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Crítica do filme Amor a Toda Prova

Na enxurrada de filmes ruins que estamos tendo, Amor a toda prova, de Glenn Ficarra e John Requa não é, lamentavelmente, exceção, apesar de ter um elenco constituído de atores de categoria e o roteiro de Dan Fogelman trazer, em algumas situações, uma crítica á sociedade atual pela maneira obtusa com que vem encarando os valores que devem prevalecer no relacionamento humano.

O protagonista, Cal Weaver (Steve Carell), que tem bom emprego e uma bela casa, acredita que vive no melhor dos mundos até o momento em que, saindo para jantar com a mulher Emily (Juliane Moore), ouve dela a confissão de que já não o ama mais, tem um amante, David Lindhagen (Kevin Bacon), seu colega de trabalho e, por isso, quer o divórcio.

Ao impacto da notícia, Cal, na volta para casa, salta do carro em movimento, dirigido por Emily, sofre algumas escoriações e, a partir de então, como um idiota qualquer, começa a propagar aos quatro ventos o seu infortúnio. Passa então a frequentar um bar, onde importuna os demais clientes, falando de suas desventuras até que um indivíduo, Jacob Palmer (Ryan Gosling), narcisista e espertalhão, decide lhe dar lições de como deve proceder para recuperar a auto-estima e empreender novas conquistas amorosas.

Embora convicto de ser experiente no trato com as mulheres, Palmer não consegue, entretanto, impressionar, por falta de cultura, naturalmente, já que herdou bom dinheiro do pai, a única garota que lhe interessa, Hannah (Emma Stone), que ele não sabe de que família procede. Por sua vez, Hannah, estudante de Direito, tem expectativa de ser pedida em casamento por seu colega Richard (Josh Groban), sócio de um famoso escritório de advocacia, onde pretende exercer a profissão.

Tudo vai sendo tecido pelo roteirista, numa desgastada fórmula de coincidências, em que o perfil psicológico de algumas personagens nem sempre se ajusta às peripécias em que elas se metem. Seria o caso, por exemplo, da primeira conquista amorosa de Cal, Kate (Marisa Tomei), uma sensual e devassa garota da noite, que, durante o dia, é professora de inglês do filho dele, Robbie (Jonah Bobo), de 13 anos, a quem repreende – a ponto de pedir o comparecimento dos pais à escola – por dizer palavrões quando da apreciação de um livro de Nathaniel Hawthorne, tido como responsável pelo puritanismo americano.

É verdade que, nesse caso, o contraditório na composição da personagem, que Marisa Tomei segue à risca, como sempre, teve por objetivo claro também uma crítica social, mas que não ganha, em termos dramáticos, o efeito desejado pela falta de sagacidade da direção de Ficarra e Requa. De fato, a condução da narrativa, feita pela dupla, é tímida, indecisa e burocrática. Falta-lhe mais ironia e, o pior, não tem perspicácia suficiente a fim de evitar que certas sequências mergulhem no ridículo, como a da formatura de Robbie, em que ele, ao proferir o seu discurso sobre o descrédito do amor, é censurado pelo pai e volta atrás em tudo o que dissera.

Apesar de todos esses equívocos da parte da direção, os atores, mais do que experientes – alguns detentores do Oscar – saem-se relativamente bem e não deixam que a trama armada pelo roteiro se torne insuportável. Steve Carell – também produtor da película – no papel de Cal, tem atuação discreta, mas sem estímulo interior. Juliane Moore é uma grande intérprete que, como Emily, sabe deixar evidente que a complexidade da natureza das pessoas é de tal ordem que nem sempre se sujeita a uma orientação consciente, traço esse que também caracteriza a composição de Kevin Bacon, como David Lindhagen. Ryan Gosling, como Jacob Palmer, tem cintilantes momentos iniciais para depois se apagar por completo.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
AMOR A TODA PROVA
CRAZY, STUPID LOVE
EUA / 2011
Direção – Glenn Ficarra e John Requa
Roteiro – Dan Fogelman
Produção – Steve Carrell, Vance DeGeneres, Charles Hartsock e David A. Siegel
Fotografia – Andrew Dunn
Trilha Sonora – Christophe Beck e Nick Urata
Edição – Lee Haxal
Elenco – Steve Carrell (Cal Weaver), Juliane Moore (Emily Weaver), Ryan Gosling ( Jacob Palmer), Marisa Tomei (Kate), Kevin Bacon (David Lindhagen),Emma Stone (Hannah), Jonah Bobo (Robbie).

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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