Em nova carta ao presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, o politólogo Luiz Alberto Moniz Bandeira voltou a expressar preocupação com o quadro sucessório brasileiro, ao alertar para a interferência da “Open Society Foundation, do magnata George Soros, a New Endowment for Democracy ou a própria USAID, entre ONGs, que assumiram a função de promover regime change e patrocinaram as demonstrações da chamada Primavera Árabe e na praça Maidan, em Kiev, Ucrânia”, pois estariam por trás da candidatura da ex-senadora Marina Silva à presidência da República.
“Também constituem fatos as declarações da Sra. Marina Silva, em favor da privatização do Banco Central, contra o Mercosul, de interferência nos assuntos internos de Cuba, contrariando as linhas da política exterior do Brasil e, inter alia, de realinhamento com as diretrizes de Washington. Elas não são compatíveis com as tradicionais linhas ideológicas do PSB, do qual fui membro antes do golpe militar de 1964”, ressalta Moniz Bandeira.
Na resposta à primeira carta de Moniz, o professor Roberto Amaral assegurou: “O PSB não abandonará o embate contra as desigualdades sociais, pela reforma agrária, pela defesa do meio-ambiente, pelo domínio de novas tecnologias, pela ampliação e melhoria do sistema de ensino e pela segurança do cidadão; não renunciará à luta pelos grandes projetos estratégicos, sejam os de infraestrutura para o desenvolvimento social e econômico, sejam os que darão suporte ao seu papel como ator global. Aqui me refiro, inclusive, às iniciativas que respaldarão militarmente a política externa soberana e à aproximação com nossos irmãos africanos e latino-americanos (veja íntegra no final deste post).
Clique aqui para primeira carta de Moniz a Amaral
Prezado Professor Roberto Amaral:
Rogo-lhe que, por favor, não tergiverse.
Não mais se trata de premonição, mas de fato. Algo que previ (não sabia o que), a partir de alguns acontecimentos e circunstâncias, e confirmou-se, infelizmente, sob a forma de um desastre de avião, acidental ou não. Nada se pode afirmar, mas tudo se pode supor. No caso, tudo é possível.
A Sra. Marina Silva, que tinha um percentual maior de intenções de voto, tornou-se assim a candidata à presidência do Brasil, na legenda do PSB, que a abrigou.
Desde meus 15/16 estive envolvido nos meios políticos, trabalhei sempre nessa área, em vários jornais, e a partir do início de 1960, quando tinha apenas 24 anos e a completar os estudos de Direito, desempenhei a função de editor e analista político do Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, até o golpe de 1964, após o qual asilei-me no Uruguai juntamente com o presidente João Goulart e centenas de outros .
Em tais circunstâncias, com a experiência de militância contra a ditadura, que me levou a passar dez anos de minha vida entre exilado, clandestino, semiclandestino e preso (dois anos) pelo CENIMAR, de cujo pelotão participava um americano, bem como com o conhecimento da realidade internacional, o que previ foi a possibilidade de que algo (não imaginava o que) pudesse incapacitar o governador Eduardo Campos, cuja candidatura me parecia inviável, e que eventualmente a Sra. Marina Silva assumisse a cabeça da chapa.
Prezado Prof. Roberto Amaral, não se trata de simples premonição, mas um raciocínio de um cientista político, com vasta experiência e conhecimento dos bastidores da história, diante de fatos. O Sr., como um homem honrado, socialista, concorda com as declarações da Sra. Marina Silva sobre a privatização do Banco Central, ingerência em Cuba e afastamento da China etc. ?
Cordialmente e com todo o respeito,
Prof. Dr. Dres. h.c. Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira
E aconteceu.
A Sra. Marina já havia disputado da eleição de 2010 e obtivera uma expressiva quantidade de votos. Novamente, nas pesquisas para o pleito desse ano, 2014, manteve um percentual de intenções de voto superior ao do governador Aécio Neves, para o qual não se vislumbrava perspectiva de vitória. Daí é possível inferir que ela se tornou a esperança das forças mais conservadoras do país, acobertada pela histórica legenda do PSB.
É fato que a Sra. Marina Silva acervou em três anos R$ 1,6 milhão (um milhão e seiscentos mil reais), apenas com conferências, e se recusa a revelar a fontes que tanto lhes pagaram, alegando exigência de confidencialidade, conforme a Folha de São Paulo noticiou.
Por que a confidencialidade? As fontes não constam de suas declarações anuais de imposto de renda? Por que não as revela publicamente, como requereu a Folha de São Paulo? É estranho.
O segredo induz à desconfiança de que algumas das fontes possam ser a Open Society Foundation, do magnata George Soros, a New Endowment for Democracy ou a própria USAID, entre ONGs, que assumiram a função de promover regime change e patrocinaram as demonstrações da chamada Primavera Árabe e na praça Maidan, em Kiev, Ucrânia.
