sexta-feira, novembro 22, 2024
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Crítica do filme SHAME


A sexualidade exacerbada é o elemento perturbador – de degradação mesmo – da vida de um atraente executivo de Nova York, em Shame, do cineasta britânico Steve McQueen, que, para narrar o drama, usa linguagem de estética expressionista, densa, sombria, pontuada por eficiente trilha sonora do compositor inglês Harry Escott.

O roteiro de McQueen e Abi Morgan (A Dama de Ferro) conta a história de Brandon (Michael Fassbender), um executivo bem sucedido, solteiro, de mais ou menos trinta anos, que pouco se dá a conhecer na corporação em que atua. Receptivo às insinuações de ambos os sexos, é intimidado talvez por suas frequentes crises de excitação sexual, as quais o levam a interromper importantes reuniões de trabalho a fim de se aliviar no banheiro.

No metrô, a caminho de casa, Brandon flerta com uma loura, que lhe corresponde com o olhar de viés, mas lhe mostra, ao mesmo tempo, a aliança de casada, na mão esquerda. E, quando desce, na primeira estação, não se deixa seguir, perdendo-se no meio da gente que circula pelas escadas rolantes e pelos corredores. Incentivado por seu chefe David (James Badge Dale) ele vai, à noite, em sua companhia, a um bar à caça de mulheres.

De imediato, percebe-se a diferença de comportamento entre Brandon e David. O primeiro é reservado, fala e bebe pouco, enquanto o segundo é palrador e perfeito virador de copos, precisando logo ser embarcado, pelo amigo, num táxi a fim de ir para a casa, onde o aguardam a mulher e os filhos. Ao sair do bar, caminhando até o metrô, Brandon é surpreendido pela mulher que David desejava conquistar. Ela estaciona o carro, ele entra, e, em seguida, transam num canto de rua qualquer, atrás de uma construção.

Ao chegar a casa, Brandon, ainda de fora, ouve o ruído do som, ligado. O apartamento está em polvorosa. É uma bagunça só. No banheiro, ele encontra a irmã, Sissy (Carey Mulligan), sob o chuveiro. A recepção dele não é das melhores. O relacionamento entre ambos é conflituoso, sem que se saiba exatamente por qual motivo. É possível que ele a tenha estuprado. Sissy veio de Los Angeles para cumprir temporada, como cantora, num bar da cidade.

Embora ela possa arranjar um lugar para ficar, diz que pretende permanecer ali com o irmão, tirando-lhe, portanto, a liberdade de, sendo narcisista, transitar nu pelo apartamento, como sempre o faz, e de receber quem ele bem entender. À noite, Brandon convida David para comparecer à estreia de Sissy, que, em grande estilo, canta New York, New York, num arranjo melancólico de jazz. David, que denota sentir atração por seu subordinado, vai ao delírio ao possuir a irmã dele em sua própria cama, enquanto Brandon faz cooper pelas ruas da cidade, ouvindo, pelo fone de ouvido, uma peça de Bach, executada ao solo de piano.

O diretor Steve McQueen – Steven Rodney McQueen – procura mostrar nesse tipo de fábula – observe-se que ele, sabiamente, evita a todo o tempo a conotação realista em sua narrativa – que a facilidade dada hoje pela internet de acessar a pornografia faz com que as pessoas se deixem dominar pelo sexo, como as que se entregam ao álcool ou às drogas. É, a seu conceito, um tipo de perdição. No caso de Brandon, a personagem, interpretada pelo alemão Michael Fassbender (Bastardos Inglórios), dá noção de que é consciente disso e que essa compulsão é o seu calvário. Por isso, interiormente, ele desenvolve o sentido de culpabilidade, que pode oferecer sugestões ao espectador para compreender a cena final, que fica em aberto.

A atuação de Fassbender, Copa Volpi do Festival de Veneza e prêmios de Melhor Ator em vários festivais de cinema, é realmente soberba porque não é tão simples, ao que parece, desfilar nu diante das câmaras, como ele o faz de forma magistral, pois isso requer do ator uma capacidade altamente estudada e treinada no que diz respeito ao controle não só da mente, mas também dos músculos, como os do aparelho locomotor. Carey Mulligan (Drive), como Sissy, está igualmente notável principalmente no momento em que canta, no bar, de olhos vidrados e voltados para o lado do irmão e de seu, como ele o qualifica, pervertido convidado.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
SHAME
Reino Unido
Duração: 101 minutos
Direção – Steve McQueen
Roteiro – Steve McQueen e Abi Morgan
Produção – Ian Canning e Emile Sherman
Fotografia – Sean Bobitt
Trilha Sonora – Harry Escott
Edição – Joe Walker
Elenco – Michael Fassbender (Brandon), Carey Mulligan (Sissy), James Badge Dale (David), Nicole Beharie (Marianne), Hannah Ware (Samantha).

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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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