O livro é massudo (600 páginas) e o título “Conversas com jovens diplomatas” pode sugerir algo hermético ou acadêmico. Mas já no prefácio, o leitor é conquistado pelo estilo suave e a linguagem simples de Celso Amorim.
À sisudez dos tratados, que foram muitos na virada da diplomacia que comandou nos oito anos de governo Lula, o chanceler preferiu contar casos e expor situações, muitas vezes complexos e até explosivos.
Trata-se de episódios, que o ministro (ele foi recentemente nomeado para a Defesa, no comando dos militares) soube superar com seu conhecido pragmatismo, aliado a um agudo senso de brasilidade, mas que, no livro, ele se esmera em relativizar.
A forma de diálogo revela-se, igualmente, poderosa para atrair o leitor ainda desconfiado da aridez do tema. É que ele pegou suas principais palestras aos alunos do Instituto Rio Branco, nossa conceituada escola de diplomatas,vinculada ao Itamarati, a sede do ministério das Relações Exteriores, em Brasília.
Só que Celso Amorim não se contentou em amontoar os textos degravados e publicá-los como livro. Não. Ele editou cada palestra, proferidas oralmente, e, nas notas de rodapé, atualizou os dados, para melhor contextualizá-los. Um exemplo: nos reportemos à palestra do dia 20 de abril de 2005. Ao explicar a importância da abertura do Brasil para a África, por alguns considerados dispendiosa e inútil, Amorim enfatiza: “Temos um comércio com a África de US$ 6 bilhões”. Ali, ele falava de uma situação vivida no ano de 2004, que evoluiu, como explica na nota de rodapé da página 26, para 25 bilhões de dólares.
Objeto de críticas acerbas da mídia por causa de sua posição independente frente às grandes potências, Celso Amorim, recorda Azeredo da Silveira, o chanceler do governo militar do general Geisel, que teve a sensibilidade para uma política externa menos atrelada aos Estados Unidos: “.. um grande ministro, que tinha uma visão estratégica da posição do Brasil no mundo: a de que o Brasil não pode renunciar à sua grandeza. Mas, infelizmente, a mídia está cheia de gente – e, às vezes, até entre nós – que quer que o Brasil seja pequeno”, diz ele.
Eu comprei ontem o livro e só li os dois capítulos iniciais, que tratam, o primeiro, da importância da inserção brasileira em mercados alternativos, como a a América Latina, África e Ásia, e o segundo, de nossa força militar no Haiti. São temas relativamente de pequena monta se comparados àqueles que marcaram a arrancada brasileira no tabuleiro internacional, como a Declaração de Teerã, em 2009, a atuação da embaixada brasileira, em Honduras, depois da deposição do presidente Manuel Zelaya, a aproximação de Lula com Chávez, a inviabilização da ALCA, a criação da Unasul e a crise da Bolívia.
Estes temas estão todos distribuídos ao longo de 20 capítulos, encimados por títulos curiosos, que expressam o humor fino, a diplomacia e a ironia deste mais itamartiano dos diplomatas: “Confesso que negociei”, “O Sr. Zelaya está a uns 20 minutos daqui”, “Muita história e pouca geografia”, “Nem automaticidade nem condicionalidade”, “Aquela velha opinião de que o Brasil deve pedir licença”, “Israel pode achar que está destruindo o Hamas, mas está aniquilando a Autoridade Palestina” e “Mesmo com o tratado de livre-comércio com os Estaods Unidos, a Colômbia continuará na América do Sul”. Prometo voltar ao assunto quando degustar isso tudo ou quando um aspecto interessante valer compartilhar com nossos internatuas.
CELSO AMORIM
Conversas com jovens diplomatas
600 páginas
Benvirá, selo da Editora Saraiva, S. Paulo
R$ 65,00