sábado, novembro 23, 2024
InícioAmérica LatinaA Argentina enfrenta os abutres da dívida

A Argentina enfrenta os abutres da dívida

Por Helena Iono
Na reunião de Cúpula do G77 + China realizada entre 14 e 15 de junho, em Santa Cruz, na Bolivia, houve uma intervenção importante de Cristina Kirchner, com contundente acolhida de seus pares. Nela, a presidenta repudia o enorme dano causado pelo grande capital especulativo financeiro na reestruturação da dívida soberana dos países.
Isso se deu 1 dia antes do respaldo da Corte Suprema dos EUA, à sentença do juiz Thomas Griesa, de 84 anos, obrigando a Argentina pagar até o dia 30 de junho os especuladores dos chamados Fundos Abutres (buitres), que são os 7% dos credores que não aceitaram restruturar a dívida em 2005 e 2010, como fizeram os restantes 93 %. Isto é, são aqueles como o NML que compraram em 2008 os chamados títulos podres (basura), quando o país se encontrava em crise profunda, como consequência do neoliberalismo do período anterior de Carlos Menem, e ministros da economia como Domingos Cavallo.
Em 2001, a dívida chegou a 160% do PIB. Os títulos podres foram comprados em 2008 pelos fundos abutres à razão de 48,7 milhões de dólares, preço agora inflado por juros astronômicos, que lhe15s dão um lucro de 1608%, num valor equivalente a 15 bilhões de dólares. Os outros 93% são aqueles que aceitaram a reestruturação e firmaram contratos de menor valor e juros aceitáveis. A pressão que vem de Nova York é de que diante da dificuldade a Argentina não pagasse nada, e que caísse na situação em que fosse declarado o chamado “default técnico” envolvendo-a numa situação político-judicial.
Cristina Kirchner, apoiada no ministro da economia, Axel Kicillof declarou que a Argentina cumprirá a dívida com os credores (os 93%), mas não aceitará extorsão (referindo-se aos especuladores dos Fundos Abutres).
Por isso, solicitou a anulação da sentença judicial de Nova York onde se realizam os pagamentos, o que foi recusado. Para agravar o aperto ao país vizinho, a Corte de novaiorquina ameaçava embargar o depósito enviado pela Argentina como pagamento aos credores não abutres.
Com efeito, no dia 26, o governo argentino enviou 832 milhões de dólares, cumprindo com o contrato com seus 93% de credores, com vencimento de dívida até dia 30, mas esperando negociação posterior sobre os 7% em litígio, com respaldo do judiciário norte-americano. Porém, a estas alturas, o juiz Griesa, não embargou esse dinheiro, mas está impedindo que o Banco de N. York efetue aquele pagamento aos credores.

Já antes, a presidenta havia denunciado que “qualquer conduta que pretenda impedir este pagamento aos nossos credores constitui uma violação da ordem jurídica do direito público internacional”. Este proíbe a coerção a outros Estados em virtude da igualdade soberana, cláusula vigente também nos EUA.”
E comparou que esta “ação ilegal” é como o embargo à Fragata Libertad, ou às 900 ações levadas a efeito em diferentes lugares e países, promovendo a exploração anormal, perversa e extorsiva de um grupo minúsculo de credores em relação a um país soberano.” Ela tem insistido em que pagará a dívida, mas não às custas da soberania nacional, e da redução dos projetos sociais que beneficiam amplos setores da população. Certamente, o debate já gira não só em torno de como pagar a dívida, mas sobre quem a gerou, nominalmente, o atrozes mecanismos do capitalismo selvagem, mais conhecido como neoliberalismo.

A reação popular não demorou. Mobilizações têm sido registradas em várias partes do país, na maioria comandadas pelos movimentos sociais, como La Cámpora, Agrupação Evita, Unidos e Organizados, protestando contra a ilegalidade da sentença do juiz Griesa. No Parlamento, a maioria apoiou a ação governamental.
(Vejam vários rechaços a Griesa no http://www.pagina12.com.ar/diario/economia/2-249621-2014-06-28.html

