quinta-feira, novembro 21, 2024
InícioCinemaCrítica do filme Pina

Crítica do filme Pina

Como o nome indica, Pina, de Wim Wenders, é um magnífico documentário, exibido fora da competição no 61º Festival de Berlim, que se inspira na obra da coreógrafa alemã Pina Bausch, diretora do legendário Tanztheater (teatro de dança) Wuppertal, falecida, de forma inesperada, na fase de preparação das filmagens, em junho de 2009.

A ideia de transpor para o cinema a obra de Bausch surgiu em 1985, quando Wenders viu, pela primeira vez, numa retrospectiva em Veneza, uma de suas coreografias mais famosas, Café Müller, que o impressionou muito. Desde então, o cineasta de Paris Texas, conforme esclarece, vinha buscando – o que retardou a execução de seu projeto – uma fórmula de registrar em imagens o estilo, muito próprio, de dança contemporânea por ela criado.

Isso se tornou possível , quando Wenders viu, em Cannes, a exibição de U2-3D, documentário sobre um show da famosa banda de rock irlandesa. Ele compreendeu que, pelo uso da nova tecnologia, com a incorporação de outra dimensão de espaço, seria possível dar uma linguagem adequada, cinematográfica, para a criação artística de Bausch no Tanztheater. E o resultado, pode-se dizer, foi prodigioso.

Trabalhando junto com Wenders, Bausch selecionou as coreografias que deveriam compor o documentário: Café Müller, A Sagração da Primavera, Vollmond e Kontakthof. Iniciada a rodagem, ela própria aparece, em cena, durante ensaios de seus dançarinos, quando lhes explica elementos de sua teoria sobre a dança: Há situações – diz ela – em que as palavras perdem totalmente o significado. É esse espaço que deve ser preenchido pela dança!….

Após um ano de intensos trabalhos, tanto para Wenders como para Bausch, ela desaparece, deixando um vazio impossível de ser preenchido pelos planos do cineasta, que chega a desistir de dar prosseguimento às filmagens. Instado pelos integrantes do Tanztheater a continuar, Wenders decide, depois de algum tempo, reproduzir o pensamento da genial coreógrafa por meio do método inquisitivo, que ela empregava para orientar os que, sob sua direção, dançavam.

Uma de suas bailarinas, em seu depoimento, se lembra de que, preocupada com sua atuação, indagou a Bausch o que deveria fazer para se aprimorar. E obteve dela pronta resposta: – Enlouqueça!… Você precisa enlouquecer um pouco mais!… E isso se explica, como é fácil observar, pela natureza de sua coreografia, muito centrada na insanidade humana. A um bailarino que cresceu frequentando, com os pais, os ensaios no Tanztheater, ela aconselhou: – Expresse mais amor à sua dança. Mas o amor, para ela, é um sentimento extremamente conflitante. Outro bailarino cita, em sua dança, Kazuo Ohno, mestre do teatro butô, que esteve três vezes no Brasil (1986, 1992 e 1997), falecido em 2010. De acordo com a sua opinião, Ohno deve ter-se reunido com Bausch, no céu, já que eram muito amigos, para ambos dançar em meio às nuvens.

O que há de notável, na mise-en-scène de Wenders, é ele saber destacar, em primeiro lugar, o sentido de universalidade na concepção artística de Bausch não só pelo aproveitamento de música de várias procedências como na composição de seu elenco de dançantes de diversas nacionalidades e, sumamente importante, de todas as idades. Sim, porque o envelhecimento deles não impedia que ela os usasse em suas novas criações. Jamais. Em segundo lugar, Wenders sabe tirar a dança de Bausch da solitária clausura do palco para lhe dar soberbas locações externas, algumas das quais realizadas no perímetro urbano de Wuppertal, que chegam a ser surreais para nós, brasileiros, ante a indecência do nosso transporte público e a crescente deterioração das estradas e das vias públicas de nossas cidades, principalmente as da relegada capital da República.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
www.roteirobrasilia.com.br
HYPERLINK “http://www.theresacatharinacampos.com” www.theresacatharinacampos.com
HYPERLINK “http://www.arteculturanews.com” www.arteculturanews.com
HYPERLINK “http://www.noticiasculturais.com” www.noticiasculturais.com
HYPERLINK “http://www.politicaparapoliticos.com.br” www.politicaparapoliticos.com.br
HYPERLINK “http://www.cafenapolitica.com.br” www.cafenapolitica.com.br
FICHA TÉCNICA
PINA 3D
Alemanha – 2011
Duração – 106 minutos
Direção – Wim Wenders
Roteiro – Wim Wenders
Produção – Jeremy Thomas
Fotografia – Hélène Louvart
Trilha Sonora – Thom
Edição – Wim Wenders.
Elenco – Pina Bausch e seu elenco de bailarinos do Tanztheater Wuppertal.

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
RELATED ARTICLES

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Most Popular

Recent Comments

PAULO ROBERTO DOS ANJOS OLIVEIRA on Próximo factoide: a prisão do Lula
cleonice pompilio ferreira on Golpe de 64: quando Kennedy chamou os militares
José rainha stedile lula da Silva Chávez on Projeto ditatorial de Macri já é emparedado nas ruas
maria teresa gonzalez perez on Crise e impasse institucional
maria teresa gonzalez perez on La Plata: formando um novo tipo de jornalista
maria teresa gonzalez perez on Maduro prepara Venezuela para a guerra civil
maria teresa gonzalez perez on Momentos emocionantes da apuração do 2o. turno
Pia Torres on Crítica do filme Argo
n_a_oliveira@hotmail.com on O que disse Lula a Mino Carta, meus destaques
José Gilbert Arruda Martins on Privatizações, novo filme de Sílvio Tendler
Maria Amélia dos Santos on Governador denuncia golpe em eleição
Prada outlet uk online on Kennedy e seu assassinato há 50 anos
http://www.barakaventures.com/buy-cheap-nba-indiana-pacers-iphone-5s-5-case-online/ on Oliver Stone em dois documentários sobre Chávez
marcos andré seraphini barcellos on Videoentrevista: Calos Lupi fala do “Volta Lula”
carlos gonçalves trez on Crítica do filme O Artista
miriam bigio on E o Brasil descobre o Oman
Rosana Gualda Sanches on Dez anos sem Darcy Ribeiro
leitefo on O Blogueiro
Suzana Munhoz on O Blogueiro
hamid amini on As razões do Irã
leitefo on O Blogueiro
JOSÉ CARLOS WERNECK on O Blogueiro
emidio cavalcanti on Entrevista com Hermano Alves
Sergio Rubem Coutinho Corrêa on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
Stephanie - Editora Saraiva on Lançamento: Existe vida sem poesia?
Mércia Fabiana Regis Dias on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Nielsen Nunes de Carvalho on Entrevista: Deputada Luciana Genro
Rosivaldo Alves Pereira on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola
filadelfo borges de lima on El Caudillo – Biografia de Leonel Brizola