A Veja dedicou nada menos de cinco capas para comemorar a prisão do Lula. Ela só se deu conta de que tinha dado um tiro no pé, quando a revista saía das oficinas para ganhar as bancas. Aí já tinha eclodido a reação popular contra o golpe que se armava. O golpe não visava apenas o Lula, mas também a deposição da Dilma, com o estabelecimento uma ditadura tendo como fachada alguém dócil à mídia.
O roteiro do golpe, na verdade, teve de ser alterado, depois que o senador Delcídio Amaral resolveu desmentir, na quinta, 3 de março, a falsa delação premiada. Aquilo deixou muito mal os meios de comunicação, pois tinham sido flagrados na mentira. Como todo roteiro golpista não pode sofrer interrupção, eles logo providenciaram um fato político ainda mais espetacular: a prisão do Lula, no dia seguinte, 4 de março.
Era para criar um clima de clamor nacional contra a suposta corrupção. Mas como nem todo roteiro é cumprido à risca, prevaleceu o contra-roteiro, que foi a indignação, com povo na rua, pedindo justiça e se solidarizando a Lula. Coroou tudo isso o discurso do Lula, naquela entrevista com a imprensa nacional e estrangeira, apontando o dedo para cada um dos golpistas. Estes foram para casa mas devem estar voltando a qualquer momento para nova arremetida que, certamente, agora, será mais difícil com o povo na rua, ao lado das instituições, e a verve que Lula retomou, depois de algum tempo na retranca.