domingo, novembro 24, 2024
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Crítica do filme Vincere

Embracine, fecha mais um cinema de qualidade (no final)
O que Marco Belocchio – um dos mais eminentes cineastas italianos da atualidade – deseja mostrar em Vincere é que Benito Mussolini (Filippo Timi), ditador fascista da Itália, na primeira metade do século passado, deu início à sua liderança política à custa do sacrifício de sua primeira mulher, Ida Dalser (Giovanna Mezzogiorno), internada, num hospício, por ordem sua, para morrer como louca.

Com base nas cartas deixadas por Dalser, Bellocchio e Daniela Caseli escreveram um roteiro nada objetivo, que comporta vários tipos de leitura, principalmente no que diz respeito à fixação da multifacetada personalidade de Mussolini. Na primeira fase, ele se mostra aos olhos dela como um verdadeiro sedutor. Militante do partido socialista, ele é ateu e tem ideias efervescentes na cabeça, abeberadas em Nietsche e Maquiavel.

Nessa fase, Mussolini participa de passeatas, de conflitos de rua e de palestras em que procura provar, ao espanto de seus ouvintes, entre outras coisas, que Deus não existe. Fascinada pelo espírito idealista, livre e revolucionário daquele macho vigoroso que ela conhecera num canto de praça, em Milão, durante a fuga de uma perseguição policial, Dalser decide vender tudo o que tem para apurar dinheiro a fim de financiar, para ele, o jornal Il Popolo di Italia, que seria o núcleo do Partido Fascista.

Eclode a Primeira Guerra Mundial, Mussolini se alista no exército e não mais dá notícias a Dalser, que já tivera dele um filho, Benito Albino. Quando, em 1917, ele é convidado de honra da Mostra Futurista, os dois se reencontram. Ele, porém, a rejeita, pois já está casado com Rachele Guidi (Michela Cescon ), com quem tem vários filhos. A partir de então, sem deixar perder o tom operístico da narrativa, Bellocchio faz a transposição da imagem subjetiva (a da personagem) para a pessoal (a sua, como autor) a fim de registrar os acontecimentos políticos ocorridos sob a tutela do ditador, como a reaproximação dele com a Igreja Católica.

Por meio da diversidade de linguagem – que pode ter dado causa ao fato de a película não haver conquistado nenhum dos grandes prêmios a que se candidatou -, o cineasta de De Punhos Cerrados procura compor o real, de forma direta, por uma exorbitância de imagens de arquivo, para focalizar a figura de Il Duce, o todo poderoso dono da nação e, reconstituída, no que tange às desventuras de Dalser, que continua a insistir, sem poder provar, ser sua primeira esposa e mãe de seu primeiro filho, criado num asilo. Assim, o distanciamento que Bellocchio cria, de ordem formal, entre os dois protagonistas, elimina por completo as relações, entre ambos, de sentido psicológico, que deveriam ter sido exploradas de maneira mais detalhada pela direção.

Tal seria o caso, por exemplo, do raciocínio lógico, a que se poderia chegar sobre o motivo que teria levado o pragmático Mussolini a não querer mais se relacionar com Dalser: ela era uma mulher culta, inteligente, avançada para a época, que lhe tomava muito espaço em sua atividade política. Ele preferiu ficar com Rachele, que correspondia mais ao padrão da mulher italiana da década de vinte, ignorante, vinda do meio rural, submissa e sem ambição. Nada disso, entretanto, fica suficientemente explícito – se o fosse, ganharia mais realce a ideia do título de “vitória” de Dalser -, em virtude da arbitrária supressão de Mussolini na parte reconstituída da história. Para tentar suprir o vazio, Bellocchio usa Filippo Timi como intérprete de Benito Albino, já adulto, um joão-ninguém, a imitar o pai famoso, numa cena grosseira e pouco convincente. Menos convincente é ainda – e demagógica também – a reação popular que se esboça em defesa de Dalser, quando ela, tendo fugido do hospício, para lá é levada novamente após ser localizada na casa de sua família.

As emoções artísticas que se sentem durante a ação se devem mais ao trabalho dos dois atores – Giovanna Mezzogiorno e Filippo Timi -, que representam, com muita intuição, os papéis de Ida Dalser e de Benito Mussolini. Mezzogiorno principalmente está esplêndida, usando sua força interior para atingir a alma da personagem, esmagada pela alternância de paixão e de ódio que sente pelo ditador. Nada é exagerado em sua composição. Há sempre um propósito em cada um de seus movimentos em cena. Graças a ela o filme não despenca de vez. Quanto a Timi, é lamentável, como já ficou dito, que o roteiro faça desaparecer sua personagem na segunda parte. O ator tem, entretanto, na primeira fase, oportunidade de mostrar um trabalho de muita envergadura profissional.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TECNICA
VINCERE
França, Itália (2009)
Duração – 128 minutos
Direção – Marco Bellocchio
Roteiro – Marco Bellocchio e Daniela Caseli
Produção – Instituto Luce, Eurimages, Rai Cinema, Província Autônoma de Trento
Fotografia – Daniele Cipri
Trilha Sonora – Ricardo Giagni
Edição – Francesca Cavelli
Elenco – Giovanna Mezzogiorno (Ida Dalser), Filippo Timi (Benito Musolini / Benito Albino), Fausto Russo Alessi (Ricardo Paicher), Michela Cescon (Rachele Guidi), Píer Giorgio Bellocchio (Pietro Fedele), Paolo Pierobon (Giulio Bernardi).

Cinemas fechando
Mais cinemas estão sendo fechados em Brasíla. Agora, são os da Embracine por falta de pagamento do aluguel das salas ao shopping Casa Park!…

COMUNICADO do Grupo Estação

O Grupo Estação, tradicional circuito de cinema alternativo carioca, vinculou-se ao Fundo Cininvest FIP Cinema em janeiro de 2010. Pelo contrato, os administradores do Fundo assumiam dívidas pregressas da empresa e passariam a operacionalizar a gestão dos cinemas do grupo assim como de outros cinemas já incorporados ao Fundo, em Belo Horizonte e em Brasília.

Estes administradores não deram sequência ao seu compromisso assinado em contrato, não honrando as dívidas em curso. Em setembro do ano passado, na tentativa de recuperarmos uma história de 25 anos de trabalho e serviços prestados ao cinema pelo Grupo Estação, destituímos os administradores anteriores e retomamos – com todos os riscos envolvidos – as atividades dos cinemas.

Assim, em janeiro deste ano, nós, os idealizadores originais do Grupo Estação, voltamos à gestão das empresas, na qualidade de diretores, assumindo também a Embracine, empresa que já pertencia ao Fundo, com os seus respectivos cinemas.
Para nossa surpresa, nos deparamos com uma realidade em que os antigos administradores além de não cumprirem contratos assinados, ainda deixaram de pagar compromissos importantes, como aluguéis dos cinemas e seus encargos, entre outros, o que ocasionou processos de despejo, incluindo o do CasaPark.

Nossa única e principal preocupação foi a manutenção das atividades dos cinemas assim como a garantia de mais de 300 empregos diretos.

Nesta semana, após diversos recursos jurídicos, foi sentenciada a desocupação dos cinemas, revertendo-os ao seu proprietário original, o shopping CasaPark.

Nos últimos meses, a frente da administração da Embracine, além de pagarmos todos os aluguéis e encargos nas datas de vencimento, começamos a redirecionar a programação do Embracine CasaPark aproximando-a das diretrizes que sempre nortearam o Grupo Estação em seus 25 anos, como pode ser notado nas últimas semanas.

Além de lançarmos filmes independentes, o que não acontecia, também realizamos uma retrospectiva Eric Rohmer. Uma outra retrospectiva, desta vez de François Truffaut, já estava agendada para este mês, além do Festival Varilux que traria ao CasaPark a grande atriz francesa Catherine Deneuve, eventos que não mais poderão ser realizados em Brasília neste momento.

É preciso destacar que os proprietários do Shopping têm razão ao mover a ação de despejo contra a Embracine uma vez que esta, durante sua administração, não só não honrou seus compromissos de ordem financeira como também não procurou qualquer tipo de entendimento junto ao shopping.

É de nosso interesse ainda conseguir um acordo que permita a continuidade do cinema dentro dos padrões Estação reconhecidos em todo o país e que também atenda as expectativas dos proprietários do Shopping. Somente assim, poderíamos concretizar nosso desejo e os pedidos do público, de chegar a Brasília com uma programação no nível que a capital do país merece.

No momento não temos alternativa a não ser interromper as atividades das salas, o que lamentamos profundamente.
Rio de Janeiro, 27 de maio de 2011.

MARCELO FRANÇA MENDES

NELSON KRUMHOLZ

ILDA SANTIAGO

Grupo Estação

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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