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Crítica do filme London River – Destinos Cruzados

Interpretado por dois atores esplêndidos, London River- Destinos Cruzados, de Rachid Bouchareb, relata a casualidade do encontro de um homem e de uma mulher, vindos do meio rural, de países e de credos religiosos diferentes, que estão em Londres à procura de seus filhos estudantes, desaparecidos após o atentado terrorista a ônibus e metrô, ocorrido em julho de 2005.

O argumento, de autoria do próprio Bouchareb (Fora-da-Lei), em colaboração com Zoé Galeron e Olivier Lorelle, não é dos mais originais e chega mesmo a apresentar algumas inconsistências. Apesar disso, a linguagem narrativa é simples, de nível sensorial, que se apoia basicamente no trabalho dos atores e, como é do estilo do realizador, em sequências interligadas e bem pontuadas por música quase sempre de Armand Amar.

Elisabeth Sommers (Blenda Blethyn) tem uma pequena propriedade rural numa ilha do Canal da Mancha, onde cultiva frutas e hortaliças. Após o culto de sua igreja protestante, ela costuma visitar o túmulo do marido, um ex-oficial da Marinha, morto na guerra das Malvinas. Depois, vai saudar o mar no alto de um rochedo. Ao voltar a casa, naquele fatídico 7 de julho, ela fica sabendo do atentado pela televisão. Faz várias ligações para o celular da filha, que caem sempre na secretária eletrônica.

Preocupada, Elisabeth chama o irmão Edwards (Marc Baylis) para tomar conta da propriedade e viaja para Londres. Quando o táxi, que apanhou na estação, deixa-a em frente a um açougue, ela estranha ser aquele o endereço da filha, o que é logo confirmado pelo proprietário do prédio (Roschdy Zem), que não só elogia a moça, como lhe entrega a chave subsidiária do apartamento, localizado numa viela ao lado, para ela se acomodar. E nada mais diz.

Depois de percorrer postos policiais e hospitais sem obter qualquer notícia da filha, Elisabeth decide afixar cartazes com a foto dela em vários pontos da cidade, indicando seu telefone para receber informações. São esses cartazes que chamam a atenção de Ousmane (Sotigui Kouyaté), um africano, muçulmano, vindo no interior da França, onde trabalha como guarda florestal. Ele, da mesma forma, procura o filho, mas não o conhece, pois, criado pela mãe, na África, não o vê desde que tinha seis anos. Numa foto por ele conseguida na mesquita, o rapaz aparece ao lado de uma moça, que pode ser a filha de Elizabeth.

Apesar das barreiras iniciais impostas por Elisabeth, estabelece-se, aos poucos, entre as duas personagens, um sentido de solidariedade à medida que vão descobrindo como é o relacionamento que une seus filhos. Pela origem de ambos, que se dedicam ao árduo trabalho com a natureza – Ousmane luta, na floresta, contra a extinção dos olmos e talvez possa até dar alguma lição aos parlamentares que representam as elites ruralistas e comunistas, agora unidas na discussão do novo Código Florestal Brasileiro -, o filme se orienta cada vez mais por uma linguagem panteísta, que vai pautar principalmente a tocante cena final.

Blenda Blethyn , que representa o papel de Elisabeth Sommers, tornou-se um dos nomes mais expressivos da cena britânica desde Verdades e Mentiras, de Mike Leigh, com a qual ganhou o Globo de Ouro e os prêmios de Melhor Atriz do Cinema Inlgês (BAFTA) e do Festival de Cannes (1996).Antes, ela já se destacava no Royal National Theatre e na televisão. Como Elisabeth, ela é uma criatura tímida, que não se deixa abater, pois retém as lágrimas pelo fato de ser sozinha e de precisar ir avante à procura da filha seja a que custo for. Sotigui Kouyaté, ator do Mali, intérprete de Ousmane, se consagrou com essa brilhante atuação, pela qual recebeu o Urso de Prata do Festival de Berlim (2009). Antes, ele havia trabalhado com Peter Brook, com Bernardo Bertolucci e com o filho dele, Dany Kouyaté, no filme Keita! L´Heritage Du Griot (1995). Kouyaté faleceu em abril do ano passado, aos setenta e dois anos, em Paris.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
LONDON RIVER – DESTINOS CRUZADOS
LONDON RIVER
Reino Unido, Bélgica (2009)
Duração – 90 minutos
Direção – Rachid Bouchareb
Roteiro – Rachid Bouchareb, Zoé Galeron e Olivier Lorelle
Produção – Rachid Bouchareb, Jean Bréhat, Matthieu de Braconier
Fotografia – Jérôme Alméras
Trilha Sonora – Armand Amar
Edição – Yannick Kergoat
Elenco – Blenda Blethyn (Elisabeth Sommers), Sotigui Kouyaté (Ousmane), Sami Bouajila (Imam), Roschdy Zem (Açougueiro), Marc Baylis (Edward), Bernard Blancan (Operário florestal), Francis Magee (Inspetor).

leitefo
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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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