domingo, novembro 24, 2024
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Crítica do filme "Aproximação"

Por Reynaldo Domingos Ferreira

O cineasta israelense Amos Gitai traça interessante e até mesmo desafiadora relação de problemas pessoais com decisões políticas em Aproximação, no qual além de usar apurados recursos de linguagem cinematográfica, reúne quatro grandes estrelas: Jeanne Moreau, Juliette Binoche, Hiam Abbas e Barbara Hendrix, esta cantando um tema de Gustav Mahler.
O roteiro, escrito por Gitai e sua constante colaboradora Marie-Jose Sanselme, tem estrutura bem definida de road movie, pois começa e termina na estrada. A do início é uma ferrovia pela qual transita um trem de passageiros em pleno território italiano. No estreito corredor de um vagão se encontram, e se enamoram, um israelense Uli (Liron Levo), com passaporte francês, e uma palestina Hiam (Hiam Abbas), com documentação holandesa.

A ação se transfere então para a cidade de Avignon, na França, aonde Uli chega para assistir ao enterro do seu pai adotivo, um professor universitário, que está sendo velado pela filha legítima Ana (Juliette Binoche). Gitai explora um magnífico plano sequência de Christian Berger – indicado ao Oscar por seu trabalho em A Fita Branca, de Michael Hanecke – para descrever o ambiente fúnebre, pontuando-o pela voz e pela imagem de Barbara Hendrix, admirável soprano negra americana, que adotou a cidadania sueca, cantando a canção de Mahler.
Evidencia-se, pelo diálogo, a relação conflituosa que havia entre os filhos e o pai, assim como a atração sexual que sente Ana – pronta a se divorciar do marido a quem não ama – por Uli, soldado do exército israelense, que há muito tempo não via, mas não é por ele correspondida. Uli não aceita dormir no quarto que ela lhe mandara preparar na residência, preferindo ir se alojar num albergue, onde dorme em meio a uma gente estranha e desconhecida. Mas recebe, ao lado de Ana, as honras fúnebres prestadas ao pai pelas autoridades da cidade.

Ao saber que, pelo testamento, o pai nada deixara para Uli, a não ser um carro, Ana tenta falsificar o documento de forma a lhe outorgar uma parte dos bens. Ela, entretanto, é logo demovida de seu intento pela advogada do pai, Françoise (Jeanne Moreau), também velha amiga da família. Esta, com autoridade, lhe revela haver o falecido condicionado o recebimento por ela da herança ao reencontro com a filha, Dana (Dana Ivgy), abandonada em criança, que vive, como professora primária, no assentamento da Faixa de Gaza, prestes a ser desocupado pelas forças israelenses.

Diante disso, Ana insiste em acompanhar Uli na longa viagem de volta a Israel, pois tem ele a incumbência de liderar o destacamento militar, que irá promover a retirada dos fanáticos religiosos assentados no território, reivindicado pelos palestinos. Com muita habilidade técnica, Gitai vai atenuando, aos poucos, as questões pessoais para dar mais relevância ao sibilante problema político. E ele o faz a partir de um longo plano, de efeito significativo, que focaliza Ana em frente ao casco negro de um navio, tendo a echarpe, envolvida ao pescoço, sendo agitada pelo vento.

A começar de Liron Levo, ator regular dos filmes de Gitai, e por ele destacado talvez em demasia, como na cena do acampamento, todos os integrantes do elenco exibem atuações memoráveis. Hiam Abbas, que aparece apenas no breve episódio do trem de ferro, está, como sempre, esplêndida. Jeanne Moreau, impecavelmente bem vestida, marca com sua magnetizadora presença, um momento de extrema importância para a evolução do argumento da película – exibida no Festival de Veneza -, embora de curta duração. E Juliette Binoche brilha intensamente, como a desestruturada Ana, tanto na cena em que ela tenta seduzir o irmão Uli, como na do reencontro com Dana, a filha, em meio ao burburinho da desocupação de Gaza, em que ambas se abraçam forte e ternamente.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

ROTEIRO, Brasília, Revista

www.theresacatharinacampos.com

www.arteculturanews.com

www.noticiasculturais.com

www.politicaparapoliticos.com

www.cafenapoltica.com.br

FICHA TÉCNICA

APROXIMAÇÃO

DISENGAGEMENT

França, Alemanha, Itália e Israel

Duração – 118 minutos

Direção – Amos Gitai

Roteiro – Amos Gitai e Marie Jose Sanselme

Produção – Amos Gitai, Laurent Truchot, Michael Tapuach

Fotografia – Christian Berger

Trilha Sonora – Simon Stockhausen

Edição – Isabelle Ingold

Elenco – Liron Levo (Uli), Juliette Binoche (Ana), Jeanne Moreau (Françoise), Hiam Abbas (Hiam), Barbara Hendricks (Barbara), Dana Ivgy (Dana).

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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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