sexta-feira, novembro 22, 2024
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Crítica do filme Tudo pelo Poder

Não se sabe se é por idealismo, ou se por ingenuidade, que o protagonista, de Tudo Pelo Poder, de George Clooney, jovem assessor de imprensa de um governador, candidato à presidência, é levado a se movimentar pelo maquiavélico e corrupto mundo da política, no caso, a americana. O que logo fica previsível, como não poderia deixar de ser, ante o repentino surgimento de uma estagiária, é como vai evoluir a trama, em que ele se envolve.

A película – indicada a disputar o Globo de Ouro de Melhor Filme do Ano – é baseada na peça teatral, estreada em Nova York em 2008, Farraguth North ( estação de metrô de Washington), de Beau Willimon. O autor integrou a campanha do ex-governador de Vermont, Howard Dean, nas primárias do Partido Democrático de 2004, das quais saiu vencedor o senador John Kerry. O argumento autobiográfico, portanto, narra os fatos, segundo a ótica de Stephen Meyers (Ryan Gosling), assessor de imprensa de Mike Morris (George Clooney), governador da Pennsylvania, que concorre às primárias de Ohio, com o senador Ted Pullman (Michael Mantell).

A vitória de Morris, no pleito, é importante, mas não lhe garantirá a indicação. Se Pullman sair vitorioso, será bom impulso para ele. As duas campanhas, entretanto, vão depender do apoio do senador Franklin Thompson (Jeffrey Wright), Democrata da Carolina do Norte, que poderia conseguir, para um ou para outro, um número suficiente de convencionais a fim de lhe assegurar a candidatura à presidência. Após o acirrado debate dos candidatos, Meyers, que, tão eficiente, traz na memória algumas das intervenções de Morris, recebe telefonema do coordenador da campanha de Pullman, Tom Duffy (Paul Giamatti), convidando-o para um encontro sigiloso.

Atordoado, Meyers chama seu chefe, Paul Zara (Philip Seymour Hoffman), por diversas vezes, ao celular, que não lhe responde. Ele deixa mensagem, na secretária eletrônica, comunicando que tem algo a lhe dizer. No encontro, Duffy, para sua surpresa, lhe oferece tentadora proposta de trabalho na campanha de Pullman ao argumento de que Morris vai perder as primárias. Meyers não só lhe dá as costas, recusando a proposta, como afirma sua confiança na vitória de Morris, e conclui: – Demais, eu sou amigo de Paul!…

É mais ou menos no decorrer dessa questão, que Meyers – não muito motivado, é verdade, pois parece que tem alguém em mira – inicia um relacionamento amoroso com Molly Stearns (Evan Rachel Wood), uma estagiária na campanha de Morris, filha de Jack Stearns, figurão da cúpula do Partido Democrata. Uma noite, lá pelas três da madrugada, enquanto Molly dormia, Meyers atende o celular dela e, para seu espanto, quem estava na linha?… Era Morris, que logo desliga o telefone. Molly, indagada, confessa a Meyers que teve um caso com o governador, no início da campanha, durante as primárias em Iowa, e que, em decorrência disso, está grávida, precisando de dinheiro para fazer o aborto.

Falta à narrativa de Clooney, do tipo convencional, mais ironia talvez para abordar a fábula da perda da inocência do protagonista no meio corrupto da política. É difícil encaixar a figura de Meyers nos moldes clássicos da personagem que, pura, idealista, luta contra o meio adverso em que atua. Pois, de fato, por mais que Ryan Gosling procure, sob essa orientação, ser convincente, ele encontra sempre o óbice da estrutura dramática em que Meyers está confinado. Se Clooney não tivesse optado por basear sua direção na psicologia das personagens, é possível que esse aspecto fosse até irrelevante. Mas acontece que foi isso justo o que ele pretendeu. Como intérprete de Morris, Clooney retrata razoavelmente bem o político da atualidade, que não enxerga limite algum para o seu poder. Os demais atores, dentro da linha que lhes foi imposta, não se comprometem.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
www.theresacatharinacampos.com
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FICHA TÉCNICA
TUDO PELO PODER
THE IDES OF MARCH
EUA / 2012
Duração – 101 minutos
Direção – George Clooney
Roteiro – George Clooney, Grant Heslov e Beau Willimon, com base na peça Farraguth North, de Willimon
Produção – George Clooney, Grant Heslov e Brian Oliver
Fotografia – Phedon Papamichael
Trilha Sonora – Alexandre Desplat
Edição – Stephen Mirrione
Elenco – Ryan Gosling (Stephen Meyers), George Clooney (Mike Morris), Philip Seymour Hoffman (Paul Zara), Paul Giamatti (Tom Duffy), Evan Rachel Wood ( Molly Stearns), Marisa Tomei (Ida Horowicz), Jeffrey Wright (senador Franklin Thompson), Max Minghella (Ben Harpen), Jennifer Ehle (Cindy Morris).

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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