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Crítica do filme "Invictus"

(Publicado originalmente em Qui, 11 de Fevereiro de 2010 19:54)

Por Reynaldo Domingos Ferreira

Veja aqui o trailer.

Em Invictus, de Clint Eastwood, o líder Nelson Mandela, em seu primeiro mandato como presidente da África do Sul, após cumprir a pena de 27 anos na prisão, demonstra habilidade política ao usar o esporte para superar os problemas de cisão do país decorrentes do apartheid.

O filme se baseia no livro Playing The Enemy: Nelson Mandela And The Game That Changed A Nation, de John Carlin, com roteiro escrito por Anthony Peckham, de muita funcionalidade, porém, sem detalhes rebuscados. A ênfase, tanto do roteiro como da direção, se assenta na questão – sem muito significado, infelizmente, em nosso meio – de que é imprescindível que o líder seja uma figura exemplar para seus liderados a fim de merecer deles a estima, o respeito e a consideração. É em torno do esporte que se inicia a conversa de Mandela (Morgan Freeman) com François Pienaar (Matt Damon), capitão do Springbok, o time de rugby, que passava por uma fase ruim, desacreditado pela torcida, constituída de brancos, às vésperas da Copa Mundial (1995), a ser sediada na África do Sul. Mandela, ao servir ele próprio ao jogador o chá da tarde, lembra-lhe que esse costume, assim como o rugby, foram duas boas coisas que lhes deixaram os ingleses.

Mas cita também a inspiração que lhe deu a leitura, na cadeia, do poema Invictus, do britânico William Ernest Henley, para incentivar François a buscar, da mesma forma, uma maneira de motivar seus companheiros a se empenharem pela conquista da Copa, o que, para muitos, àquela altura, parecia impossível. A primeira providência, nesse sentido, recomendada a François, foi a de levar o time, que tinha apenas um integrante negro – Chester Williams (McNiel Hendricks) –, a divulgar a prática do rugby  em meio às crianças das favelas.

Assim, enquanto Mandela cuidava de atrair investimentos externos para promover o desenvolvimento econômico do país, François ia aos poucos quebrando a resistência dos jogadores no sentido de aceitar as orientações que lhe chegavam do presidente. Sob esse aspecto, o filme poderia cair no lugar comum de muitos outros sobre esportes, se não estivesse sublinhada a narrativa de uma homenagem de Eastwood – como ele o fizera em Os Imperdoáveis em relação ao western – a Nelson Mandela, que exerceu a política como um sacerdócio, conseguindo com isso obter a unidade de seu povo. Há, por sinal, uma cena, em que Mandela afirma: – A África do Sul precisa ganhar um sentido de grandeza!… E , sem dúvida, ganhou.

Outro fator que difere Invictus de filmes do gênero são as interpretações de Morgan Freeman e de Matt Damon, que dão a seus personagens os perfis exatos que lhes exige a linha de direção de Eastwood. Freeman, responsável também pela produção executiva da película, outorga dimensão histórica à personalidade de Mandela. Ele é um gentleman, fino e cordial, no trato com os servidores do palácio governamental, herdados da administração anterior, como também manda a tradição inglesa, mas firme e afirmativo, quando tem de tomar uma decisão importante para o país: – O povo está errado. – ele diz – Precisa ser orientado a respeito.

Quanto a Matt Damon, o estilo pelo qual ele demonstra a imagem externa de François, premido entre a força oposicionista do pai e a consideração que lhe tem o chefe de Estado, é notável. A combinação de suas maneiras com o ambiente do palácio e, depois, frente ao grande líder, mostra como o ator tem sob perfeito domínio a técnica de representar. Mas não se pode deixar de observar ainda a manifestação de espanto, estampada em seu rosto, quando François, criado em berço de ouro, se depara, pela primeira vez, com os casebres miseráveis em que vivem as crianças que, alegres, esperançosas, saúdam a chegada dos jogadores do Springbok, até então um time de brancos.

Talvez a grande qualidade da direção de Eastwood, nesse filme, esteja centrada na observância de uma fronteira, que ele próprio cria, para não poder invadir – até por uma questão de equilíbrio estético – um mundo que não é o seu. E para conseguir isso, o cineasta de Bird vai buscar na música, em que também é suficientemente versado, o instrumento adequado para criar algumas cenas de grande emoção.  Pois de fato, a trilha sonora, de Kyle Eastwood (filho do diretor) e Michael Stevens, é rica em temas que se identificam cabalmente com a ambientação político-social da história, como  a abertura 900 Days, com Yollande Nortjie e Madibas´s Theme.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

FICHA TÉCNICA

INVICTUS

EUA/2009

Duração – 133 minutos

Direção – Clint Eastwood

Roteiro – Anthony Peckham,  baseado no livro Playing The Enemy: Nelson Mandela And The Game That Changed A Nation, de John Carlin

Produção – Clint Eastwood, Lori McCreary, Robert Lorenz e Mace Neufeld

Fotografia – Tom Stern

Música Original: Kyle Eastwood e Michael Stevens

Edição – Joel Cox e Gary D. Roach

Elenco – Morgan Freeman (Nelson Mandela), Matt Damon (François Pienaar), Adjoa Andoh (Brenda Mazikubo), Tony Kgoroge (Jason Tshabalala), Julian Lewis Jones (Etienne Feyder), McNiel Hendricks (Chester Williams), Scott Eastwood (Joel Stransky).

leitefo
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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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