quinta-feira, novembro 21, 2024
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Crítica do filme My Way – O Mito além da Música

É extraordinária a atuação do ator belga Jéremie Renier, como intérprete, no papel do cantor e compositor Claude François, no filme biográfico, “My Way, O Mito Além da Música” (Cloclo), de Florent Emilio-Siri. Grande ídolo da juventude francesa, nas décadas de 60 e 70, hoje totalmente esquecido, François foi também o autor de, entre outras, a canção My Way (Comme d´habitude), que imortalizou Frank Sinatra e se tornou uma das músicas mais ouvidas no mundo.
Com uma direção de ritmo frenético a espelhar a própria vida de Claude François (Jéremie Renier), Florent Emilo-Siri (O inimigo Íntimo), também autor do roteiro, em colaboração com Jean Rappeneau, evoca, com habilidade técnica, as várias facetas do caráter do artista, do homem de negócios, do chefe de família autoritário, antipático, até mesmo odioso, e sedutor, como o pai, Aimé François ( Marc Barbé). Mas Claude era , da mesma forma, afetuoso com os dois filhos e preocupado em se manter saudável, pois pouco bebia, não fumava, nem muito menos usava droga. Sua animação nos shows era, portanto, autêntica, genuína.
A película tem início no Canal de Suez, no Egito, onde trabalha Aimé, como operador do mecanismo regulador das comportas. Preocupado com o futuro do filho, ainda criança (Tom Dufour) , ele o leva ao trabalho a fim de motivá-lo a aprender o seu ofício. Ao voltar a casa, onde a mulher Chouffa (Monica Scattini) joga pôquer com amigas, ele, exigente, toma lições de violino de Claude, aluno do conservatório local. Também não passam despercebidos os olhares trocados por Aimé com uma (Marie Legault) das parceiras de jogo da mulher. Essa situação estável da família, contudo, sofre forte e definitivo abalo depois de uma crise político-social no Egito, em decorrência da qual Aimé perde o emprego.
A família tem de se mudar para Marselha, onde passa a viver em condições precárias, sem ter mesmo o que comer. Claude, já rapazola, consegue ser contratado como baterista de um conjunto musical. Com o seu salário, ele pensa poder ajudar a família, mas, ao falar com o pai, sua ideia é por ele prontamente repelida. Aimé quer ver o filho trabalhando em um banco. Os dois se desentendem e Claude é expulso de casa, ganhando assim a liberdade de trilhar o seu próprio caminho. Contratado como baterista, ele também canta e dança, conquistando o público. Enquanto isso, a irmã de Claude, Josette (Sabina Seyecou), se casa com um homem de posses e melhora a vida dos pais.
Incentivado por amigos, Claude grava um disco com suas canções para mostrá-lo a empresários parisienses. De um deles recebe o conselho para ouvir, no Olympia, o tipo de música de que os jovens gostam, pois a dele, melódica, ao estilo da canção tradicional francesa, está ultrapassada. Ele vai a um show de Johnny Halliday (Arthur Defays). Vê como a moçada se comporta, animadamente, ao ritmo do rock. E se convence de que tem condições de criar música semelhante, ou até melhor, para se lançar ao sucesso. É isso o que faz.
Depois de ser glorificado pelo público e pela imprensa por suas aplaudidas audições em toda a França, François enriquece, restaura um casarão, leva a mãe a morar com ele – o pai morrera – e conhece a cantora Janet Woollacott (Maud Jurez), com quem, apaixonado, se casa. Ela, porém, fica pouco tempo em sua companhia, pois logo o abandona para viver com o também cantor e compositor Gilbert Bécaud (Emmanuel Rossefelder), autor de Et Maintenant… Foi a segunda esposa, Isabelle Forêt, quem lhe deu os dois filhos: Claude Jr. e Marc François. Ele teve ainda esporádicos casos amorosos com France Gall (Josephine Japy) e Sophie Mister (Kathalyn Jones), sua última companheira, a que testemunhou sua morte, num acidente doméstico, aos trinta e nove anos.
Foi por sentir saudade da rotina de vida, que levava com uma delas – possivelmente France Gall -, que François interrompeu sua fase de agradar ao público para agradar a si próprio: retomou o tradicional estilo da canção francesa, para compor “Comme d´habitude”, que gravou, logo em seguida. O importante é confirmar, pelo filme, que Frank Sinatra, embora tenha conseguido obter, com a canção – a letra, em inglês, é de Paul Anka – o seu maior sucesso, ele nunca, em suas várias viagens à França, mostrou interesse em conhecer o seu autor. E François, por timidez, mesmo tendo encontrado Sinatra à porta de um hotel, não conseguiu se apresentar a ele.
Sem esquecer a excelência da trilha sonora de Alexandre Desplat, o filme deve ser avaliado principalmente pela soberba atuação de Jéremie Renier (Hora de Verão) como o protagonista. Por sinal, foi depois de conhecer o ator e atestar sua impressionante semelhança física com François que os filhos dele autorizaram o início da rodagem da película, com locações na Bélgica e no Marrocos. Foi Renier quem indicou Benoît Magimel (Mon Pote) para interpretar o empresário Paul Lederman. Irreconhecível pela maquiagem e pelo sotaque judeu-marrroquino, Magimel tem também brilhante participação. E, de forma generalizada, o elenco é muito bom.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasilia, Revista
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FICHA TÉCNICA
MY WAY – O MITO ALÉM DA MÚSICA
CLOCLO
França 2012
Duração – 148 minutos
Direção – Florent Emilio-Siri
Roteiro – Florent Emilio-Siri e Jean Rappeneau
Produção –Cyril Colbeau-Justin, Jean-Baptiste Dupont, Maya Hariri
Fotografia – Giovanni Fiori Coltellacci
Trilha Sonora – Alexandre Desplat
Edição –Olivier Gajan
Elenco – Jéremie Renier (Claude François), Benoît Magimel (Paul Lederman), Monica Scattini (Chouffa, a mãe), Maud Jurez (Janet Moollacott), Ana Girardot (Isabelle Forêt), Josephine Japy (France Gall), Kathelyn Jones (Sophie Mister),Sabina Seyecou (Josette, a irmã), Robert Knepper (Frank Sinatra),Tom Dufour (Claude François, criança) , Marc Barbé (Aimé François, pai), Emmanuel Rossefelder (Gilbert Bécaud), Arthur Defays (Johnny Halliday), Marie Legault (amiga de Chouffa)

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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