Por FC Leie Filho
A CELAC (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos) abre amanhã sua segunda cúpula de chefes de Estado prestigiada pelo esforço de integração dos presidentes das 33 nações do continente, que decidiram, eles mesmos, sem a tutelagem dos Estados Unidos, resolver seus próprios problemas.
Inauguração do Porto de Mariel, por Dilma e Raul Castro
Por esta postura soberana, a CELAC, fundada em 2010, no México, três anos depois da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), outra obra dos presidentes progressistas, conseguiu multiplicar o intercâmbio comercial e econômico, que, quando menos, funcionou para amortecer as crises financeiras das grandes potências. Antes, nossos países, por dependerem excessivamente dos norte-americanos e europeus, eram obrigados a seguir receitas amargas que logo se traduziam na contenção do crédito, no arrocho salarial, no desemprego e na recessão, como são exemplos as crise de 1987, 1995 e 1998.
Encontro de Cristina Kirchner com Fidel
Esta cúpula da CELAC ainda vem carregada de simbolismo porque se realiza em Cuba, em pleno aniversário de nascimento do herói José Martí, e sob os auspícios dos cubanos, nação que foi expulsa, em 1962, da comunidade latino-americana, por exigência dos Estados Unidos. Estes controlavam a OEA (Organização dos Estados Americanos, com sede ao lado da Casa Branca, em Washington). O crime de Cuba: ter optado pelo regime socialista de governo, não obstante o direito de autodeterminação de cada povo, consagrado pela Carta das Nações Unidas (ONU) e da própria OEA.
Cuba, que passará a presidência rotativa do organismo à Costa Rica, depois de um ano de tê-la recebido do Chile, terá ainda o orgulho de apresentar a seus confrades os avanços de suas reformas econômicas, que já propiciaram a modernização do regime e de sua capital Havana, agora mais bonita e acolhedora, juntamente com seu poderoso novo Porto de Mariel, financiado pelo Brasil.
Mas longe de uma política de confronto, a CELAC, não obstante as decisões soberanas que pretende adorar, como o combate ao colonialismo, abordando diretamente a questão de porto Rico, ao bloqueio estadunidense a Cuba e da ocupação pela Inglaterra das ilhas Argentinas Malvinas, tal cúpula receberá, como convidados, os secretários-gerais da ONU, Ban Ki-moon, e da OEA, José Miguel Inzulsa (este a primeira vez que aporta em Havana, desde o banimento do país, há 52 anos).
Sua missão é de ocupar um espaço exclusivamente político, apropriado para consultas, troca de informações e iniciativas conjuntas, decididas sempre por consenso. Suas deliberações são encaminhadas em reuniões preparatórias, iniciadas no domingo, 26, com os coordenadores nacionais, depois repassadas aos chanceleres, que se encontram hoje, e as submeterão aos chefes de Estado na cúpula que se inicia amanhã e termina na quarta, 29/01/14.
Ao chegar a Cuba, Ban Ki-moon se disse interessado em observar as mudanças que ocorrem na ilha e como a ONU pode dar apoio. “Estou muito interessado no processo de mudança que está acontecendo em Cuba e, por isso, tenho muito interesse em conhecer o que está sendo feito e como as Nações Unidas podem apoiar esse processo”, explicou o secretário-geral, em uma breve declaração no aeroporto do país.
O secretário-geral falou também do interesse em escutar, durante a participação no encontro, a opinião dos líderes latino-americanos e caribenhos em temas como paz e segurança, direitos humanos e desenvolvimento sustentável. Ele confirmou que se reunirá com o presidente cubano, Raul Castro, ministros e outras autoridades.
O centro das preocupações da CELAC será o combate à pobreza e ao analfabetismo, que ainda afetam dramaticamente a região, mas tudo será feito com vistas a mair soberania e independência, ainda que obedecendo à diversidade dos modelos políticos, econIomicos e sociais de cada país.
Os chanceleres já receberam um esboço de declaração de 80 pontos, redigida no sábado e domingo pelos coordenadores nacionais, tomando como base o respeito aos modelos respectivos de cada um dos 33 países, e de forma a garantir o desenvolvimento dos povos e a unificação de esforços, solidariedade, equidade, igualdade de oportunidades, sempre tendo em vista a diversificação.
Apesar desse espírito ecumênico, a CELAC deixará claro que não mais admitirá a exclusão de Cuba das Cúpulas das Américas, outro fórum influenciado pelos estadunidenses, organizado pela OEA, e cuja última edição ocorreu, em 2012, em Cartagena, na Colômbia. Na ocasião muitos países não compareceram, o que resultou num sério esvaziamento. a próxima Cúpula das Américas (os 33 países latino-americanos e Estados Unidos e Canadá) se reunirá em 2015, na cidade do Panamá.