sábado, novembro 23, 2024
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Crítica do filme Gonzaga – de Pai para Filho

O que mais impressiona em Gonzaga – De Pai Para Filho, de Breno Silveira, que narra a história do cantor e compositor Luís Gonzaga, é a brilhante atuação de Júlio Andrade, no papel de um dos dois protagonistas, o também cantor e compositor Gonzaguinha, com quem o ator guarda semelhança física extraordinária.

O filme, orçado em R$ 12 milhões, foi o escolhido para a sessão de abertura do Festival do Rio deste ano. O argumento  tem como fio condutor uma conversa gravada, entre pai (Adelio Lima) e filho (Júlio Andrade), durante o reencontro deles, depois de longo afastamento mútuo, em Exu (Pernambuco), ao início dos anos de 1980, no sítio do primeiro, amplamente conhecido em sua região natal e no país, como o Rei do Baião.

Naquela circunstância, o compositor de Asa Branca, que conhecera o sucesso na década de cinquenta, passava por dificuldades. Ele amargava o ostracismo à causa do seu posicionamento político, jamais negado, enquanto o filho, promovido pela esquerda, mobilizava multidões para os seus shows, ganhando até capa de revista. O diálogo, conflituoso, entre duas personalidades diferentes, ambas controversas,  começa tenso pela cobrança de Gonzaguinha de lhe haver faltado, da parte do pai, mais presença e carinho nos tempos de sua infância:

Sempre ausente, o senhor só me mandava dinheiro!…

É essa a oportunidade para que o sanfoneiro, que estaria completando cem anos,  lembre ao filho, até com bom humor em algumas passagens, como foi a sua luta para se firmar no panorama artístico nacional com a sua música de linha melódica e rítmica essencialmente nordestina.  Ainda muito jovem (Land Vieira) – 1929 -, Luís se apaixona por uma vizinha, filha de um coronel. Ameaçado  por ele de morte, tem de fugir de Exu, numa madrugada, indo direto para Fortaleza (Ceará), onde, para sobreviver e mandar dinheiro para a família, se alista no exército, embora contrariando o pai, Januário (Claudio Jaborandy), que não o queria ver lutando como soldado.

Passada a Revolução de 1930, da qual não participou, Luís (Nivaldo Expedito de Carvalho) foi para o Rio de Janeiro, onde começou a batalhar a vida, no passeio público, tocando acordeão com o violinista Xavier (Luciano Quirino) que, casado com Dina (Silvia Buarque), o leva a morar em sua casa, no Morro de São Carlos. O roteiro de Patricia Andrade, de falhas e de omissões, não esclarece como, tendo ele desfeito a parceria,  continuou morando com Xavier e a mulher e, mais tarde, levou o filho (Giancarlo di Tomazzio) para o casal –  ele e ela, padrinhos – criar, após a morte da mãe, Odaléia (Nanda Costa),uma  dançarina de gafieira, que conhecera  no Rio.

Ao longo do tempo, amaina o tom da prosa entre pai e filho, que então tem lugar junto a um juazeiro, em frente à fazenda que fora do coronel, no qual ele gravara as letras iniciais de seu nome e a da primeira namorada, que se casou com homem rico da cidade, segundo lhe informa a mãe, Santana (Cyria Coentro).  Todas essas recordações de Luís continuam sendo por ele ditas e gravadas pelo filho sob a pontuação de suas  músicas e de outras, marcantes da época, de Zequinha de Abreu,  de Noel Rosa,  de Nelson Gonçalves, de Lamartine Babo e de um aparentemente destoante tema original de Gilberto Gil, que integram a trilha sonora de Berna Ceppas.

A direção de Breno Silveira, de bom manejo da linguagem cinematográfica  – note-se a sábia  movimentação de câmera na captação da cena da mais acerba discussão, entre Gonzagão e Gonzaguinha, tendo a intensidade da luz do sol ao fundo que, depois, aos poucos, se atenua, quando os ânimos se acalmam –, é voltada, visando a bilheteria, para a enganosa retórica do emocionalismo.

Se há deslizes na ambientação, na reconstituição de época e na trilha sonora,  é na parte do visual – produzida pela  esmerada fotografia  de Adrian Tajildo  – e das interpretações, preparadas por Sergio Penna, que se encontram os melhores resultados obtidos por Silveira em seu trabalho.  A  começar naturalmente pela caracterização de Gonzaguinha, feita por Júlio Andrade (Cão Sem Dono), que, além de ter a identidade física, parece reproduzir, à perfeição, até as radiações espirituais da personagem. Não se pode também deixar de destacar a participação de João Miguel (Xingu), que, numa ponta, a do emissário na contratação dos serviços de Luís como sanfoneiro de uma festa, ilumina todo o filme. E quase o mesmo se pode afirmar do estreante Nivaldo Expedito de Carvalho (Chambinho), que recheia de calor e de vibração a imponente figura de Luís Gonzaga na fase áurea de sua carreira.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

ROTEIRO, Brasília, Revista

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FICHA TÉCNICA

GONZAGA – DE PAI PARA FILHO

Brasil – 2011

Duração – 120 minutos

Direção – Breno Silveira

Roteiro – Patrícia Andrade

Produção – Breno Silveira, Márcia Braga, Eliana Soárez

Fotografia – Adrian Taljido

Trilha Sonora – Berna Ceppas

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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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