Tudo se pode imaginar.
Também constituem fatos as declarações da Sra. Marina Silva, em favor da privatização do Banco Central, contra o Mercosul, de interferência nos assuntos internos de Cuba, contrariando as linhas da política exterior do Brasil e, inter alia, de realinhamento com as diretrizes de Washington. Elas não são compatíveis com as tradicionais linhas ideológicas do PSB, do qual fui membro antes do golpe militar de 1964.
A segunda carta de Moniz Bandeira a Roberto Amaral (em seguida, vem o texto completo de Roberto Amaral)
Confome consta no texto da entrevista que concedeu à Associated Press e publicada pelo jornal Latin Post, em 18 de setembro de 2014, as relações do Brasil com “Cuba, China, Iran and Venezuela may see a different focus if Silva becomes president”, o que significa que o país se submeterá às diretrizes Washington.
Não sem motivo Michael Shifter, presidente da entidade Inter-American Dialogue, com sede em Washinton, declarou: “If elected, she has such a remarkable personal story that she’d come to the presidency with a lot of legitimacy, tremendous excitement and high expectations”.
O Brasil é um dos fundadores do banco dos BRICS, cujo objetivo é criar um novo sistema financeiro e sair da área de predominância do dólar, como fiat currency, única moeda internacional de reserva, com qual se processam mais de 60% ou 7% das transações de óleo e gás, o alicerce da hegemonia política e militar dos Estados Unidos, que somente Federal Reserve Bank, em Washington, pode imprimir.
Como o key-country da América do Sul, o Brasil, por conseguinte, configura um campo da batalha da nova guerra fria e daí a necessidade de regime change, por via eleitoral, após as demonstrações de junho de 2013 e outras, que tão espontâneas certamente não foram, embora justas causas e razões houvesse, mas desde muitas décadas antes.
Por fim, não se pode descartar a forte probabilidade de que Sra. Marina Silva, se eleita, renuncie à produção de urânio enriquecido, para concorrer no mercado internacional, ao programa do submarino nuclear e de rearmamento das Forças Amadas do Brasil, de modo a recompor suas relações com os Estados Unidos.
Carta de Amaral a Moniz
Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2014
Estimado professor Moniz Bandeira
Respondo à sua carta-aberta, enviada de seu privilegiado posto de observação em St. Leon-Rot, Alemanha. Devo-lhe respeito e admiração. Acompanho sua produção literária. Dela é devedor nosso país. Considero sua liberdade e independência intelectuais, de “livre pensador”, condição que não posso arguir. Militante engajado, tenho compromissos com projetos, ideias e valores expressos em programa partidário que não pode ser alterado ao sabor de especulações como a de que a queda de uma aeronave resultou de conspiração estrangeira. Tampouco posso guiar-me por “premonições”. A famosa ‘realidade objetiva’ não me permite. O processo político-partidário, mesmo sem o “centralismo democrático”, impõe limites ao millordiano “livre pensar é só pensar”.
Certamente, o professor ainda admira aquele autor que escreveu: “Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem, não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”. Caminhei, da juventude no antigo PCB, para, na maturidade, refundar o PSB ao lado de Antônio Houaiss, Jamil Haddad e, a partir de 1990, Miguel Arraes. Construímos permanentemente, no Partido, pontes para o futuro.
O PSB não abandonará o embate contra as desigualdades sociais, pela reforma agrária, pela defesa do meio-ambiente, pelo domínio de novas tecnologias, pela ampliação e melhoria do sistema de ensino e pela segurança do cidadão; não renunciará à luta pelos grandes projetos estratégicos, sejam os de infraestrutura para o desenvolvimento social e econômico, sejam os que darão suporte ao seu papel como ator global. Aqui me refiro, inclusive, às iniciativas que respaldarão militarmente a política externa soberana e à aproximação com nossos irmãos africanos e latino-americanos.
O PSB não arrefecerá seu compromisso de atuar como protagonista na construção da nação brasileira e não fará concessões aos desvios do patrimônio público. Renunciaria, ai sim, à presidência do PSB caso essas proposições fossem abandonadas. No calor de campanhas eleitorais sobram boatos e acusações sem eira nem beira. Eleições passam, professor, o país fica; o processo histórico segue sua marcha, a política sobrevive, os partidos ficam. Alguns, com ideários descaracterizados; outros, mais apegados aos seus princípios. Como dirigente do PSB, cabe-me zelar pelo cumprimento de nossos compromissos programáticos, observada a realidade objetiva. É o que farei. Mancharia minha biografia se, acossado por premonições e pela libertinagem do “livre pensar”, optasse pela cômoda retirada nesse momento tão rico da construção da democracia brasileira.
Com apreço, Roberto Amaral Presidente do Partido Socialista Brasileiro