(Publicado originalmente em Qua, 01 de Julho de 2009 13:09)
A internet está matando o jornalismo impresso? Não diria tanto, mas ele está com os dias contados, pelo menos na sua forma atual. Não me cabe aqui citar os grandes jornais que já fecharam ou os que estão mal das pernas, como o New York Times e a Newsweek. Limito-me a afirmar que o fenômeno logo chegará ao Brasil. Aqui, os periódicos ainda vivem uma certa pujança, mas estão estacionados ou em queda acentuada.
Esta reflexão vem a propósito do lançamento do Centro de Repórteres do Youtube, o popular site de vídeos, que agora decidiu investir firme no jornalismo, ou telejornalismo amador. É aquele em que o cidadão comum, ou famoso, tanto faz, utilizando apenas o celular, faz sua reportagem e a envia para ser publicada no próprio Youtube ou em um grande canal de televisão, desde a Globo ou Bandnews até à CNN, BBC ou Telesur.
Não é preciso que este cidadão presencie um fato extraordinário ou espetacular, o que seria o ideal. Basta que ele se detenha num determinado tema, de que tenha algum conhecimento e o aborde por um prisma capaz de chamar a atenção. Vamos supor que você, em Brasília (onde moro), por exemplo, faça algumas tomadas dos engarrafamentos, focando no barulho das buzinas, no cantar de pneus e no semblante cansado do motorista esperando a vez de tocar a vida. Se você for um pouquinho mais arguto poderá até prever que a capital futurista, criada justamente para evitar o congestionamento, poderá travar de uma hora para outra. O resto é só filmar e, se seu celular for um pouquinho mais possante, fazer uma edição das cenas registradas.
Este é apenas um dos milhares de assuntos que o cidadão comum, sem que para tal tenha canudo de jornalista ou de outra faculdade, possa se debruçar: há os buracos nas ruas, a sujeira de determinados locais, o carro do governo servindo à madame do alto funcionário, o político passeando no shopping na hora do trabalho, a celebridade fazendo cooper etc. Pode também entrevistar um artista, estudioso ou líder comunitário que tenha algo interessante a dizer, mas não encontra espaço na mídia tradiconal.
Mas, atenção, não pense que vá ganhar dinheiro com seu filme, pois nenhuma dessas empresas se dispõe a pagar-lhe. Elas querem tudo de graça. A não ser que contenha algo assim como um grande furo, o que pode ocorrer, sem dúvida, mas é difícil. Então, fica entendido que sua reportagem não vai lhe dar outra vantagem que não a diversão ou uma realização pessoal, ou mesmo profissional.
Foi com essa intenção e visando aumentar sua já enorme audiência, que o Youtube, empresa do grupo Google, lança o seu Centro de Repórteres. Deve haver, é claro, algum interesse político por trás, como as manipulações que a mídia costuma fazer contra aqueles regimes que não contemplem o poder econômico, como o Irã, a Venezuela, a Argentina. Ela costuma rodar esses vídeos, alguns até sem fundamento, para intrigar os regimes que considera populistas.
Para inaugurar seu novo espaço, o Youtube convidou alguns dos mais célebres jornalistas do mundo, a começar de Bob Woodward, do caso Watergate. Em pequenos vídeos, eles lhe mostram, em rápidas pinceladas, como fazer uma boa reportagem, entrevista ou documentário. E, como não poderia deixar de ser, abriu uma série de concursos para que você, internauta, participe com sua modesta peça cinematográfica.
Vai aqui o endereço do Centro dos Reporteres do Youtube para você se divertir: