômoda, tanto a partir do Palácio Miraflores como da presidência do PSUV e do Movimento Bolivariano, de que é o titular.
A este respeito, Chávez parece ter dado alguma indicação nesse pronunciamento ao país, quando afirmou: “Que ninguém se alarme – eu diria que ninguém se alegre -, porque, independentemente do meu destino pessoal, esta revolução, como Bolívar disse um dia, tem seu impulso dado e ninguém e nada poderá detê-la”.
A indicação de outro candidato surge como a saída mais adequada, em face da incerteza, e agora da insegurança, quanto a seu estado de saúde, cuja gravidade poderá até ser superada, mas que não pode ser posta em risco numa batalha de vida ou de morte, aqui tanto no aspecto biológico quanto político.
Com efeito, a luta do presidente contra a doença poderá constituir-se inclusive num fator eleitoral mais positivo, na medida que o povo não só se sensibilize com o seu sofrimento como se engaje mais decididamente na defesa das conquistas que seu governo propiciou, votando no candidato por ele indicado.
A escolha do nome para ocupar lugar de Chávez na campanha eleitoral não deverá ser fácil, mas é sabida a autoridade e a influência de sua liderança na política venezuelana e também latino-americana. Ele conta com um círculo de companheiros e operadores que já demonstraram eficiência ao longo do seu período de convalescença desde julho.
Entre eles, destacam-se o chanceler Nicolás Maduro, seu companheiro desde o fracassado golpe militar de 1992. Maduro representou Chávez em todas as cúpulas e encontros bilaterais com presidentes latino-americanos. O atual vice-presidente executivo Elias Jaua, mais jovem (42 anos), um ex-líder estudantil chavista. Diosdado Cabello, militar da época do levante de 1992, atual presidente do Parlamento e vice-presidente quando Chávez foi deposto por 48 horas, em 2002. Diosdado, considerado forte candidato por ser militar (ele mandou uma esquadra para recolher Chávez da prisão, numa ilha próxima Caracas, em 2002) e foi recentemente escolhido a dedo pelo presidente para ser seu substituto (1o. vice-presidente) no PSUV. Corre por fora o irmão Adán Chávez, ex-ministro da Educação, ex-embaixador em Cuba e atual governador de Barinas, estado natal da família, mas de perfil discreto e pouco conhecido internacionalmente.
Chávez terá muito que mediar e meditar sobre o que fazer, de hoje para amanhã, pois, como adiantou, sua operação terá de ocorrer logo e, como se sabe, não há vácuo em política, pois alguém o estará preenchendo de um ou outro modo.
Veja também:
– Atualização: Vai mesmo operar-se em avana e a lesão pode ser cancerosa. Outros comentários de Chávez sobre seu estado (vídeo de 37 minutos)
Vídeo completo e texto sobre pronunciamento de Chávez, na Telesur
Doença de Chávez: Como de fazem as notícias