Autor de Quem tem medo de Hugo Chávez?
A passagem estabanada da jovem blogueira Yoani Sánchez, de 37 anos, pelo Brasil, que pretendia ser apoteótica, chama a atenção para o real poder da mídia hegemônica e sua tradicional aliada, a CIA. Com o rechaço brasileiro à Yoani, o mais refinado rebento da Central Intelligence Agency, que há algum tempo passou a recrutar militantes na juventude do mundo inteiro, desde a China à América Latina, mais uma vez não se cumpre a máxima de que “o que a mídia não dá não acontece” e “só repercurte aquilo que a mídia difunde” .
Na verdade, o Brasil fora escolhido para o início do périplo de 80 dias por vários países da blogueira, por supostamente representar a sociedade mais comprometida com o moralismo forjado nos laboratórios de Washington. Afinal, foi na Terra Brasilis que se deu o chamado “mensalão”, o julgamento pelo Supremo Tribunal, que se transformou no maior espetáculo midiático, às vésperas de uma campanha eleitoral, em que os “mensaleiros” principais pertenciam ao partido governista, o PT. Também aqui pontificam redes de rádio, televisão, jornais e revistas que levam a cada minuto a “mensagem purificadora” a incomensuráveis multidões. O país daria assim uma acolhida modelo ao novo ícone da ética e do jornalismo amestrado, para, assim abençoada, levar a boa nova aos outros países integrantes do roteiro (Argentina, país que acabou excluído, provavelmente por receio do efeito multiplicador da postura brasileira, Espanha, República Tcheca, Holanda, Peru, Colômbia e Estados Unidos).
O fato é que o script não foi obedecido e, em vez de estampar capas e manchetões hagiográficos da mensageira neoliberal, como estava estabelecido pelas matrizes de opinião, instaladas sobretudo no exterior, os jornalões se viram obrigados a publicar os protestos contra a celebridade internáutica, ainda que resmungando e detratando aqueles que ousavam enfrentar mais este arrastão midiático. Uma situação, aliás, parecida com a viagem, em 1958, do vice-presidente Ricard Nixon, então líder da direita mais rabugenta dos Estados Unidos, e de perfil tão intransigente quanto Yoani, a algumas capitais da América Latina, inclusive Caracas. O objetivo era imprecar contra o endemoninhado comunismo, “que comia criancinhas”, o mote da época, hoje atualizado para “a defesa da liberdade de expressão”, como se aqui vivêssemos sob o cutelo da ditadura. As conferências de Nixon aos estudantes não tiveram incidentes em Montevidéu, onde ele começou a tournée, mas ao chegar a Lima, encontrou uma estudantada enfurecida no campus da Universidade, cujos protestos o obrigaram a dar meia volta e recolher-se à limusine da embaixada. Em Caracas, a rejeição ao vice-presidente foi ainda maior, porque os universitários tentaram capotar o carro, em que ele estava, na companhia da esposa, Pat Nixon.
A chegada de Yoani a Recife, na segunda-feira, 19/02/13, à 00:30 hs, primeira das cidades, no percurso brasileiro, coincidia com a divulgação da vitória estrondosa do presidente do Equador, Rafael Correa, com a qual não só se reelegeria para outro período presidencial, como faria a maioria de dois terços no Congresso. Correa, como Chávez, Cristina Kirchner, Lula e Evo Morales, são nomes amaldiçoados pela pesada fuzilaria midiática, por realizarem projetos progressistas de interesse da população, o que logicamente contraria os lucros dos grandes negócios, os verdadeiros sustentáculos dos meios de comunicação .
Não obstante, Correa foi mais uma vez consagrado pelo povo, como o foi Chávez, nas eleições de 2012, e como o será para Cristina, na eleição deste 2013, quando também poderá assegurar a maioria qualificada para permitir sua reeleição e fazer funcionar alguns artigos da lei da mídia, que se encontram embargados pela Justiça. Na Argentina, as coisas parecem menos árduas para Cristina, pois estarão em jogo apenas metade da Câmara dos Deputados, onde ela já tem maioria absoluta, e um terço do Senado, onde dispõe de igual situação confortável. No Brasil, onde a manobra político-judicial do mensalão tentou atropelar a volta de Lula ou a reeleição de Dilma, os altos índices de popularidade de ambos se mantiveram, arrostando todo tipo de intriga e conspirata. Pergunta-se então, a mídia já não é tão poderosa nestas terras sul-americanas, onde ela, a CIA e o poder econômico costumavam derrubar governos democráticos e instalar sanguinárias e corruptas ditaduras?