Por FC Leite Filho
Prestem atenção na postura de Cristina Kirchner na VII Cúpula das Américas, que reúne amanhã e depois os presidentes dos 34 países do continente, entre eles Barak Obama, na Cidade do Panamá. Ela deverá fazer uma contundente defesa da Venezuela, ameaçada de invasão segundo insinua um decreto do próprio Obama, e responsabilizar os Estados Unidos pelo processo de desestabilização desencadeado ao mesmo tempo contra aquele país, a Argentina e o Brasil. Tudo indica que falará com o respaldo dos respectivos chefes de Estado desses países.
O fórum e a ocasião são bem apropriados para a emergência de uma voz unificadora das forças progressistas, no momento em que o ex-chanceler brasileiro Celso Amorim “denuncia uma nova ofensiva neoliberal para ressuscitar a ALCA”, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães alerta para os riscos de golpe de Estado e ditadura de Mercado no Brasil, e mais se aperta o torniquete desestabilizador sobre os governos Dilma Roussseff, Kirchner e Nicolás Maduro, justamente dos países-chave da região.
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Atualização
Discurso de Cristina na VII Cúpula
Maduro releva Obama, ainda que tenha ameaçado a Venezuela
Raul Castro: Nossa convicção patriótica continua apesar do bloqueio
Presidentes apoiam Venezuela e criticam EUA
Evo Morales: A Venezuela não está só
Rafael Correa: ações de Obama na AL são incoerentes
Dilma: Rechaçamos sanções dos Estados Unidos contra a Venezuela
Chegada ao Panamá e posição argentina
Encontro de Cristina e Dilma
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Cristina, pelo seu desassombro e pelo empenho pessoal e denodado junto aos colegas presidentes que resultaram na frustração de golpes de Estado da Bolívia e Equador e de outras crises produzidas pela ação conjugada dos meios de comunicação, agências de espionagens e grandes corporações, certamente, se qualificará para o papel de Hugo Chávez na articulação dessa nova etapa da integração latino-americana, que chega a esta VII Cúpula com mais força e independência. Ela também granjeou o respeito de seus concidadãos ao defender a economia argentina do assalto dos fundos abutres, na denúncia contra a militarização pela Inglaterra e a OTAN das Ilhas Malvinas e a recuperação de uma economia destroçada ao longo de anos de ditaduras e de governos neoliberais.
Como Hugo Chávez, Cristina, apesar de uma saúde frágil, é outro caxeiro-viajante, que anda pelo mundo na busca da construção de um novo mundo multipolar, em que os direitos sociais e as economias dos países emergentes possam livrar-se da opressão dos tradicionais regimes de dominação. Sua recente viagem à China, além de consolidar uma nova relação geoestratégica, resultou na assinatura de acordos para financiamento de 20 bilhões de dólares na construção de usinas elétricas e nucleares e outras obras. Tais acordos, además de proverem o dinheiro necessário para as construções, permitiu uma folga na economia, vítima de ataques especulativos constantes das grandes corporações. Ela ainda tem uma viagem com o mesmo propósito para a Rússia, com cujo presidente Vladimir Putin, estabeleceu outra relação geoestratégica, no dia 22, e com o Papa Francisco, em Roma, dia sete de junho.
Em discurso recente por cadeia nacional de rádio e TV, Cristina lembrou os assaltos financeiros e midiáticos que desbaratou um a um: “Depois de todas as coisas que nos fizeram para depor o governo, desde corrida aos bancos até lockouts patronais… Por favor, não sejamos bobos, não escutemos os cantos de sereia, (pois) terminamos escutando as sereias da repressão. Por isso, argentinos, sejamos inteligentes, cuidemos do que conseguimos e vamos (reivindicar) mais, como sempre, com a solidariedade se ganha muito mais que com a desilgualdade”.
Atuando até aqui nos bastidores, geralmente em telefonemas aos presidentes e líderes políticos da região, Cristina Fernández de Kirchner tende agora, naturalmente, a assumir um papel cada vez mais protagônico na tessitura da unidade latino-americana, papel que se atribuiu Hugo Chávez, desde que assumiu o governo da Venezuela, em 1999, até sua morte, em cinco de março de 2013. Para isso, ela terá de viajar constantemente para, co sua presença física, incentivar as lutas patrióticas que os povos ameaçados passaram a empreender por toda a América não saxã.
O vácuo aberto a partir daí é atribuído aos problemas internos que imobilizaram Lula e Dilma, no Brasil, Nicolás Maduro, na Venezuela, Rafael Correa, no Equador, e a própria Cristina, esta também afetada por problemas de saúde que limitaram seus movimentos sobretudo internacionais.
Ela tem muito clara a missão a que se propôs Hugo Chávez, que peregrinou muitas vezes não só pelos países vizinhos como pelo mundo árabe (søe ao Brasil veio 12 vezes), a Rússia, a China, Europa e mesmo Estados Unidos, na busca de cimentar a unidade dos povos emergentes. Ao despedir-se do líder com quem tinha uma grande amizade pessoal, falecido depois de longa agonia, Cristina (veja o vídeo abaixo) definiu o papel por ele exercido:
“O Comandante Hugo Chávez entrou definitivamente para a história. Homens como Chávez não morrem, semeiam. Como disse um homem do povo no velório, ele era um libertador de mentes, enquanto Bolivar era um libertador de povos. Um dos grandes méritos de Chávez foi romper uma estrutura cultural e mental. Chávez, além de comandante, foi um grande militante político”.
Na mesma ocasião Cristina observou que “a história nos demonstra que, quando os povos estão desunidos, triunfam as minorias, e quando triunfam as minorias, sofrem as grandes maiorias”. A propósito, lembrou que “os momentos de grande atraso, não das últimas décadas, mas de 200 anos de nossa história, foram as grandes divisões de nossos povos. Quando o povo esteve unido, conseguiu liberar-se do jugo colonial e liberar-se das cadeias do neoliberalismo que haviam nos imposto na década dos 90”.
Liberada dos inconvenientes que a aprisionaram até aqui na Argentina e, se preparando para deixar o governo, em dezembro, com altos índices de popularidade, a presidenta argentina ainda cresce como uma verdadeira liderança continental na medida que enfrenta e derrota a formidável e sinuosa guerra midiática e econômica desfechada contra seu governo, desde que assumiu, em 2007. Recentemente, ela desmistificou factoides dos jornais Clarín e La Nación, que ocuparam as manchetes do mundo inteiro, levando centenas de milhares às ruas na defesa de Alberto Nisman, ao provar que o procurador do caso AMIA e que também a denunciou perante a justiça, era um político corrupto que usava a verba pública para contratar amantes, subtrair salários de funcionários e enviar dinheiro para o exterior.
Espera-se que ela agora percorra o continente e infunda o entusiasmo e a energia chavistas aos governos e povos progressistas, neste momento em que são mais esganiçados os ataques contra as conquistas sociais e políticas dos últimos 12 anos. Não importa que ela consiga ou não eleger seu sucessor na Casa Rosada, porque continuará uma referência cada vez mais afirmativa e um elo de união capaz de juntar esforços na luta ingente que se desenha para enfrentar novas sabotagens dos governos populares.