quinta-feira, novembro 21, 2024
InícioAmérica LatinaA recusa de Lula em almoçar com Obama e o voto do...

A recusa de Lula em almoçar com Obama e o voto do Brasil na ONU

Por FC Leite Filho
A política externa independente do Brasil parece voltar a ser retomada depois de dois fatos concretos ocorridos em pouco mais de 48 horas: o voto de abstenção na resolução do Conselho de Segurança da ONU, que praticamente autorizou a invasão da Líbia pelas potências ocidentais, e a recusa do ex-presidente Luís Inácio da Silva, Lula, a comparecer ao almoço oferecido hoje pelo Itamaraty ao presidente norte-americano, Barak Obama, em visita ao Brasil. Esses dois episódios são relevantes para analisar a conduta inicial do novo governo Dilma Rousseff, no cenário internacional, que levou alguns setores, principalmente a grande mídia, a interpretar como uma inflexão, senão uma reversão, diante das diretrizes estabelecidas pelo presidente Lula, priorizando a autonomia brasileira, a integração latino-americana e a autodeterminação dos povos.
Sabe-se como são grandes as pressões, que inclusive se abateram com toda força antes mesmo da posse de Dilma, no primeiro do ano. A nova presidenta chegou a dar uma entrevista ao Washington Post questionando voto anterior do Brasil no Conselho de Direitos Humanos da mesma ONU em relação ao Irã, quando disse que “se sentiria desconfortável com uma mulher presidenta eleita se não dissesse nada contra o apedrejamento”, chegando a ser taxativa ao afirmar: “Eu não concordo com o voto do Brasil. Essa não é minha posição”.
Naquela ocasião (a entrevista foi publicada em seis de dezembro), a presidenta eleita estava a quase um mês da posse. Sentiam-se seus cuidados de pisar em ovos numa questão que já tinha derrubado pelo menos dois presidentes, Jânio Quadros e João Goulart, por terem ousado desafiar o domínio dos Estados Unidos sobre nossas questões externas. O próprio Lula, ainda que, beneficiado com um ambiente menos hostil, determinado sobretudo pela eleição de vários presidentes progressistas na América do Sul e a ascensão de um novo mundo multipolar, enfrentou todo tipo de sabotagem – nacional e internacional. Só não foi à lona graças a uma inacreditável astúcia política que o levava não só a impor os interesses brasileiros, como até a receber prêmios internacionais da Espanha, França e outras potências, além de ser chamado de “o cara” pelo presidente Obama.
Dilma Rousseff não tem o tino acurado de Lula e precisava de cautela nesses primeiro meses de governo, quando tudo é difícil e arriscado, mas, a julgar pelos fatos recentes, tende a restabelecer a política externa de seu antecessor, inclusive porque não tem outra saída. A volta à submissão aos Estados Unidos, como ocorreu no Governo FHC, com toda a privataria (alienação de nossas estatais e recursos naturais), a intervenção do FMI com suas políticas de arrocho e desemprego, seria impensável, inclusive para a própria sustentação do governo. Já a política de seu antecessor, inaugurada por Jânio Quadros, reforçada por João Goulart, entre 1961 e 1963, e parcialmente retomada pelo general Ernesto Geisel, em 1974, foi que possibilitou o Brasil a superar a crise mundial de 2008 sem grandes atropelos, justamente porque, com a integração com os vizinhos e a abertura no rumo Sul-Sul, nosso intercâmbio se revelou mais justo e lucrativo.

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
RELATED ARTICLES

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Most Popular

Recent Comments

PAULO ROBERTO DOS ANJOS OLIVEIRA on Próximo factoide: a prisão do Lula
cleonice pompilio ferreira on Golpe de 64: quando Kennedy chamou os militares
José rainha stedile lula da Silva Chávez on Projeto ditatorial de Macri já é emparedado nas ruas
maria teresa gonzalez perez on Crise e impasse institucional
maria teresa gonzalez perez on La Plata: formando um novo tipo de jornalista
maria teresa gonzalez perez on Maduro prepara Venezuela para a guerra civil
maria teresa gonzalez perez on Momentos emocionantes da apuração do 2o. turno
Pia Torres on Crítica do filme Argo
n_a_oliveira@hotmail.com on O que disse Lula a Mino Carta, meus destaques
José Gilbert Arruda Martins on Privatizações, novo filme de Sílvio Tendler
Maria Amélia dos Santos on Governador denuncia golpe em eleição
Prada outlet uk online on Kennedy e seu assassinato há 50 anos
http://www.barakaventures.com/buy-cheap-nba-indiana-pacers-iphone-5s-5-case-online/ on Oliver Stone em dois documentários sobre Chávez
marcos andré seraphini barcellos on Videoentrevista: Calos Lupi fala do “Volta Lula”
carlos gonçalves trez on Crítica do filme O Artista
miriam bigio on E o Brasil descobre o Oman
Rosana Gualda Sanches on Dez anos sem Darcy Ribeiro
leitefo on O Blogueiro
Suzana Munhoz on O Blogueiro
hamid amini on As razões do Irã
leitefo on O Blogueiro
JOSÉ CARLOS WERNECK on O Blogueiro
emidio cavalcanti on Entrevista com Hermano Alves
Sergio Rubem Coutinho Corrêa on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
Stephanie - Editora Saraiva on Lançamento: Existe vida sem poesia?
Mércia Fabiana Regis Dias on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Nielsen Nunes de Carvalho on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Rosivaldo Alves Pereira on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
filadelfo borges de lima on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola