Por FC Leite Filho
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou que vai enfrentar Maurício Macri na cúpula dos chefes de Estado da CELAC (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), convocada para quarta-feira dia 27, em Quito, no Equador. Maduro, que, pessoalmente, vinha mantendo, uma postura discreta diante dos ataques sistemáticos do novo presidente da Argentina, Maurício Macri (o último dos quais assestado a partir do fórum mundial de empresários em Davos, na Suiça), se perguntou: “Por que tem a Venezuela de aguentar todas as arremetidas dos governos da direita da América Latina”.
(Atualização, em 25/01/16, às 07h23m – Num comunicado, o governo argentino noticiou que o presidente Macri não mais iria à cúpula da CELAC, no Equador, por ter sofrido uma fissura na coluna, a mesma que não o impediu de viajar por mais de 15 horas à cúpula dos milionários de Davos, com distância cinco vezes menor à da vizinha Quito. Veja aqui vídeo do boletim médico).
Ressalvando que a posição da Venezuela bolivariana, no cenário internacional, tem sido tradicionalmente, desde o advento de seu líder Hugo Chávez, de de “estender a mão aos líderes de todo o mundo, sejam de direita, de centro, ou de esquerda”, e que, em troca, só tem recebido os ataques mais virulentos, de um esquema comandado “pelo império e as oligarquias locais, numa violação flagrante das regras do jogo democrático”, o líder venezuelano enfatizou:
“Vou com tudo a esta cúpula da CELAC (reunião de todos os 33 chefes de Estado do continente, à exceção do Estados Unidos e Canadá). Vou com tudo e ninguém vai me calar. Vou com todas essas verdades e (exigir) que “se respeite o espírito de união na diversidade”, uma prática prevalecente até aqui. “Não vou aceitar abuso de ninguém e ainda vou chamar o apoio dos povos da América Latina à revolução bolivariana”. Ao se referir nominalmente a Macri, Nicolás afirmou: “Assim digo ao presidente da Argentina, Macri, que vem agredindo a Venezuela: Respeite a Venezuela, respeite a pátria de Bolívar”.
– A seguir, pontuou: “Ou nos respeitamos todos ou se acabam as regras do jogo, nesta batalha pela nova América e pela nova história”.
Maduro fez estas afirmações quando falava no sábado, 23 de janeiro, durante a instalação do Congresso da Pátria, integrado pelos setores progressistas e revolucionários venezuelanos e de países amigos, com o fim de estudar os novos rumos, estratégias e táticas da revolução bolivariana. Os congressistas partem de uma pauta tendo com base em três R – Retificação (dos erros cometidos), Rebelião (contra a desigualdadee as injustiças) e Renascimento (reencontro com as origens do chavismo). No encaminhamento dessas teses, Maduro parte da análise de que “o império” (Estados Unidos) e suas ramificações locais, “as oligarquias”, já violaram (com seus ataques incessantes) “todas as regras do jogo”, ao passo que a Venezuela vem “mantendo todas estas mesmas regras”, com o propósito justamente salvaguardar a democracia.
– Não fosse a gente (o chavismo) – exemplifica -, nos teriam imposto uma ditadura, em 2002 (golpe contra Chávez), assim como com as guarimbas, manifestações violentas que resultaram na morte de 43 e outras 18 feridas, em 2014. “O golpe fascista de 2014 (se houvesse triunfado) teria provocado uma guerra civil. Não teríamos nem paz nem democracia. essa é a verdade, a verdade verdadeira desta história”.
Para reagir a essas arremetidas, no entanto, Nicolás Maduro entende ser preciso, primeiro, reorientar algumas práticas na luta política da revolução, que agora deverão ser estudadas em 100 grupos de trabalho constituídos no Congresso da Pátria, tendo este prazo até abril para apresentar suas conclusões. O presidente relembra a propósito o congresso de 1994 do Movimento Bolivariano, comandado pelo então tenente-coronel Hugo Chávez, quando se decidiu abandonar “a estratégia insurrecional cívico-militar pela eleitoral, pacífica e constitucional”, e que acabou resultando na eleição presidencial de Chávez, em 1998.
Ele ainda advertiu que “um dos problemas graves do processo soviético, do chamado socialismo real, foi que (ele) se estancou, tanto no aspecto estratégico, filosófico e político”. ‘Houve este processo de estancamento”, remarcou, “e não souberam interpretar as novas realidades nacionais e internacionais de sua época histórica”. O desafio, entende, está numa estratégia ajustada ao tempo histórico e às novas condições de luta em todos os aspectos da vida política, social, cultural e econômica de nossa pátria”.
Daí a necessidade, como frisou, de “definir os caminhos da revolução à luz da agressão internacional, com seus métodos de guerra não convencional, de 2016 em diante”.
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Trechos do discurso de Maduro na instalação do Congresso da Pátria
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