(Por Beto Almeida) Os jornalistas da mídia comercial, esportivos ou não, parecem ter recebido uma orientação editorial para sempre dizer algo contra a Argentina. É evidente a torcida desta gente, a começar pelo narrador mais conhecido e mais antipático da maior rede de tv do Brasil, que sempre repete, ” tem um gostinho especial derrotar a Argentina”. Por quê¿
Há quem queira argumentar que isso é futebol, é asséptico de política, descontextualizando o que vivemos hoje na América Latina, especialmente na Argentina, onde um governo recuperou o crescimento econômico, está renacionalizando suas fontes produtivas, internacionalizadas na triste Era Menen, está democratizando os meios de comunicação, e está ,também, valorizando o salário dos trabalhadores, expandindo o mercado de trabalho formal.
Especialmente, é preciso citar que a Argentina é alvo, hoje, de uma pressão prepotente do sistema financeiro internacional, exatamente por ter renegociado, em bases soberanas, a sua dívida externa. Uma decisão judicial nos Estados Unidos, que se configura como uma verdadeira violação da soberania do nação platense, busca jogar por terra toda um renegociação soberana da dívida, aceita pela maior parte dos credores. O Judiciário dos EUA fala em nome dos abutres das finanças internacionais.
O que essa gente não suporta é o exemplo que vem da Argentina, exemplo observado por todo o mundo. Antes, Hugo Chávez já havia comprado parte dos títulos da dívida argentina como forma de demonstrar confiança na sua recuperação econômica e ajudá-la a sair do abismo criado pelas políticas pró-imperiais dos governos anteriores, que entregaram o patrimônio público ao capital internacional, patrimônio construído com tremendo esforço do povo da Argentina, durante a Era Peron, que transformou este país num dos mais prósperos de todo o mundo.
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Entrevista de Beto Almeida ao Café na Política
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Tal como Chávez, Peron foi um militar, popular, progressista, antiimperailista e com uma capacidade transformadora audaciosa das relações produtivas e sociais da república platense. Montou uma indústria naval, a indústria aeronáutica e automobilística, deu um tremendo salto nas telecomunicações, nacionalizou o petróleo e o gás, elevou decididamente os indicadores de saúde e educação do povo, mediante uma corajosa intervenção estatal no setor, criou a TV e Rádio Públicas e, praticamente, eliminou o analfabetismo, já em 1952. O Governo Cristina, tal como o do saudoso presidente Nestor Kirchner, fala em nome da recuperação desta herança histórica, adaptada para os dias atuais, onde realça a integração latino-americana, que já estava presente no ideário de Peron, tal como no de Getúlio Vargas, mas, foram impedidos por ações golpistas da direita de implementá-la.
Exemplo que vem da Argentina
Os narradores da mídia comercial, em suas sistemáticas expressões contra a Seleção Argentina, são, na realidade, expressão a ojeriza ideológica de seus anunciantes, banqueiros e empresas transnacionais, pelo o exemplo simbólico que uma vitória argentina na decisão deste domingo próximo poderá representar. Não é casual que esteja m instruídos em fomentar um sentimento anti-Argentina, que também se desdobre em sentimento anti-Cristina, por ser ela portadora de uma mensagem de insubmissão ante as exigências descabidas e imperiais dos grandes países capitalistas e do sistema financeiro mundial. Mas, também, por ser uma expressão lúcida de iniciativas que promovem a integração regional. Há muitas iniciativas de cooperação entre Brasil e Argentina, o que contraria esta mídia que fala em nome da desintegração, expressando o desejo de que a Argentina volte a ser submissa e vassala dos interesses internacionais, tal como sob os governos da ditadura, de Alfonsin, de Menen, de e La Rua. Cristina está renacionalizando o petróleo, a indústria ferroviária, e, , quando no governo de Nestor Kirchner, se formatou uma renegociação da dívida com critérios de soberania, repete algo na mesma linha do já feito no Brasil da Era Vargas, quando foi decretada uma auditoria da dívida externa, a qual foi reduzida pela metade, por se descobriu quantidade impressionante de fraudes.
Alemanha, um país da OTAN
Os narradores esportivos da mídia comercial visam criar um sentimento contra uma seleção nacional cujo governo está adotando todas estas medidas. Não é, portanto, nada casual.
De outro lado, cabe indagar que motivo teríamos nós, os brasileiros, para votar numa seleção de um país da Otan¿ Um país que neste exato momento apoia as ações agressivas e sanguinárias do governo de simpatias nazistas da Ucrânia a população do leste do país, em obediência aos EUA. Lembremos: a Alemanha apoiou a invasão do Iraque, apoiou as ações contra a soberania da Líbia, apoia a agressão externa de grupos de mercenários que fazem o sangue jorrar, sem limites, na Síria, negando-se a apoiar soluções pacíficas para esta crise.
Sendo obrigatório reconhecer que a Alemanha possui um time bem formado, com esquema de jogo simples e objetivo, enquanto o Brasil apresentou-se acovardado, com um futebol burocrático, que joga para os lados e não tinha armações de ataque, também é preciso lembrar que as seleções nacionais não devem ser desvinculadas das políticas públicas de esporte emanadas de cada governo. Assim, no caso alemão, o conjunto das políticas conduziu este países a ser peça chave nas ações imperialistas internacionais, no intervencionismo colonial, ao passo que tem hoje um desemprego funcional que alcança a cada dos 17 por cento.
Temos motivos de sobra para torcer pela vitória platense e pela mensagem latino-americanista que a seleção da Argentina carrega para dentro do campo. E, junto com ela, a mensagem de ser uma nação que defende, como o Brasil, a integração da América Latina; um país que é membro da Unasul, do Mercosul e da Celac, como o Brasil. O governo Dilma já defendeu, por diversas vezes, a soberania argentina sobre as Ilhas Malvinas e, mais recentemente, na ONU, a delegação brasileira defendeu o direito argentino de renegociar sua dívida e criticou as pressões imperiais sobre contra nossos vizinhos.
Unidos ou Escravizados
Perón disse ,certa vez, que o ano 2000 nos encontraria unidos ou escravizados. Vargas concordava com Peron e se articulou com ele e o presidente do Chile para formar o ABC, um embrião do que hoje é o Mercosul. Lula não apenas defendeu politicamente a integração latino-americana, como viabilizou ações concretas para que o Brasil impulsione o crescimento das economias vizinhas, junto com a brasileira. Há investimentos do BNDES na construção gasodutos e de ferrovias na Argentina. Quanto mais se desenvolver a economia da Argentina, melhores condições terão Brasil e Argentina de implementarem a integração latino-americana, reduzindo, a base industrial dos dois países, os prazos históricos para a industrialização dos demais países da região, com o que crescem todos juntos. E é mais uma vez o Lula quem diz, “tomara que a Taça fique na América Latina”. Ou seja, na Pátria Grande!
A articulação econômica e financeira articulada entre a Argentina e a Rússia e a China, para operações sem a participação do dólar, mas apenas com moedas destes países, e também agora com a entrada em funcionamento do Banco do Sul e a criação do Banco dos Brics, há motivos de sobra para apostar no desenvolvimento regional independente, tudo aquilo que não deseja o sistema de poder imperial. Por isso orienta seus narradores esportivos a provocar uma antipatia contra argentinos.
A vitória da Argentina nesta Copa é uma vitória da América Latina, uma vitória da integração latino-americana. A vitória da Alemanha seria a vitória de um país da Otan.
Muitos motivos temos para torcer para a Argentina. Entre outros, seguindo o exemplo de Alfredo Le Pera, o brasileiro que foi o parceiro de Carlos Gardel nas suas canções de maior sucesso, indicando o quanto uma integração informativo-cultural – o que inclui o futebol como expressão de identidade regional – pode promover autoestima, alegria, superação artística e, no caso atual, um fortalecimento do sentimento de solidariedade entre dois povos que possuem causas similares e um destino histórico comum: formar uma comunidade latino-americana de países, tal como está escrito na Constituição Brasileira.
(*) Carlos Alberto Almeida é membro do Diretório da Telesur e presidente da TV Comunitária (TV Cidade Livre de Brasília)