sexta-feira, novembro 22, 2024
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Crítica do filme Tropa de Elite II

Quinze anos depois de deixar o combate ao tráfico de drogas, nas favelas do Rio de Janeiro, o protagonista de Tropa de Elite 2, de José Padilha, está de volta para mostrar, por meio de uma abordagem cinematográfica de forte impacto, amparada em clichês americanos até mesmo pelo registro argumentativo, que as raízes da violência urbana estão plantadas na corrupção que hoje toma conta da cúpula governamental do País.

O passeio final da câmara sobre os edifícios dos Três Poderes, em Brasília, deixa evidente a preocupação do cineasta – também autor do roteiro (mais conciso e objetivo que o do original), em colaboração com Bráulio Mantovani – pelas questões de segurança pública que, para ele, são de extrema importância. As imagens da Capital da República ilustram, assim, o pronunciamento feito pelo Tenente-Coronel Roberto Nascimento (Wagner Moura) que, na tribuna da Assembléia Legislativa do Rio, afirma que metade dos parlamentares, ali presentes, deveria estar na cadeia.

Ao início do filme, após uma operação fracassada no presídio Bangu 1 – pela qual um de seus homens, Mathias (André Ramiro), acabou sendo punido e desligado do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), Nascimento recebe, com surpresa, sua promoção ao cargo de Sub-Secretário de Segurança Pública. Na nova função, ele terá a incumbência de supervisionar o setor de grampeamentos da Secretaria. Nascimento leva vida solitária – à semelhança, por sinal, de alguns heróis de sua estirpe moral do cinema americano – porque se separou da mulher Rosane (Maria Ribeiro), casada agora com o deputado estadual Fraga (Irandhir Santos). Com o parlamentar, tem sérias divergências tanto do ponto de vista ideológico, quanto familiar porque ele, como padrasto, goza de mais prestígio com o seu filho adolescente (Pedro Van-Held), que o considera, por sua profissão de policial, um “assassino”.

Além de se ver forçado a resolver a reaproximação com o filho no momento em que ele se envolve em dificuldades com a polícia por causa de uma namorada, Nascimento se conscientiza de que sua promoção à Subsecretaria de Segurança teve motivação política para favorecer os objetivos eleitoreiros do governador do Estado. Como narrador dos acontecimentos, ele afirma: No Brasil, eleição é um grande negócio!… E sem papas na língua – chega mesmo a chamar de Operação Iraque uma ação estratégica aprovada pelo governador -, começa a enfrentar seus inimigos no meio político sem temer a possibilidade de ser morto, numa emboscada, armada por policiais corruptos, comandados pelo Capitão Fábio (Milhem Cortaz), em qualquer esquina da chamada Cidade Maravilhosa.

A linguagem de Padilha ganha mais dinamismo do que a do primeiro filme graças a uma edição primorosa de Daniel Rezende, a uma eficiente composição de planos, feita pela fotografia, rica em contrastes, de Lula Carvalho, e a uma trilha sonora, de Pedro Bromfman, que pontua com precisão as sequências – algumas extremamente violentas – mais dramáticas da película. Apesar dos clichês, assumidos sem preconceito, Padilha consegue impor seu próprio estilo narrativo, reduzindo também as citações de clássicos do cinema, como havia feito anteriormente, para criar apenas uma, esta de natureza literária, a da preparação do enterro de Ofélia, no Hamlet, de Shakespeare.
Mais que tudo, porém, o trabalho de Padilha se valoriza pela homogênea e brilhante atuação do elenco de atores que conseguiu reunir. Percebe-se, a propósito, uma valorosa preparação técnica de todos os intérpretes – como, entre outros, Maria Ribeiro, Seu Jorge (um dos líderes da rebelião em Bangu 1), Milhem Cortaz, Irandhir Santos e André Ramiro – sem que se observe sequer uma nota dissonante no conjunto, o que, como se há de convir, é raro acontecer no atual cinema brasileiro. É evidente que Wagner Moura, envelhecido, como protagonista e, por isso, com mais tempo de exposição em cena, ganha maior destaque. Mas ele fez também por merecer. Evoluiu, sem dúvida, com a sua personagem, que se tornou mais madura e complexa. É uma pena que o timbre da personalidade de Nascimento, composta por Moura com uma profusão de detalhes, não encontre repercussão no meio da nossa gente, que gosta mais de heróis sem o caráter que ele ostenta.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
TROPA DE ELITE 2
Brasil/2010
Duração – 116 minutos
Direção – José Padilha
Roteiro – José Padilha e Bráulio Mantovani
Produção – Marcos Prado e Malu Miranda
Fotografia – Lula Carvalho
Trilha Sonora – Pedro Bronfman
Edição – Daniel Rezende
Elenco – Wagner Moura (Coronel Nascimento), Maria Ribeiro (Rosane), Seu Jorge (Rebelado em Bangu 1), Irandhir Santos (Fraga), André Ramiro (Mathias), Milhem Cortaz (Capitão Fábio), Pedro Van Held (Filho de Nascimento), Caio Junqueira (Neto), Bruno Delia (Capitão Azevedo).Crítica do filme

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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