domingo, novembro 24, 2024
InícioAmérica LatinaEncontro de Mujica com Fidel: de que eles trataram mesmo?

Encontro de Mujica com Fidel: de que eles trataram mesmo?

FC Leite Filho
Me pergunto o que trataram Fidel Castro e Pepe Mujica, à parte a revelada preocupação com o vírus Zika, no recente encontro, em Havana. Os dois vetustos líderes, antigos guerrilheiros- Fidel a caminho de fechar os 90 anos de idade, em 13 de agosto, e Pepe, que já completou 80 – são ambos dotados de extraordinários acervos para a análise. Minha inquietação se justifica pelas arremetidas ao projeto popular de integração latino-americana, abalado pelas duas últimas eleições na Argentina e Venezuela, e a campanha insidiosa de desestabilização de Dilma Rousseff, no Brasil.

Certamente, nem um nem outro acredita que vivamos o fim de um ciclo, porque, homens de pé no chão e de respeitável discernimento, ainda que de estilos e óticas diferentes, acreditam na consistência das conquistas que cultivaram desde a juventude, mas que só puderam viabilizar-se-se, fora de Cuba, com o advento de Hugo Chávez, em 1999. Nada foi dito a respeito, mas é óbvio que Fidel, assim como Pepe, focaram sua troca de ideias na irrupção direitista na Argentina, que passando por cima da lei, do Congresso e do próprio presidente Maurício Macri, faz uma política de terra arrasada, esmagando o processo de inclusão social, como a proteção aos salários e pensões dos aposentados, a democratização do ensino e da saúde, e de defesa da economia, pacientemente construído nos 12 anos de governo de Néstor e Cristina Kirchner.

Macri, um líder fabricado nos mais sofisticados laboratórios de propaganda, não se peja em se esmerar no seu papel de mero joguete, o que ficou demonstrado desde a formação de seu ministério, antes da posse em 10 de dezembro. Ali, já se deixou dominar por ministros e superministros, na grande maioria CEOS de transnacionais como JP Morgan, Shell, IBM, Telecom Itália e chefes das chamadas patronais agrárias. Parece que recebe tudo pronto lá de cima e não dá a mínima para inteirar-se do que ocorre em seu redor. Pelo contrário, em um mês no cargo, já tirou férias de 10 dias e um “repouso médico” não especificado.

Na Venezuela, onde a liderança do presidente Nicolás Maduro e a orgânica militância construída pelo chavismo têm conseguido até aqui conter a nova maioria da direita no Parlamento, preparada que estava para assaltar os bens nacionais com o retorno da privataria e do domínio das multinacionais. Maduro já demonstrou não ter medo do que chama de “guerra econômica e midiática partir de Miami, Bogotá e Madri”, pois vem governando com relativa estabilidade, apesar da alta inflação e da escassez de produtos básicos, estes possíveis frutos do boicote econômico.

No Brasil, a presidenta Dilma Rousseff tem sobrevivido, desde que começou seu segundo governo, há um ano, à descarga de uma suja campanha de denúncias deflagrada a cada minuto pela mídia hegemônica. Tal campanha, que agora se concentra em desmoralizar o ex-presidente Lula da Silva, outro líder popular latino-americano, teria o mesmo objetivo de aplicar o capitalismo selvagem em terras brasileiras, talvez nos mesmo moldes dos tutores de Macri na Argentina.

Esses, seguramente, terão sido temas e objeto de consideração desses dois líderes, oficialmente aposentados, mas que seguem politicamente ativos e influentes. Por certo vão interferir, com seus conselhos ou assessoria no curso dos acontecimentos, assim, como a ex-presidenta Cristina Kirchner, que se prepara para voltar à cena política, neste mês de fevereiro, quando retorna a Buenos Aires, de um recolhimento espiritual em El Calafate, na Patagônia. Cristina foi também convidada, como Pepe Mujica, para se juntar a Lula e Dilma, no Encontro Nacional de Blogueiros, previsto para maio, em belo Horizonte. Fidel, que não mais pode viajar, continuará mexendo seus pauzinhos desde seu retiro numa praia de Havana.

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
RELATED ARTICLES

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Most Popular

Recent Comments

PAULO ROBERTO DOS ANJOS OLIVEIRA on Próximo factoide: a prisão do Lula
cleonice pompilio ferreira on Golpe de 64: quando Kennedy chamou os militares
José rainha stedile lula da Silva Chávez on Projeto ditatorial de Macri já é emparedado nas ruas
maria teresa gonzalez perez on Crise e impasse institucional
maria teresa gonzalez perez on La Plata: formando um novo tipo de jornalista
maria teresa gonzalez perez on Maduro prepara Venezuela para a guerra civil
maria teresa gonzalez perez on Momentos emocionantes da apuração do 2o. turno
Pia Torres on Crítica do filme Argo
n_a_oliveira@hotmail.com on O que disse Lula a Mino Carta, meus destaques
José Gilbert Arruda Martins on Privatizações, novo filme de Sílvio Tendler
Maria Amélia dos Santos on Governador denuncia golpe em eleição
Prada outlet uk online on Kennedy e seu assassinato há 50 anos
http://www.barakaventures.com/buy-cheap-nba-indiana-pacers-iphone-5s-5-case-online/ on Oliver Stone em dois documentários sobre Chávez
marcos andré seraphini barcellos on Videoentrevista: Calos Lupi fala do “Volta Lula”
carlos gonçalves trez on Crítica do filme O Artista
miriam bigio on E o Brasil descobre o Oman
Rosana Gualda Sanches on Dez anos sem Darcy Ribeiro
leitefo on O Blogueiro
Suzana Munhoz on O Blogueiro
hamid amini on As razões do Irã
leitefo on O Blogueiro
JOSÉ CARLOS WERNECK on O Blogueiro
emidio cavalcanti on Entrevista com Hermano Alves
Sergio Rubem Coutinho Corrêa on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
Stephanie - Editora Saraiva on Lançamento: Existe vida sem poesia?
Mércia Fabiana Regis Dias on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Nielsen Nunes de Carvalho on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Rosivaldo Alves Pereira on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
filadelfo borges de lima on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola