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Crítica do filme "Amantes"

(Publicado originalmente em Ter, 08 de Setembro de 2009 14:38)

Por Reynaldo Domingos Ferreira.

Veja aqui o trailer.

Contando com a brilhante atuação de Joaquin Phoenix, Amantes, de James Gray, concorrente à Palma de Ouro do Festival de Cannes deste ano, é uma crônica de amor, ambientada em Nova York, aparentemente banal, mas de natureza autobiográfica, que mostra o despreparo do jovem americano para lidar com questões de ordem afetiva.

É verdade que o protagonista, Leonard Kraditor (Joaquin Phoenix), sofre de depressão bipolar com tendência suicida. Mas Michelle (Gwyneth Paltrow), por quem ele se apaixona, é uma criatura apenas imatura, que apela para a droga, porque, amante do advogado Ronald Blatt (Elias Koteas), sócio do escritório em que trabalha, casado, não sabe qual o rumo que ela poderá dar à sua vida.

Ao início do filme, Leonard se atira de uma ponte, em Brighton Beach, no Brooklyn, tentando se afogar porque a noiva (Anne Joyce) o deixou ao se certificar da condicionante incompatibilidade sanguínea de ambos, para a realização do casamento, a fim de se evitar o nascimento de crianças retardadas.

Como filho único do casal Ruth (Isabella Rossellini) e Reuben Kraditor (Moni Moshonov), Leonard, aspirante à arte fotográfica, trabalha, em meio período, na lavanderia do pai, estabelecido numa das movimentadas ruas do Brooklyn. Certo dia, ao chegar a casa, ele conhece, no corredor do edifício, Michelle, uma nova moradora, cujo apartamento dá fundos para o seu.

Enquanto isso, o velho Kraditor trata com os Cohen – Michael (Bob Ari) e Carol (Julie Budd) – de promover, como é do costume entre famílias judaicas, uma aproximação da filha deles, Sandra (Vinessa Shaw), com Leonard, que recebe bem a ideia e acaba gostando da moça.

Mas Michelle insiste em ter Leonard como amigo, confidente e companheiro de festas e de boates. Leva-o até mesmo a jantar, num restaurante famoso do centro de Manhattan, com Ronald, que, num momento de ausência dela, lhe pede que o ajude a afastá-la das más companhias e das drogas.

Recebido pelos Cohen como namorado oficial de Sandra, Leonard pulsa mais forte o coração ao receber, pelo celular, mensagem de Michelle, que o chama, pois está desesperada ante a incerteza de que Ronald cumprirá sua promessa de deixar a mulher e os filhos para ir morar com ela. Entre uma, que gosta de filmes musicais, e a outra, que vai à ópera com o amante, ele se vê numa situação embaraçosa.

A linguagem de Gray – premiado em Veneza por Fuga Para Odessa  – é simples, direta, mas sombria e densa, como a dos filmes europeus, razão por que é muito admirada na França. Como contraponto, ele, que preserva os laços familiares e sabe explorar os eventos da noite de Nova York, usa trilha sonora de excepcional qualidade, de Libby Umstead, rica em músicas internacionais, como as composições de Tom Jobim, Jorge Benjor, Donizetti, Verdi e até mesmo um fado, na interpretação de Amália Rodrigues.

Como aconteceu em Caminhos Sem Volta e em Os Donos da Noite, Gray apoia esse seu trabalho – também indicado ao César de Melhor Filme Estrangeiro – na fotografia bem cuidada de Joaquin Baça-Asay e na interpretação de Joaquin Phoenix, que, dessa feita, não sai de cena. Embora a narrativa não seja de ordem subjetiva, é sob a ótica de Leonard que os fatos são mostrados.

E Leonard lembra o Tom, de À Margem da Vida, de Tennessee Williams, não só pela ingenuidade com que enfrenta as incertezas da vida, o que dá sustentação ao argumento, como por sua ligação com a mãe, Ruth. Assim, a cena em que ele se despede dela, para acompanhar Michelle a São Francisco, é a mais bela do filme. Apenas por uma simples troca de olhar entre Joaquin Phoenix e Isabella Rossellini, tem-se a nítida evidência da ascendência da mãe sobre o filho. Algo semelhante acontecia entre os dois irmãos, Bobby e Joseph, quando o primeiro visitava o segundo, ferido, no hospital, em Os Donos da Noite.

Vale frisar que Phoenix tem, no papel de Leonard, uma atuação, como já ficou dito, memorável, que pode ser a última, se o ator persistir em sua intenção de abandonar a carreira, o que é lamentável, conforme o que ele anunciou ao concluir o filme. A fragilidade doentia que o ator transfere para o protagonista é digna de nota. Isabella Rossellini está igualmente irrepreensível. E Gwyneth Paltrow, Elias Koteas, Vinessa Shaw e Moni Moshonov criam personagens também perfeitamente ajustadas à linha imposta por Gray à sua direção.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

FICHA TÉCNICA

AMANTES

TWO LOVERS

EUA/2008

Duração – 110 minutos

Direção – James Gray

Roteiro – James Gray e Ric Minello

Produção – James Gray, Anthony Katagas e Donna Gigliotti

Fotografia – Joaquin Baca-Asay

Música – Libby Umstead

Edição – John Axelrad

Elenco – Joaquin Phoenix (Leonard Kraditor), Gwyneth Paltrow (Michelle), Isabella Rossellini (Ruth Kraditor), Vinessa Shaw (Sandra), Moni Moshonov (Reuben Kraditor), Elias Koteas (Ronald Blatt), Bob Ari (Michael Cohen), Julie Budd (Carol Cohen)

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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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