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Crítica do filme O Vencedor

A história de um lutador de boxe, de Massachusetts, nos EUA, que fracassou ao se envolver com a droga, mas se realizou, depois, ao ver o irmão, por ele treinado, disputar o titulo mundial de sua categoria rende boa dramaturgia para O Vencedor, de David O. Russell. Por ser biográfico, o roteiro – assinado por Scott Silver, Paul Tamasy, Eric Johnson e Keith Dorrington – não tem por que ser espetaculoso, cheio de novidades e com final imprevisto. Apesar disso, é objetivo, límpido e bem construído.

Micky Ward (Mark Wahlberg), de trinta anos, aspira a ser um lutador da categoria peso pesado, como o foi, no passado, seu meio-irmão Dicky Eklund (Christian Bale), orgulho da classe operária de Lowell, uma cidadezinha de cem mil habitantes, encravada no interior de Massachusetts. Empresariado pela mãe Alice Ward (Melissa Leo) e treinado pelo irmão, Micky não vem conseguindo, entretanto, bons resultados em suas lutas, tornando-se saco de pancada de seus contendores.

A anunciada intenção da HBO de realizar um documentário sobre o passado de glória de Dicky faz a família – constituída de nove filhos, sendo sete mulheres – acreditar que essa será a oportunidade de ele se reabilitar e voltar aos tempos em que era famoso. Alice e Dicky programam uma luta para Micky em Atlantic City, mas o oponente escolhido adoece e, à última hora, surge um substituto bem mais pesado, que leva Micky a apanhar horrores na lona. Frustrado em sua carreira, Micky começa a namorar Charlene Fleming (Amy Adams), uma ex-atleta dos tempos escolares, que trabalha agora como atendente num bar.

Alice agenda outra luta para Micky, que, entretanto, hesita em aceitar sua proposta. A mãe e as sete irmãs se convencem de que há interferência de Charlene na questão e partem a tirar satisfação com a moça. A confusão é enorme. Micky aparece e comunica à mãe que recebera oferta para treinar, com remuneração, em Las Vegas. Enquanto isso, Dicky apronta baderna na “zona” da cidade, agride um policial e acaba sendo preso. Parece que o mundo vai acabar para os Ward, na noite em que o documentário da HBO é exibido, mostrando cenas do envolvimento de Dicky com droga. Na cadeia, Dicky se desespera e quer impedir que os demais detentos prossigam assistindo à televisão. Ele é retirado pelos guardas do recinto.

Russell narra os acontecimentos com fina ponta de ironia para mostrar os costumes interioranos dos EUA. Mais que tudo, ele destaca a força da matriarca no meio. Contra ela ninguém se opõe. Os homens da família são, diante dela, uns “bananas”. O marido, George Ward (Jack McGee), até apanha. E apenas diz: Chega, chega. Você está nervosa!… Mas talvez a cena mais ilustrativa dessa situação seja a do reencontro de Alice com Dicky, quando ela vai apanhá-lo, de caminhonete, e o repreende. Para não se alterar com a mãe, pois, de todos é o que tem o trato mais maleável com ela, Dicky começa a cantar uma canção de Armstrong, forçando-a a fazer um dueto.

Nesse contexto, a interpretação – orientada por Darren Aronofsky (Cisne Negro), produtor executivo, também planejador das cenas de pugilismo – é o componente importante do filme. Eis o motivo por que o elenco é constituído de atores capazes de desenhar à perfeição as personagens delineadas no roteiro, muitas das quais ainda estão vivas, como mostram os créditos finais. Melissa Leo está magnífica como Alice, compondo um papel diferente daquela outra mãe, Ray Eddy, de Rio Congelado. Amy Adams volta também esplêndida, como Charlene, numa composição diversa da Irmã James, de Dúvida. Mark Wahlberg, produtor, em sua terceira parceria com Russell, demonstra, atuando como Micky, o mais tímido dos irmãos Ward, firmeza e contenção de meios e, finalmente, Christian Bale, soberbo, que, como Dicky, pelo seu humanismo, não deixa ninguém se lembrar de que, um dia, já foi também o Batman, um super-heroi. Era tudo o que ele, como um profissional consciente, naturalmente queria!…

FICHA TÉCNICA
O VENCEDOR
THE FIGHTER
EUA/2010
Duração – 115 minutos
Direção – David O. Russell
Roteiro – Scott Silver, Paul Tamasy, Eric Johnson, Keith Dorrington
Produção – Mark Wahlberg, David O. Russell, Darren Aronofsky, David Hoberman, Eric Johnson, Keith Dorrington, Paul Tamasy, Todd Lieberman
Fotografia – Hoyte Van Hoytema
Trilha Sonora – Michael Brooke
Edição – Pamela Martin
Elenco – Mark Wahlberg (Micky Ward), Christian Bale (Dicky Eklund), Melissa Leo (Alice Ward), Amy Adams (Charlene Fleming), Jack McGee (George Ward) Melissa McMeekin (Alice Eklund), Bianca Hunter (Cathy Eklund), Erica McDermott (Cindy Eklund), Jill Quigg (Donna Eklund), Dendrie Taylor (Gail Eklund), Kate O´Brien (Phyllis Eklund), Jenna Lamia (Sherri Ward).

leitefo
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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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