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Crítica do filme A Rebelião

Escrito, produzido, dirigido, interpretado e editado por Mathieu Kassovitz, A Rebelião (L´ordre et la Morale) é um thriller político, de muita ação, que narra a desastrosa e sangrenta ocupação militar da colônia francesa da Nova Caledônia, às vésperas da eleição presidencial, em 1988, a primeira depois daquela da Argélia, que, conforme a narrativa, poderia muito bem ser evitada.

 
O filme, que recebeu o prêmio dos Críticos Internacionais do Festival de Cinema de Toronto, Canadá, tem roteiro assinado por Kassovitz, em colaboração com Pierre Geller e Benoît Jaubert. É baseado no livro La Morale et l´Action, de Philippe Legorjus, capitão do GIGN (Grupo de Intervenção da Gendarmeria) na ocasião e, hoje, um bem-sucedido consultor de empresas.

O cenário é o de uma paradisíaca ilha, Ovea, na Nova Caledônia, arquipélago da Oceania, de pouco mais de 20 km de extensão e de menos de 1 km de largura, distante 22 mil km de Paris. O relato dos fatos é feito por Legorjus (Mathieu Kassovits) num tom de voz grave, reflexivo, dramático, a lembrar o do narrador de Além da Linha Vermelha (1998), o clássico de guerra, de Terrence Malick.
As imagens, de Marck Konincksx, são as da chegada à possessão francesa de sucessivos helicópteros que, em voos rasantes, como os de Apocalipse Now (1979), de Francis Ford Coppola – do qual há mesmo a citação de uma sequência -, trazem a bordo não só os gendarmes comandados por Legorjus, especializados em guerrilha, mas, para surpresa dele, também trezentos soldados do Exército, sob o comando do general-de-brigada Vidal (Philippe de Jacquelin Dulphé).
Mais estupefato fica ainda Legorjus ao tomar conhecimento da interferência direta do primeiro-ministro, querendo solução rápida do conflito com a liberação dos reféns, antes da data do segundo turno das eleições presidenciais. Nelas se empenhavam Jacques Chirac e François Miterrand, que aparecem, numa reconstituição contundente, em imagem de arquivo, no último debate televisivo.
Submetido às determinações do general Vidal, Legorjus obtém o prazo de dez dias para tentar, por meio de negociações, auxiliadas por nativos e por um promotor Jean Biaconi (Alexandre Steiger), conseguir do chefe dos insurretos Alphonse Dianou (Iabe Lapacas) a rendição de seu bando de miseráveis propugnadores da independência da ilha, por meios pacíficos, e a consequente liberação dos reféns, presos sob uma rocha subterrânea.
O argumento trata, como se pode verificar, da violência, seja a do ataque frio e premeditado dos rebeldes ao posto policial de Iayaoué, que, além dos reféns, fez várias vítimas, seja a do assalto dos soldados do exército à grota, onde eles montaram seu esconderijo, do que resultaram 29 mortos. Foi um banho de sangue, determinado por Chirac – o mesmo que mandou realizar testes nucleares na Polinésia -, que, em absoluto, não precisava acontecer. O discurso do trabalho do polonês Kassovitz é, portanto, contra a violência. Isso fica muito claro. Não há gente boa na história, embora a natureza em volta seja majestosa.
O que fica em dúvida, em relação ao roteiro, é o desempenho da imprensa, que, por mais oficiosa que seja a da França, como a nossa, não precisava ser tão omissa quanto é mostrada na película. De fato, os jornalistas são mantidos à distância dos acontecimentos, aboletados no hotel de uma rede de luxo, à beira mar, sem que nenhum deles tenha sequer tentado entrevistar os rebeldes. As informações lhes são fornecidas, filtradas, naturalmente, pelo capitão Legorjus, que, por sua vez, não soube tirar proveito, como deveria saber, do noticiário jornalístico como força de pressão a ajudá-lo em suas negociações de paz. Deve estar implícito aí, segundo se depreende, o reconhecimento da incompetência de ambas as partes.
Kassovitz – de filmografia extensa, de ator e de diretor -, por meio de eficiente composição de planos, de uma trilha sonora excepcional de Klaus Badelt e de um trabalho de edição exemplar, impõe um ritmo intenso, mas equilibrado, tanto nas discussões, que têm lugar nas salas de reuniões ou nos gabinetes, como as que se realizam no meio da densa floresta que encobre a grota em que se abrigam os rebeldes. Deve-se ressaltar também o seu magnífico trabalho de preparação do elenco, constituído em grande parte por amadores, habitantes da ilha, liderados por Iabe Lapacas, de presença marcante, como intérprete de Alphonse Dianou, chefe dos rebeldes.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
www.roteirobrasilia.com.br
www.theresacatharinacampos
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www.cafenapolitica.com.br
FICHA TÉCNICA
A REBELIÃO
L´ORDRE ET LA MORALE
França – 2011
Duração -136 minutos
Direção – Mathieu Kassovitz
Roteiro – Mathieu Kassovitz, Benoît Jaubert e Pierre Geller, com base no livro La Morale et l´Action, de Philippe Legorjus
Produção – Mathieu Kassovitz, Christophe Rossignon
Fotografia – Marck Koninckz
Trilha Sonora – Klaus Bladelt
Edição – Mathieu Kassovitz, Lionel Devuyst, Thomas Beard
Elenco –Mathieu Kassovitz (Philippe Legorjus), Iabe Lapacas (Alphonse Dianou), Alexandre Steiger (Jean Biaconi), Philippe de Jacquelin Dulphé (gneral Vidal), Philippe Torreton (Christian Prouteau), Sylvie Testoud (Chantal Legorjus), Steve Une (Samy).

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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