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Crítica do filme "Bastardos Inglórios"

(Publicado originalmente em Qui, 08 de Outubro de 2009 12:48)

Por Reynaldo Domingos Ferreira

Veja aqui o trailer.

Contando com um soberbo elenco internacional, Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino, é uma fábula de motivação histórica, que aborda, numa linguagem muita irônica, mas, também de bastante violência, como sempre, aspectos da II Grande Guerra Mundial, destacando particularmente a importância dada pelo III Reich ao cinema alemão produzido na época.

 Narrado, como Kill Bill, em episódios, nota-se que Tarantino procurou imprimir em cada um deles uma estética  diferente. É bem do seu estilo. A da magistral seqüência inicial, por exemplo, ambientada no primeiro ano da ocupação da França pela Alemanha, na área rural, é a do western, que se identifica não só pela topografia da paisagem, como pelo comentário musical:  o mesmo tema de Álamo, de John Wayne (1960), também uma mistura de guerra e western.

 O título Inglorious Bastards foi tomado do filme de Enzo Castellari, de 1978.  Mas não se trata de uma refilmagem, pois o argumento é original.  Conta, no núcleo central, a história de uma judia Shosanna Dreyfus (Mélanie Laurent), que presencia a execução de sua família, abrigada no porão da fazenda, de Pierre Lapadite (Denis Menochet), pelos soldados nazistas sob o comando do frio e experiente coronel Hans Landa (Christoph Waltz).

Por pouco, Shosanna consegue escapar. E, quatro anos mais tarde, é encontrada em Paris, sob identidade falsa, como proprietária de um cinema. Ao trocar, no letreiro da fachada, o anúncio de um filme de Henry Georges Clouzot (O assassino mora no 21),  Shosanna atrai a atenção de Fredrick Zoller (Daniel Brühl), um soldado alemão, simpático, gentil, amante de cinema, que, desde então, passa a assediá-la.

Enquanto isso, num ponto qualquer da Europa, um grupo de soldados judeus americanos, sob o comando do tenente Aldo Raine (Brad Pitt), começa a se organizar a fim cometer atos violentos de vingança contra o comando nazista na França. Esse grupo, depois chamado de “Os Bastardos”, se alia a uma atriz de sucesso na Alemanha, Bridget  von Hammersmark (Diane Krueger), com o objetivo de conseguir também a derrubada dos líderes do III Reich.

Os acontecimentos vão determinar a convergência das ações de “Os Bastardos” para o cinema de Shosanna, que exibe, em estréia, numa noite de gala, presente a alta cúpula nazista – até mesmo Adolph Hitler (Martin Wuttke) -, a película Orgulho da Nação, de Joseph Goebbels (Sylvester Groth), estrelado por Fredrick Zoller.  É nessa parte, a do uso da metalinguagem, isto é, a da exibição de um filme dentro de outro, que a narrativa de Tarantino perde um pouco o vigor.

Mas o brilho das interpretações de todo elenco é tão intenso que os possíveis desacertos  de direção ou de edição, nessa fase final, passam despercebidos. O austríaco Christoph Waltz, premiado em Cannes, falando três idiomas – alemão, inglês e francês – domina a cena por completo.  Da mesma têmpera do falecido Ulrich Mühe (A Vida dos Outros) e de Karl Markovics (Os Falsários), Waltz compõe, com rigor técnico, uma personagem, Coronel Landa, de vida própria, que transcende os limites em que se encontra inserida.

O ator que, em primeiro lugar, contracena com Waltz, o francês Denis Menochet, embora pouco conhecido, demonstra  ter também grande preparo técnico, pois, emitindo poucas palavras, em inglês ou em seu idioma pátrio, ele, pelos olhos, pela voz e pelas inflexões, antecipa a tragédia, que se anuncia, com a chegada do Coronel Landa e de seus soldados à casa de Lapadite. Mélanie Laurent (Paris), premiada em Cannes por um curta-metragem, também encontra apoio (ou desafio) em Waltz, – e, mais tarde, em Brühl – para  realizar alguns instantes de memorável atuação. O mesmo se pode afirmar de Diane Krueger, mas que também, como Bridget von Hammersmark, se sobressai contracenando, numa taberna, com dois outros excelentes atores alemães: Til Schweiger, como Hugo Stiglitz e Gedeon Burkhard, como Wilhelm Wicki.

A Brad Pitt, que atualmente planta, com cuidado, em Nova Orleans, as sementes de uma provável candidatura democrata à presidência dos EUA, coube o papel de maior destaque, o do líder de “Os Bastardos”, tenente Aldo Raine, que ele defende bem, carregando no sotaque sulista, principalmente quando diz, na cena final, a frase que Tarantino pretendia fosse dita por ele próprio a respeito de seu filme: – Esta é a minha obra-prima!…
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

FICHA TÉCNICA
BASTARDOS INGLÓRIOS
INGLOURIOUS BASTERDS
EUA/2009
Duração – 153 minutos
Direção – Quentin Tarantino
Roteiro – Quentin Tarantino
Produção – Lawrence Bender
Fotografia – Robert Richardson
Música – Mary Ramos
Edição – Sally Menke
Elenco – Brad Pitt (Aldo Raine), Mélanie Laurent (Shosanna Dreyfus), Daniel Brühl (Fredrick Zoller),  Christoph Waltz (Coronel Landa), Denis Menochet (Pierre Lapadite), Diane Krueger (Bridget von Hammersmark), Gedeon Burkhard (Wilhelm Wicki), Til Schweiger (Hugo Stiglitz), Martin Wuttke (Adolph Hitler), Eli Roth (Donny Donowitz), Sylvester Groth (Joseph Goebbels).

leitefo
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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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