FC Leite Filho
A Espanha está há quase dois meses sem governo, por causa da derrocada do bipartidarismo na eleição de 20 de dezembro. Nem o PP, no poder desde 2011, nem o PSOE, partidos que vêm se sucedendo desde o recolhimento do franquismo, em 1982, não conseguem se entender entre si nem com outras siglas, com vistas a formar maioria e governar.
O PP, primeiro colocado com 123 deputados, está muito desgastado por causa de seu corte ultra neoliberal, que faz a Espanha amargar há cinco anos taxas de desemprego de mais de 20%, enquanto o PSOE, com 90 deputados e desmoralizado por políticas igualmente recessivas, não conseguem atrair apoio suficiente dos partidos menores.
O Partido Podemos, nova força de esquerda à moda dos governos populares da América Latina, surgiu como o terceiro colocado, com 69 deputados, e potencial para liderar os votos, em nova eleição daqui a um mês, se não houver acordo entre os grandes até lá. O Podemos já é o primeiro na Catalunha e País Basco e segundo em Madri e outras regiões importantes do país.
Mas isto provavelmente não vai ocorrer, pelo menos, neste momento, porque os conglomerados econômicos, junto com o mídia hegemônica, vai forçar a barra para que se unam o PP, de direita, e o PSOE, centro-direita, apesar de manter o nome de Partido Socialista Operário de Espanha.
Seja como for, essas pressões, fatalmente, resultarão na formação de um governo débil e impotente, que terá seus dias contados. É que, ao priorizar os interesses do mercado, essas autoridades tendem a agravar ainda mais as agruras de uma população que, desempregada ou perseguida pelo subemprego, na sua grande maioria, e com os programas sociais desmantelados, não consegue pagar as contas nem alimentar-se adequadamente.
É aí que está o potencial do Podemos, um partido novo, criado há pouco mais de um ano e reestruturado em bases transparentes. Todas as suas contas e processos de decisão são disponibilizados na internet. É também detentor de uma militância aguerrida e orgânica e uma comunicação competente que faz chegar sua mensagem aos mais distantes rincões do país.
O partido, integrado na maioria de jovens recém saídos da universidade e de cientistas políticos formados com foco no que chamam de maioria social, na verdade, já despontava como favorito, em meados de 2014. Teve, porém, seu vôo podado por virulenta e ignóbil campanha midiática, toda centrada vilipendiar os ideais aproximados do bolivarianismo e nas calúnias que ela mesma assaca contra a Venezuela.
Tal ardil, no entanto, começa a refluir, tlvez como reflexo de situações práticas, como o governo neoliberal da Argentina, que produziu um milhão de pobres e uma queda de 40% no poder aquisitivo, refletindo a inoperância dos representantes da elite espanhola em encontrar soluções para a própria crise. Em consequência, as pesquisas de opinião realizadas em função da perspectiva de nova eleição, já apontam o Podemos como o primeiro colocado na eventualidade de um novo pleito.
Enquanto isso, a crise se agiganta com a virtual paralisia de governo e Parlamento. No puxa de cá e puxa de lá, o PP já tentou sem sucesso um acordo com o PSOE. Agora, o PSOE, tenta agrupar os outros partidos de centro-direita, como o Partido Cidadãos, com 40 deputados.
O Podemos, de Pablo Iglesias, o jovem professor e cientista político de 37 anos, já se dispôs a uma dobradinha com o PSOE e a Esquerda Unida, desde que o segundo maior partido concorde em fazer “um governo de progresso e de mudança”.
Tal hipótese implicaria um pacote de medidas nos primeiros 100 dias, com uma reforma constitucional calcada em cinco eixos: redefinição da província da Catalunha dentro da Espanha, rejeição ao tratado de livre comércio negociado em sigilo entre os Estados Unidos e a União Europeia, o TTJP, e a suspensão dos despejos que jogam ao relento milhares de famílias, enquanto existem no país dois milhões de habitações desocupadas.
Vê-se, com esta situação na Espanha, potência europeia de nível médio, que o bolivarianismo não atingiu o final do ciclo, como preconiza a mesma mídia oligárquica. Está mais para renascer, e logo na velha Europa.
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