domingo, novembro 24, 2024
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Crítica do filme A Invenção de Hugo Cabret

É, no mínimo, surpreendente que um cineasta, como Martin Scorsese, cuja filmografia é voltada quase sempre para a violência e o baixo mundo de Nova York, tenha, aos setenta anos, realizado A Invenção de Hugo Cabret, uma obra tão sensível, destinada à juventude, mas , como se há de convir, pouco autêntica, visando a homenagear as origens do cinema.

A película, ganhadora de cinco Oscars da Academia, é baseada no livro homônimo, escrito e fartamente ilustrado por Brian Selznick, parente distante de David O. Selznick, produtor de E O Vento Levou. O roteiro de John Logan (O Aviador) procura fixar, em termos de linguagem cinematográfica, a característica da obra, que, segundo o autor, não é romance, não é história em quadrinhos, nem é o que os americanos chamam de graphic novel, mas a combinação de tudo isso, com o objetivo de divertir os adolescentes.

O que se tem é mais o perfil de algumas personagens, que povoam uma estação de trem, em Paris, ao início da década de trinta do século passado. A primeira dessas personagens é um garoto, Hugo Cabret (Asa Butterfield), de 12 anos, órfão, que, como hóspede indesejado, vive buscando refúgio nos lugares mais esconsos do edifício a fim de não ser identificado. Dotado da capacidade de lidar com engrenagens complicadas, pois é filho de relojoeiro (Jude Law), que morreu depois de lhe mostrar um andróide, por ele desenvolvido, de caneta na mão, aguardando o momento de escrever importante mensagem, ele cuida de manter em funcionamento o relógio da gare, e, nas horas vagas, tenta desvendar o mistério do robô.

A segunda personagem é Isabelle (Chloë Grace Moretz), também uma órfã – os filmes da época, principalmente os de Griffith, estavam cheios delas e deles -, adotada por Georges Méliès (Ben Kingsley), ilusionista e pioneiro do cinema francês, a quem chama de avô. Méliès tem uma loja de quinquilharias na estação. Isabelle, depois que descobre a maneira de viver de Hugo, fica encantada com os constantes desafios que ele enfrenta no dia a dia, e decide acompanhá-lo em todas as suas aventuras. Méliés, por sua vez, é casado com Mama Jeanna (Helen McCrory), antiga estrela de seus filmes, que esgotaram todas as suas economias e foram perdidos durante a I Guerra Mundial.

Outra personagem de destaque é o cruel Inspetor (Sacha Baron Cohen) da estação, que não dá trégua na perseguição a Hugo, por ele acusado de ser o responsável por vários furtos ocorridos no local. Para dar conta de sua missão, o Inspetor tem um cão maravilhoso, que fareja corrupção, digno, portanto, de ser solto, nesses nossos tempos, na Praça dos Três Podres Poderes de Brasília… Há ainda o professor René Tabard (Michael Stuhlbarg), cinéfilo e pesquisador inveterado, grande admirador da obra de Georges Méliès, que conseguiu recuperar algumas de suas películas perdidas. Apesar de contar com a colaboração de muitos técnicos, que atuaram com ele anteriormente, Scorsese não consegue imprimir na narrativa o seu estilo próprio, consagrado desde Taxi Driver ou Os Bons Companheiros. Assim, não são os mesmos os objetivos por ele buscados, em outros filmes, na composição de cada plano. Da mesma forma, não se identificam como sendo dele o movimento espacial, a tonalidade e o conteúdo emocional de cada cena. Sob esse aspecto tem-se, evidentemente, de considerar o uso, pela primeira vez, mas de maneira magistral, da câmara digital e da 3D.

O que realmente é notável no filme – isso reconhecido pela Academia de Hollywood, em sua premiação deste ano, uma das mais justas dos últimos tempos – é a magnífica fotografia de Robert Richardson, que recria, ao início, uma visão de sonho de Paris e a direção de arte, de Dante Ferretti, que planejou uma estação ferroviária dotada dos necessários meios labirínticos para situar a ação. As interpretações obedecem ao padrão vigente na época para que as personagens não destoem das que se veem nas imagens de arquivo das películas citadas de Buster Keaton, Harold Lloyd e outros. É, por isso, marcante o rigor na observância dessa padronização, o que coloca as atuações de Asa Butterfield (Hugo Cabret), Jude Law, (o Pai), Chloë Grace Moretz ( Isabelle), Ben Kingsley (Georges Méliès) e Helen McCrory ( Mamma Jeanna) no mesmo nível de destaque. John Depp, um dos produtores, aparece como condutor da banda da música da estação e, irreconhecível, Martin Scorsese é um fotógrafo.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
www.theresacatharinacampos.com
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FICHA TÉCNICA
A INVENÇÃO DE HUGO CABRET
THE INVENTION OF HUGO CABRET
EUA – 2011
Duração – 126 minutos
Direção – Martin Scorsese
Roteiro – John Logan com base no The Invention of Hugo Cabret, de Brian Selznick
Produção – Martin Scorsese, John Depp, Tim Headington e Graham King
Fotografia – Robert Richardson
Trilha Sonora – Howard Shore
Edição – Thelma Shoonmaker
Elenco – Ben Kingsley (Georges Méliès), Asa Butterfield ( Hugo Cabret), Jude Law (Pai), Chloë Grace Moretz (Isabelle), Helen McCrory (Mamma Jeanna), Michael Stuhlbarg (Rene Tabard), John Depp (Condutor da Banda de Música), Martin Scorsese (Fotógrafo)

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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