Interessante ver que na Argentina, a presidenta se apoia na TV Pública, e na transmissão em cadeia nacional para explicar didaticamente à população o que significam estas operações especulativas dos “Fundos abutres” e como elas afetam de forma destrutiva a economia do país.
Da mesma forma, o têm feito o ministro da economia, Axel Kiciloff. Enquanto isso, Jorge Capitanich, chefe de Gabinete de Ministros, concede entrevista coletiva, diariamente à primeira hora da manhã, à imprensa sobre as medidas econômicas do governo.
São todos membros do FPV (Frente para a Vitória). Sem contar que os jornais populares gratuitos distribuídos tradicionais no metrô, como “El Argentino”, ou outros como “Página 12” e “El Tiempo Argentino”. Eles sustentam a posição governista contra a guerra mídia hegemônica, tendo à frente os jornais “Clarin” e “La Nación” que atuam de forma lesiva, como sempre, apesar de estar em plena vigência a “Lei da Mídia”, destinada a coibir os abusos dos grupos econômicos que os sustentam.

No plano internacional, a Argentina recebeu apoio contundente da Unasul, Mercosul, dos G77 + China, de países como a França, o México e agora o Brasil. O embaixador Antônio Patriota pronunciou contundente discurso na ONU de apoio à Argentina, quando qualificou a sentença judicial da Corte dos EUA como respaldo legal a um “comportamento irresponsável, especulativo e moralmente questionável” dos fundos de investimento.

A Argentina, com Cristina Kirchner, deu um chute na bola para que o tema fortaleça a unidade anti-imperialista contra o grande capital financeiro, e que medidas como o Banco do Sul, novas moedas alternativas ao dólar, como o Sucre, da ALBA,tomem corpo em reuniões como a dos BRICs (Bloco de países que reúne Brasil, Rússia, Índia,China e África do Sul), convocada para Fortaleza, Ceará, nos dias 14 e 15 de julho. Dela, muito a propósito, participará a presidenta Cristina Kirchner, atendendo a convite especial do presidente russo Vladimir Putin.
Finalmente, A recente oficialização do Banco do Sul (um dos legados de Hugo Chávez), em recente reunião no Equador, criado com 7 bilhões de dólares, o Banco do BRICs, da Russia-China e Irã, são excelentes instrumentos para a desdolarização da economia e para a nova unidade soberana dos povos do mundo.

H.I. é jornalista e produtora da TV cidade Livre de Brasília, Canal 12 da NET.
Veja ainda:
O jornalismo abutre de o Globo
29/06/2014

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
RELATED ARTICLES

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Most Popular

Recent Comments

PAULO ROBERTO DOS ANJOS OLIVEIRA on Próximo factoide: a prisão do Lula
cleonice pompilio ferreira on Golpe de 64: quando Kennedy chamou os militares
José rainha stedile lula da Silva Chávez on Projeto ditatorial de Macri já é emparedado nas ruas
maria teresa gonzalez perez on Crise e impasse institucional
maria teresa gonzalez perez on La Plata: formando um novo tipo de jornalista
maria teresa gonzalez perez on Maduro prepara Venezuela para a guerra civil
maria teresa gonzalez perez on Momentos emocionantes da apuração do 2o. turno
Pia Torres on Crítica do filme Argo
n_a_oliveira@hotmail.com on O que disse Lula a Mino Carta, meus destaques
José Gilbert Arruda Martins on Privatizações, novo filme de Sílvio Tendler
Maria Amélia dos Santos on Governador denuncia golpe em eleição
Prada outlet uk online on Kennedy e seu assassinato há 50 anos
http://www.barakaventures.com/buy-cheap-nba-indiana-pacers-iphone-5s-5-case-online/ on Oliver Stone em dois documentários sobre Chávez
marcos andré seraphini barcellos on Videoentrevista: Calos Lupi fala do “Volta Lula”
carlos gonçalves trez on Crítica do filme O Artista
miriam bigio on E o Brasil descobre o Oman
Rosana Gualda Sanches on Dez anos sem Darcy Ribeiro
leitefo on O Blogueiro
Suzana Munhoz on O Blogueiro
hamid amini on As razões do Irã
leitefo on O Blogueiro
JOSÉ CARLOS WERNECK on O Blogueiro
emidio cavalcanti on Entrevista com Hermano Alves
Sergio Rubem Coutinho Corrêa on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
Stephanie - Editora Saraiva on Lançamento: Existe vida sem poesia?
Mércia Fabiana Regis Dias on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Nielsen Nunes de Carvalho on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Rosivaldo Alves Pereira on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
filadelfo borges de lima on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola