quinta-feira, novembro 21, 2024
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Como Chávez, doença freia Cristina no auge da campanha

FC Leite Filho
Autor de Quem Tem Medo de Hugo Chávez?
A maldição da doença volta a abater-se sobre os presidentes progressistas da América Latina. Cristina Fernández de Kirchner Kirchner foi ontem acometida de um “hematoma subdural crônico” no cérebro, no auge de uma campanha eleitoral, determinante para seu governo. A eleição de metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado, está marcada para 27 de outubro, mas a prescrição médica para que a presidenta guarde repouso absoluto vai até quatro de novembro. A mídia hegemônica, que lhe faz implacável perseguição, terá um prato cheio para se aproveitar do quadro clínico, que não parece simples, e fazer todo tipo de sensacionalismo, como procedeu, infernalmente, ao longo da enfermidade do presidente Hugo Chávez, outra vítima do estupendo império da comunicação privada.

Mas a pergunta agora é: convém aos donos da mídia – Grupo Clarín, de mais de 200 rádios, televisões, jornais, TV a cabo, internet e apoio logístico de seus congêneres continentais, inclusive do Brasil – “decretar” a invalidez da presidenta como o fizeram com Chávez, a partir de junho de 2011 (ele só veio a morrer em cinco de março de 2013)? Ou se vão sugerir golpe publicitário ou outra manobra política da inquilina da Casa Rosada? Ou se se vão se manter quietos pelo receio da comiseração pública, que certamente não será desconsiderável, a julgar pelas mensagens de preocupação que começaram a encher o Twitter, Facebook e outras rede sociais?

O fato é que a mídia, apesar de seu incomensurável mas nem sempre invencível poder sobre as mentes, enfrenta uma sinuca  de bico. Nas primárias gerais, em que votou todo o eleitorado argentino, em 11 de agosto, os candidatos bafejados pela máquina midiática venceram na maioria das grandes cidades. A presidenta, porém, reagiu e se entregou a um corpo a corpo diuturno, que até pode ter provocado sua doença. Não se tem ideia precisa dos efeitos da intervenção presidencial, porque as pesquisas de opinião, como no Brasil, são realizadas, manipuladas e divulgadas pela mesma mídia avassaladora.

Um fato, porém, é incontestável: os governos de Cristina e de seu marido e antecessor Néstor Kirchner arrancaram a Argentina da mais profunda depressão econômica e moral, provocada pelas políticas neoliberais receitadas pelo FMI e outros tutores do poder midiático e que teve seu desenlace na derrubada de cinco presidentes da república, em 2001. De um PIB que caiu quase 20% e um desemprego beirando os 25% (hoje está em torno de 6% apesar da crise mundial) , os Kirchner devolveram o crescimento a taxas quase chineses (média de 7% em dez anos à frente do poder); retomaram a industrialização, que havia sido abandonada e sucateada, propiciando a recuperação e instalação de milhares de novas fábricas; construíram duas mil escolas e distribuíram três milhões de laptops a seus alunos e professores; remodelaram a maioria das 44 universidades e ainda criaram nove modernas universidades fora de Buenos Aires. Os aposentados, que se viam ameaçados de perder suas parcas pensões pelo jogo das privatizações, comandados justamente pelo Grupo Clarín, foram outros beneficiados pela área kirchnerista, com a recuperação de uma remuneração mais digna e sustentável . O programa de bolsa família, a exemplo do modelo de Lula no Brasil, diminuiu a miséria em mais de 50%. Finalmente, uma nova política de alta tecnologia permitiu ao país reviver seus bons tempos de Perón, com o melhor salário mínimo da região, e capacidade inclusive de fabricar seus próprios satélites e outros instrumentos de ponta.

Os argentinos vão então esquecer tudo isso e se deixar engambelar por uma campanha midiática que, sob a bandeira de uma suspeita campanha moralista, quer fazer o país retornar aos anos recessivos de FMI e do domínio financeiro, para dar mais lucros aos financistas locais e seus protetores transnacionais? É uma resposta que só vamos conhecer quando as urnas forem abertas na noite do domingo, 27 de outubro. Enquanto isso, convido-0s a ver alguns vídeos muito ilustrativos da atual situação argentina: 1) Última aparição pública de Cristina: 2) Entrevista feita há 15 dias pelo jornalista Jorge Rial; 3) Boletim médico oficial da noite de sábado 15/10/13.

Última aparição de Cristina Kirchner

Entrevista de Cristina Kirchner

Boletim médico de sábaado 23h50m 04/10/13

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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