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Crítica do filme "W."

(Publicado originalmente em Seg, 04 de Maio de 2009 15:34)

Por Reynaldo Domingos Ferreira

Veja aqui o trailer.

Com a excepcional interpretação de Josh Brolin, W,  do cineasta Oliver Stone, já três vezes premiado com o Oscar, surpreende ao dar um retrato de corpo inteiro de George W. Bush de natureza até certo ponto condolente em relação aos terríveis erros por ele cometidos como presidente dos EUA nos últimos oito anos, embora mantendo, durante quase todo o período, alto índice de aprovação popular para o seu governo.

Rico em informações sobre a vida privada da dinastia dos Bushs, do Texas, o roteiro de Stanley Weiser e Stone – responsáveis também pelo êxito de Wall Street – Poder e Cobiça, que terá em breve continuação – aborda principalmente a relação conflituosa de W (Josh Brolin) com o pai, George Bush (James Cromwell). E não há exagero em aproximar esse conflito filial daquele que existiu entre Alexandre, o Grande, e Felipe da Macedônia, também  abordado por Stone num filme anterior, porém, menos inspirado, ou talvez menos bem interpretado.

O que primeiro deve ser destacado em relação a W é o fato de ser uma película de linguagem documental que só poderia ter sido realizada nos EUA, onde foi lançada em período eleitoral para a escolha do sucessor de W na Casa Branca, agora ocupada por Barak H. Obama. Aqui, onde qualquer juiz de primeira instância passa por cima de preceitos básicos da Constituição para estabelecer censura a livro, não se pode, com certeza, nem pensar em rodar um filme dessa envergadura.

Pois Stone deixa evidente que, dos Adams aos Bushs, as dinastias que muitas vezes se alternam no poder nos EUA levam para a vida pública as exacerbações de suas vidas particulares tanto do lado dos democratas, como dos republicanos, reduto por sinal dos conservadores. E, como já dizia o escritor Henry James, não há ninguém mais conservador, arraigado em preconceitos, do que o conservador americano.

Ao contrário de dois trabalhos mais remotos de Stone, que procuram dar figuração, bastante discutível, de estadista a Kennedy e a Nixon, em W,  o protagonista é tratado na exatidão do seu perfil, isto é, o de um indivíduo instável, impulsivo e pouco contemporizador como a mãe, Bárbara Bush (Ellen Burstyn), difícil de achar rumo na vida, pois cresceu com a maldição de ser o primogênito e considerado pelo pai como ovelha negra da família.
Ao início da película, W é preso depois de se envolver numa briga após uma partida de beisebol em New Jersey. Pelo telefone, o pai, parlamentar, diz que ele enxovalha o nome da família. Ele se desculpa e afirma que não voltará nunca mais àquele Estado e que tudo será, portanto, esquecido. Nos empregos de verão que o pai lhe consegue, W também não permanece. E de uma homérica bebedeira não escapa ao ser aprovado, com a ajuda do pai, para ingressar na famosa Universidade de Harvard.

Depois de, numa festa familiar, conhecer Laura Welch (Elisabeth Banks) e de sofrer um desmaio durante a corrida de cinco km que costuma fazer diariamente, W se apóia na religião para deixar de beber e, assim, iniciar um processo de auto-afirmação em relação ao pai, que se encantava com o futuro promissor do filho mais novo Jeb (Jason Ritter), político de prestígio e depois governador da Flórida.

Casado com Laura, durante as comemorações em família de seu aniversário, ao completar quarenta anos, W recebe convite do pai para ir a Washington ajudá-lo na campanha a fim de se eleger presidente, pois, conforme ele acrescenta, o seu irmão Jeb está muito ocupado. Orientado por Karl Rover (Toby Jones), enquanto o pai, eleito presidente, promove a Guerra do Golfo, ele decide concorrer ao governo do Estado do Texas, apesar da oposição da família.

Quando George Bush perde a reeleição, em 1992, para Bill Clinton – a cena é  cômica, pois mostra a família unida chorando desbragadamente diante do televisor -, W, governador, atribui a derrota do pai ao fracasso de não haver conseguido pôr abaixo a ditadura de Saddam Hussein (Sayed Badreya). Ele confessa então ao pastor Earle Hudd (Stacy Keach), de sua Igreja,  que recebera anúncio divino de que deveria se candidatar à presidência da República para cumprir missão importante em benefício do país.

Todos esses fatos são narrados por meio de dinâmicos flashbacks, tomados pela câmara manual de Phedon Papamichael, enquanto W faz consecutivas reuniões, na Casa Branca, com o seu corpo de assessores – o vice-presidente Dick Cheney (Richard Dreifus), o secretário de estado Colin Power (Jeffrey Wright), o secretário de segurança Donald Rumsfeld (Scott Glenn), o diretor da CIA George Tenet, (Bruce McGill), a assessora de segurança nacional Condoleezza Rice (Thandie Newton) e o secretário de comércio Donald Evans (Noah Wyle) – para decidir sobre a invasão do Iraque sob a alegação de que Saddam Hussein desenvolvia poderoso arsenal de armas químicas em seu território.

Dominado por sentimento de vingança contra Hussein que, a seu ver, fora o causador da derrota de seu pai em 92, W se mostra pouco preocupado em concentrar forças no Afeganistão, onde provavelmente se encontram os terroristas da Al Qaeda, liderados por Osama Bin Laden, preferindo, ao invés disso, obter de seus incompetentes assessores prévias comprovações da existência de armas químicas no Iraque, país que pretende atacar. E assegura: – Com ou sem resolução da ONU, invadiremos o Iraque!…
Josh Brolin domina a cena do começo ao fim, sendo secundado apenas pelos experientes James Cromwell, Ellen Burstyn e Toby Jones e por Elisabeth Banks, pois todos os demais praticamente desaparecem ante o brilho de sua atuação, que supera mesmo a de Onde os fracos não têm vez, dos Irmãos Coen.

Usando bem o sotaque texano, Brolin transfere para W um ar de pessoa fanática por esporte, meio atarantada, meio cômica, capaz de se complicar em situações simples como a de perder o rumo, enquanto caminha em companhia de assessores, em sua propriedade particular, ou a de procurar diferenciar Guantânamo de Guantanamera.

É, portanto, à  atuação de Brolin que Stone deve, sem dúvida, a boa qualidade desse seu novo trabalho, também pontilhado por bela trilha sonora, de Paul Cantelon, rica em country music e que não deixa de incluir também a canção What A Wonderful World, de Louis Armstrong.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

FICHA TÉCNICA

W
EUA/2008
Duração – 129 minutos
Direção – Oliver Stone
Roteiro – Stanley Weiser e Oliver Stone
Produção – Moritz Borman, Jon Kilik, Oliver Stone
Fotografia – Phedon Papamichael
Trilha Sonora – Paul Cantelon
Elenco – Josh Brolin (W), James Cromwell (George Bush), Ellen Burstyn (Bárbara Bush), Elisabeth Banks ( Laura Bush), Toby Jones (Karl Rove ), Richard Dreyfus (Dick Cheney), Jeffrey Wright (Colin Power), Scott Glen (Donald Rumsfeld), Thandie Newton (Condoleezza Rice), Noah Wile (Donald Evans), Bruce McGill (George Tenet),
Jason Ritter (Jeb Bush)

leitefo
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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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