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Crítica do filme "O Grupo Baader-Meinhof"

(Publicado originalmente em Ter, 18 de Agosto de 2009 11:45)

Por Reynaldo Domingos Ferreira

Veja aqui o trailer.

Reunindo um elenco notável, liderado pelo grande ator Bruno Ganz, O Grupo Baader-Meinhof, de Uli Edel, reconstitui, com rigor técnico e sem mistificação, o terrorismo da Facção do Exército Vermelho (RAF), de ideologia marxista-leninista, que assoberbou a Alemanha na década de setenta do século passado. O roteiro, de Stefan Aust e de Bernd Eichinger, que se baseia no livro homônimo do primeiro – ex-chefe da revista Der Spiegel -, em autos da investigação e em imagens de arquivo, procura por isso ser o mais autêntico e jornalístico possível, mas com o claro objetivo de desconstruir o mito criado em torno do grupo terrorista.

Tanto assim que a última “fala” da película, indicada ao Oscar e ao Globo de Ouro de Melhor Filme de Língua Estrangeira, é emblemática: é a de uma jovem seguidora da RAF (Rote Armee Fraktion) que, desiludida, ao saber, pela televisão, dos suicídios dos líderes do movimento – Ulrike Meinhof (Martina Gedek), Andréas Baader (Moritz Bleibtreu) e Gudrun Ensslin (Johana Wokalek) -, refuta a desconfiança dos seus companheiros de que eles teriam sido assassinados na prisão, afirmando-lhes: – Parem, por favor, de pensar que eles eram o que nunca foram!…

E, como complemento, ouve-se a bela canção de Bob Dylan, Blowin´In The Wind, que acompanha boa parte dos créditos finais, cujos primeiros versos dizem: How many roads a man must walk down before you call him a man (Quantos caminhos tem um homem de percorrer antes de ser chamado homem). Pois, de fato, a narrativa de Edel – que talvez peque por não conduzi-la como se fosse um thriller de muitas emoções, como gosta o público – mostra como as atrocidades da Guerra do Vietnã, tomando conta da mídia, perturbavam a mente da juventude alemã da época, sequiosa de justiça, pois que herdeira de uma geração conivente com as barbaridades do governo nazista. Os ânimos se incendeiam, em Berlim, em 1967, quando um estudante é morto pela polícia numa manifestação contra os EUA, tal como se inicia o livro. Depois, os jovens correm às ruas, ainda sob a forte repressão policial, para protestar contra a visita ao País do Xá da Pérsia, Rheza Palevi, e de sua esposa Farah Diba. O líder esquerdista Rudi Dutschke (Sebastian Blomberg) sofre duro atentado perpetrado por um jovem psicopata direitista, que o chama de “comunista nojento”. Logo em seguida, o também perturbado mental Andréas Baader e sua namorada Gudrun Ensslin, membros do grupo, pertencentes à alta burguesia alemã, são presos depois de explodirem uma loja de departamentos.

Enquanto isso, a jornalista Ulrike Meinhof, que, nos finais de semana, freqüenta praia de nudismo com o marido e os filhos, vai elaborando, em sigilo, a ideologia do grupo: se alguém rouba um carro, comete um crime, mas se vários carros são roubados ao mesmo tempo, isso se transforma em ato político, segundo ela. Há uma pessoa que compreende os motivos geradores da rebeldia dos jovens alemães. É o chefe de polícia Horst Herald (Bruno Ganz), designado pelo governo para comandar a caça aos terroristas. Para orientar seus comandados – muito dos quais revoltados pela morte de tantos colegas atingidos por emboscadas terroristas -, ele costuma tomar com eles uma sopa de lagosta.

O elenco, constituído por grande número de astros de primeira linha do cinema alemão, é excepcional. E vale a pena observar como, auxiliados pela maquiagem, os intérpretes dos componentes do grupo Baader-Meinhof se tornaram, pela aparência, quase idênticos às suas personagens, cujas fotos, estampadas em folhetos, eram afixadas nos aeroportos da Europa. Martina Gedek (A Vida dos Outros), como Ulrike, tem grande atuação, quando, na cadeia, percebe que seus trabalhos teóricos estão sendo alterados ou censurados por Gudrun. Ela comparece ao tribunal, defende seu ponto de vista ao arrepio dos companheiros, que já a haviam ameaçado de morte, depois, se isola na cela e se mata. Moritz Bleibtreu (Corra, Lola, Corra), em uma personificação perfeita de Baader, trabalha principalmente com os olhos vidrados para exprimir o estado de alucinação da personagem ao comandar violentos atentados contra policiais, promotores e juízes. Johana Wokalek, como Gudrun, também se destaca numa interpretação rica em detalhes técnicos. Sebastian Blomberg cria figura de naipe histórico para o líder esquerdista Rudi Dutschke. E Bruno Ganz, com voz pausada, olhar e expressão facial meio misteriosos, dá ao policial Herald uma personalidade de muita força na ação, que é sublinhada por uma trilha sonora de Peter Hindertheir e Florian Tesstoff, de muita qualidade, e fotografada, com esmero, por Rainer Klausmann.

FICHA TÉCNICA

O GRUPO BAADER-MEINHOF

DER  BAADER MEINHOF KOMPLEX

Alemanha/2008

Duração – 150 minutos

Direção – Uli Edel

Roteiro – Stefan Aust e Bernd Eichinger, com base no livro homônimo do primeiro.

Produção – Bernd Eichinger

Fotografia – Rainer Klausmann

Música Original – Peter Hindertehir e Florian Tesstoff

Edição – Alexander Bemer

Elenco – Martina Gedeck (Ulrike Meinhof), Moritz Bleibtreu (Andréas Baader), Johana Wokalek (Gudrun Ensslin), Sebastian Blomberg (Rudi Dutschke), Bruno Ganz (Horst Herald), Jan Josef Liefers (Peter Homann) Stipe Erceg (Holger Meins), Niels-Bruno Schmidt (Jean Carl Raspe), Eckhard Dilssner ( Horst Bubeck)

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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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