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Crítica do filme "Intrigas de Estado"

(Publicado originalmente em Seg, 22 de Junho de 2009 11:35)

Por Reynaldo Domingos Ferreira

Veja aqui o trailer.

O explorado tema da independência dos jornalistas em relação aos homens do poder, muito em voga nos anos de 1970, quando se deu a revelação do escândalo Watergate, causador da renúncia do ex-presidente Richard Nixon, está de volta em Intrigas de Estado, de Kevin McDonald, que, entretanto, tem mais característica de folhetim policial do que propriamente de filme sobre jornalismo. O roteiro, baseado no argumento de uma série televisiva da BBC, de 2003, é assinado por profissionais de categoria, como Matthew Michael Carnahan, Tony Gilroy, Peter Morgan e Billy Ray.

Apesar disso, não deixa de assumir tom rocambolesco, repleto de clichês, ao relacionar fatos criminosos ocorridos em dois dias seguidos, em Washington, um dos quais vitimou, no metrô, uma jovem, que se suspeita haver se suicidado. A idéia de mostrar o empenho do jornalista em buscar a verdade doa em quem doer fica assim relegada, mesmo que a direção de McDonald (O Último Rei da Escócia) tenha arquitetado uma cena, na biblioteca do Congresso Americano, em que aparecem os figurões das reportagens do Washington Post: Bob Woodward, Margaret Carlson, Bob Schieffer, John Palmer, E. J. Dionne, Katty Kay e Steven Clemens.

O desacerto não está apenas no roteiro, rejeitado por Brad Pitt e Edward Norton, que vinham se empenhando no projeto para interpretar os papéis do repórter Cal McAfrrey e do senador Stephen Collins. Está também na mise-en-scène de McDonald, que evita imprimir linha política ao argumento para seguir os preceitos do filme noir, como fica evidente até pela exagerada tonalidade escura da fotografia do mexicano Rodrigo Prieto. Demais, Russel Crowe, chamado às pressas para substituir Pitt como McAffrey, embora tenha visitado redações de jornais, não convence na sua composição de jornalista. A começar pelo desleixo da sua apresentação pessoal – mesmo que queira fazer com isso alusão à situação de penúria dos jornais -, ele se porta mais, a meu ver, como se fora ainda aquele desencantado detetive Ritchie Roberts, de O Gangster, de Riddley Scott, uma de suas últimas atuações. A ação se inicia, quando o senador Collins (Ben Affleck), um ex-militar, aparentemente fleumático, presidente de uma comissão de inquérito sobre uma empresa de segurança, a PointCorp, que atua com mercenários, verte lágrimas, ao anunciar diante das câmaras de televisão, em pleno exercício de sua função, a morte de Sonya, integrante do staff de pesquisa de seu gabinete. Por deixar às claras que tinha um caso amoroso com a moça, embora casado com Anne Collins (Robin Wright Penn), o senador se vê em apuros diante do assédio da imprensa. Por isso, ele vai pedir ajuda a McAffrey, que sabe ser amante de sua mulher, mas que, além de ser seu amigo desde os tempos de escola, lhe prestara assessoria na campanha pela reeleição. McAffrey vive mal, num cubículo miserável, que o senador demonstra já conhecer bem.

Da conversa de ambos surge, primeiro, a confissão de Collins de que estava realmente enamorado de Sonya e, segundo, que ela lhe enviara mensagem, de imagem, pelo celular, naquela manhã, antes de chegar à estação do metrô, o que, a seu ver, afastava qualquer possibilidade de haver se suicidado. Ao chegar à redação, McAffrey obtém da colega Della Frye (Rachel McAdams) informação sobre o local em que se dera o acidente, perto de uma câmara de segurança da estação, que gravara imagem de Sonya conversando com um homem bem vestido. A compreensão dele é a de que moça poderia ter sido assassinada a mando da PointCorp. Mas ele estranha também que, ao falar com Anne Collins, ela saiba que Sonya recebia, no gabinete do seu marido, vencimentos de 26 mil dólares mensais… Além de Russel Crowe, Ben Affleck, Rachel McAdams e Robin Wright Penn, constam do elenco outros nomes famosos, como os de Helen Mirren, Jeff Daniels e Viola Davis, todos em papéis insignificantes. O que mais se destaca, entre eles, é Ben Affleck, que, como o senador Collins, demonstra estar avançando, cada vez mais, no seu aprimoramento técnico.

Mas quem brilha em termos de interpretação, numa ponta, é Jason Bateman, que atua como Dominic Foy, um relações públicas bissexual, de quem McAffrey, como detetive, extrai a informação mais preciosa para elucidar a questão. Esse Bateman é o tal!… Pois ele soube aproveitar, como ninguém, a oportunidade que lhe foi dada.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

FICHA TÉCNICA
INTRIGAS DE ESTADO
STATE OF PLAY
EUA/Reino Unido/ 2009
Duração – 123 minutos
Direção –  Kevin McDonald
Roteiro –Matthew Michael Carnahan, Tony Gilroy, Peter Morgan e Billy Ray, baseado numa série televisiva da BBC de 2003.
Produção – Andrew Hauptman,Tim Bevan, Eric Felner
Fotografia – Rodrigo Prieto
Música Original – Alex Heffes
Edição – Justine Wright
Elenco – Russel Crowe (Cal McAffrey), Ben Affleck (Stephen Collins), Rachel McAdams (Della Frye), Robin Wright Penn (Anne Collins), Jeff Daniels (), Helen Mirren (), Viola Davis () e Jason Bateman (Dominic Foy)

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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