quinta-feira, novembro 21, 2024
InícioAmérica LatinaA Blogueira, Rafael, Cristina, o mensalão e o cacife da mídia

A Blogueira, Rafael, Cristina, o mensalão e o cacife da mídia

FC Leite Filho

Autor de Quem tem medo de Hugo Chávez?

A passagem estabanada da jovem blogueira Yoani Sánchez, de 37 anos, pelo Brasil, que pretendia ser apoteótica, chama a atenção para o real poder da mídia hegemônica e sua tradicional aliada, a CIA. Com o rechaço brasileiro à Yoani, o mais refinado rebento da Central Intelligence Agency,  que há algum tempo passou a recrutar militantes na juventude do mundo inteiro, desde a China à América Latina, mais uma vez não se cumpre a máxima de que “o que a mídia não dá não acontece” e “só repercurte aquilo que a mídia difunde” .

Na verdade, o Brasil fora escolhido para o início do périplo de 80 dias por vários países da blogueira, por supostamente representar a sociedade  mais comprometida com o moralismo forjado nos laboratórios de Washington. Afinal, foi na Terra Brasilis que se deu o chamado “mensalão”, o julgamento pelo Supremo Tribunal, que se transformou no maior espetáculo midiático, às vésperas de uma campanha eleitoral, em que os “mensaleiros” principais pertenciam ao partido governista, o PT. Também aqui pontificam redes de rádio, televisão,  jornais e revistas que levam a cada minuto a “mensagem purificadora” a incomensuráveis multidões. O país daria assim uma acolhida modelo  ao novo ícone da ética e do jornalismo amestrado, para, assim abençoada, levar a boa nova aos outros países integrantes do roteiro (Argentina, país que acabou excluído, provavelmente por receio do efeito multiplicador da postura brasileira, Espanha, República Tcheca, Holanda, Peru, Colômbia e Estados Unidos).

O fato é que o script não foi obedecido e, em vez de estampar capas e manchetões hagiográficos da mensageira neoliberal, como estava estabelecido pelas matrizes de opinião, instaladas sobretudo no exterior, os jornalões se viram obrigados a publicar os protestos contra a celebridade internáutica, ainda que resmungando e detratando aqueles que ousavam enfrentar mais este arrastão midiático. Uma situação, aliás, parecida com a viagem, em 1958, do vice-presidente Ricard Nixon, então líder da direita mais rabugenta dos Estados Unidos, e de perfil tão intransigente quanto Yoani, a algumas capitais da América Latina, inclusive Caracas. O objetivo era imprecar contra o endemoninhado comunismo, “que comia criancinhas”, o mote da época, hoje atualizado para “a defesa da liberdade de expressão”, como se aqui vivêssemos sob o cutelo da ditadura.  As conferências de Nixon aos estudantes não tiveram incidentes em Montevidéu, onde ele começou a tournée, mas ao chegar a Lima, encontrou uma estudantada enfurecida no campus da Universidade, cujos protestos o obrigaram a dar meia volta e recolher-se à limusine da embaixada. Em Caracas, a rejeição ao vice-presidente foi ainda maior, porque os universitários tentaram capotar o carro, em que ele estava, na companhia da esposa, Pat Nixon.

A chegada de Yoani a Recife, na segunda-feira, 19/02/13, à 00:30 hs, primeira das cidades, no percurso brasileiro, coincidia com a divulgação da vitória estrondosa do presidente do Equador, Rafael Correa, com a qual não só se reelegeria para outro período presidencial, como faria a maioria de dois terços no Congresso. Correa, como Chávez, Cristina Kirchner, Lula e Evo Morales, são nomes amaldiçoados pela pesada fuzilaria midiática, por realizarem projetos progressistas de interesse da população, o que logicamente contraria os lucros dos grandes negócios, os verdadeiros sustentáculos dos meios de comunicação .

Não obstante, Correa foi mais uma vez consagrado pelo povo, como o foi Chávez, nas eleições de 2012, e como o será para Cristina, na eleição deste 2013, quando também poderá assegurar a maioria qualificada para permitir sua reeleição e fazer funcionar alguns artigos da lei da mídia, que se encontram embargados pela Justiça. Na Argentina, as coisas parecem menos árduas para Cristina, pois estarão em jogo apenas metade da Câmara dos Deputados, onde ela já tem maioria absoluta, e um terço do Senado, onde dispõe de igual situação confortável. No Brasil, onde a manobra político-judicial do mensalão tentou atropelar a volta de Lula ou a reeleição de Dilma, os altos índices de popularidade de ambos se mantiveram, arrostando todo tipo de intriga e conspirata. Pergunta-se então, a mídia já não é tão poderosa nestas terras sul-americanas, onde ela, a CIA e o poder econômico costumavam  derrubar governos democráticos e instalar sanguinárias e corruptas ditaduras?

 

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
RELATED ARTICLES

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Most Popular

Recent Comments

PAULO ROBERTO DOS ANJOS OLIVEIRA on Próximo factoide: a prisão do Lula
cleonice pompilio ferreira on Golpe de 64: quando Kennedy chamou os militares
José rainha stedile lula da Silva Chávez on Projeto ditatorial de Macri já é emparedado nas ruas
maria teresa gonzalez perez on Crise e impasse institucional
maria teresa gonzalez perez on La Plata: formando um novo tipo de jornalista
maria teresa gonzalez perez on Maduro prepara Venezuela para a guerra civil
maria teresa gonzalez perez on Momentos emocionantes da apuração do 2o. turno
Pia Torres on Crítica do filme Argo
n_a_oliveira@hotmail.com on O que disse Lula a Mino Carta, meus destaques
José Gilbert Arruda Martins on Privatizações, novo filme de Sílvio Tendler
Maria Amélia dos Santos on Governador denuncia golpe em eleição
Prada outlet uk online on Kennedy e seu assassinato há 50 anos
http://www.barakaventures.com/buy-cheap-nba-indiana-pacers-iphone-5s-5-case-online/ on Oliver Stone em dois documentários sobre Chávez
marcos andré seraphini barcellos on Videoentrevista: Calos Lupi fala do “Volta Lula”
carlos gonçalves trez on Crítica do filme O Artista
miriam bigio on E o Brasil descobre o Oman
Rosana Gualda Sanches on Dez anos sem Darcy Ribeiro
leitefo on O Blogueiro
Suzana Munhoz on O Blogueiro
hamid amini on As razões do Irã
leitefo on O Blogueiro
JOSÉ CARLOS WERNECK on O Blogueiro
emidio cavalcanti on Entrevista com Hermano Alves
Sergio Rubem Coutinho Corrêa on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
Stephanie - Editora Saraiva on Lançamento: Existe vida sem poesia?
Mércia Fabiana Regis Dias on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Nielsen Nunes de Carvalho on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Rosivaldo Alves Pereira on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
filadelfo borges de lima on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola