quinta-feira, novembro 21, 2024
InícioAmérica LatinaA Espanha bolivariana vai esperar mais um pouco

A Espanha bolivariana vai esperar mais um pouco

FC Leite Filho
A Espanha está há quase dois meses sem governo, por causa da derrocada do bipartidarismo na eleição de 20 de dezembro. Nem o PP, no poder desde 2011, nem o PSOE, partidos que vêm se sucedendo desde o recolhimento do franquismo, em 1982, não conseguem se entender entre si nem com outras siglas, com vistas a formar maioria e governar.

O PP, primeiro colocado com 123 deputados, está muito desgastado por causa de seu corte ultra neoliberal, que faz a Espanha amargar há cinco anos taxas de desemprego de mais de 20%, enquanto o PSOE, com 90 deputados e desmoralizado por políticas igualmente recessivas, não conseguem atrair apoio suficiente dos partidos menores.

O Partido Podemos, nova força de esquerda à moda dos governos populares da América Latina, surgiu como o terceiro colocado, com 69 deputados, e potencial para liderar os votos, em nova eleição daqui a um mês, se não houver acordo entre os grandes até lá. O Podemos já é o primeiro na Catalunha e País Basco e segundo em Madri e outras regiões importantes do país.

Mas isto provavelmente não vai ocorrer, pelo menos, neste momento, porque os conglomerados econômicos, junto com o mídia hegemônica, vai forçar a barra para que se unam o PP, de direita, e o PSOE, centro-direita, apesar de manter o nome de Partido Socialista Operário de Espanha.

Seja como for, essas pressões, fatalmente, resultarão na formação de um governo débil e impotente, que terá seus dias contados. É que, ao priorizar os interesses do mercado, essas autoridades tendem a agravar ainda mais as agruras de uma população que, desempregada ou perseguida pelo subemprego, na sua grande maioria, e com os programas sociais desmantelados, não consegue pagar as contas nem alimentar-se adequadamente.

É aí que está o potencial do Podemos, um partido novo, criado há pouco mais de um ano e reestruturado em bases transparentes. Todas as suas contas e processos de decisão são disponibilizados na internet. É também detentor de uma militância aguerrida e orgânica e uma comunicação competente que faz chegar sua mensagem aos mais distantes rincões do país.

O partido, integrado na maioria de jovens recém saídos da universidade e de cientistas políticos formados com foco no que chamam de maioria social, na verdade, já despontava como favorito, em meados de 2014. Teve, porém, seu vôo podado por virulenta e ignóbil campanha midiática, toda centrada vilipendiar os ideais aproximados do bolivarianismo e nas calúnias que ela mesma assaca contra a Venezuela.

Tal ardil, no entanto, começa a refluir, tlvez como reflexo de situações práticas, como o governo neoliberal da Argentina, que produziu um milhão de pobres e uma queda de 40% no poder aquisitivo, refletindo a inoperância dos representantes da elite espanhola em encontrar soluções para a própria crise. Em consequência, as pesquisas de opinião realizadas em função da perspectiva de nova eleição, já apontam o Podemos como o primeiro colocado na eventualidade de um novo pleito.

Enquanto isso, a crise se agiganta com a virtual paralisia de governo e Parlamento. No puxa de cá e puxa de lá, o PP já tentou sem sucesso um acordo com o PSOE. Agora, o PSOE, tenta agrupar os outros partidos de centro-direita, como o Partido Cidadãos, com 40 deputados.

O Podemos, de Pablo Iglesias, o jovem professor e cientista político de 37 anos, já se dispôs a uma dobradinha com o PSOE e a Esquerda Unida, desde que o segundo maior partido concorde em fazer “um governo de progresso e de mudança”.

Tal hipótese implicaria um pacote de medidas nos primeiros 100 dias, com uma reforma constitucional calcada em cinco eixos: redefinição da província da Catalunha dentro da Espanha, rejeição ao tratado de livre comércio negociado em sigilo entre os Estados Unidos e a União Europeia, o TTJP, e a suspensão dos despejos que jogam ao relento milhares de famílias, enquanto existem no país dois milhões de habitações desocupadas.

Vê-se, com esta situação na Espanha, potência europeia de nível médio, que o bolivarianismo não atingiu o final do ciclo, como preconiza a mesma mídia oligárquica. Está mais para renascer, e logo na velha Europa.

—————–

Veja também:

A Espanha bolivariana vai ter de esperar mais um pouco

Pablo Iglesias parte para o enfrentamento

A Espanha em vias de tornar-se bolivariana

Pesquisas: apesar da manipulação da mídia, continua à frente nas pesquisas

Rebaixado nas pesquisas, Iglesias enfrenta o poder midiático

Eleições 2015: Espanha e Argentina dão uma banana para a direita

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
RELATED ARTICLES

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Most Popular

Recent Comments

PAULO ROBERTO DOS ANJOS OLIVEIRA on Próximo factoide: a prisão do Lula
cleonice pompilio ferreira on Golpe de 64: quando Kennedy chamou os militares
José rainha stedile lula da Silva Chávez on Projeto ditatorial de Macri já é emparedado nas ruas
maria teresa gonzalez perez on Crise e impasse institucional
maria teresa gonzalez perez on La Plata: formando um novo tipo de jornalista
maria teresa gonzalez perez on Maduro prepara Venezuela para a guerra civil
maria teresa gonzalez perez on Momentos emocionantes da apuração do 2o. turno
Pia Torres on Crítica do filme Argo
n_a_oliveira@hotmail.com on O que disse Lula a Mino Carta, meus destaques
José Gilbert Arruda Martins on Privatizações, novo filme de Sílvio Tendler
Maria Amélia dos Santos on Governador denuncia golpe em eleição
Prada outlet uk online on Kennedy e seu assassinato há 50 anos
http://www.barakaventures.com/buy-cheap-nba-indiana-pacers-iphone-5s-5-case-online/ on Oliver Stone em dois documentários sobre Chávez
marcos andré seraphini barcellos on Videoentrevista: Calos Lupi fala do “Volta Lula”
carlos gonçalves trez on Crítica do filme O Artista
miriam bigio on E o Brasil descobre o Oman
Rosana Gualda Sanches on Dez anos sem Darcy Ribeiro
leitefo on O Blogueiro
Suzana Munhoz on O Blogueiro
hamid amini on As razões do Irã
leitefo on O Blogueiro
JOSÉ CARLOS WERNECK on O Blogueiro
emidio cavalcanti on Entrevista com Hermano Alves
Sergio Rubem Coutinho Corrêa on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
Stephanie - Editora Saraiva on Lançamento: Existe vida sem poesia?
Mércia Fabiana Regis Dias on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Nielsen Nunes de Carvalho on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Rosivaldo Alves Pereira on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
filadelfo borges de lima on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola