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Crítica do filme Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme

Em Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme, sequência do melhor filme de Oliver Stone – que criou nele, na década de oitenta, uma personagem ícone do mercado financeiro – a ideia que prevalece ( prosaica, por sinal), é a de que, neste mundo de ganância, só o dinheiro pode promover as boas relações familiares. Em vista disso, a história da película gira em torno de pessoas que, para obter dinheiro, se prestam a qualquer coisa.

No original Wall Street – Poder e Cobiça, o protagonista Gordon Gekko (Michael Douglas), sintetizava bem a figura do grande especulador atuante no mercado de ações, que acabou por compreender que riqueza adquirida, da noite para o dia, tem preço muito elevado. E o jovem e ambicioso corretor Bud Fox (Charlie Sheen) era atraído por ele ao mundo da ilegalidade da espionagem industrial. Em sua continuação, Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme, para ficar evidente que nada mudou no mercado acionário, no interregno de vinte e três anos, Bretton James (Josh Brolin), cheio de relações e de maquinações, assume o papel de Gekko e Jacob (Jake) Moore (Shia LaBeouf), jovem e talentoso corretor de valores, o de Fox.

No prólogo, Gekko deixa a cadeia, no ano de 2008, em plena crise econômica, a mais devastadora para a economia americana desde o final da II Guerra Mundial. À saída, ele se sente amargurado pelo fato de a filha Winnie (Carey Mulligan), único membro que lhe resta da família, não vir apanhá-lo. Ela, de orientação esquerdista, mantenedora de um website muito acessado, não quer saber dele, pois o culpa pela morte do irmão Rudy, que se suicidou. Winnie namora Jacob (Jake) Moore, que, por sua vez, está abalado pela morte de seu mentor Lewis Zabel (Frank Langella), suspeitando ter sido ela provocada por Bretton James, grande especulador na área das reservas petrolíferas, como alguns, que por aqui se conhecem, atuando sob as vistas grossas do órgão fiscalizador governamental.

Ao saber, pela televisão, que Gekko fará palestra e lançará um livro sobre a crise financeira, Jake vai procurá-lo, na Fordham University, mas sem dar conhecimento disso à namorada. Gekko fala sobre a ganância dos bancos, causadora, como se propala, do que se convencionou chamar de “bolha imobiliária”. E adverte que a próxima “bolha” poderá surgir justo do setor de energia, ou seja, das quiméricas reservas petrolíferas – como as do pré-sal – que se negociam, nas bolsas, à custa de boatos. Jake, um emérito boateiro, que se encontra mergulhado em dívida, aplaude o pronunciamento do futuro sogro e, depois, o aborda, para lhe pedir orientação de como deve proceder em relação ao seu sucessor James. Mas também não perde a oportunidade, é claro, de se oferecer para intermediar a reaproximação da filha com ele. Pouco confiante em sua proposta, Gekko lhe diz: – Ela não quer saber de mim. O pai é o osso, no qual os filhos afiam os dentes!… Mas, vai adiante! Vamos ver, porém, o que vai dar!…

É, portanto, dentro da característica de um pesado drama familiar que prossegue o argumento, o qual dá, entretanto, possibilidades a Stone de fazer digressões não muito convincentes, é verdade, sobre o que vem acontecendo pelas adjacências de Wall Street – onde ele, por sinal, aparece no papel de um investidor – em decorrência da crise econômica. Nesse contexto, o ingênuo Jake não só deve enfrentar o conflito existente entre Winnie, grávida de um filho seu, com o pai – cuja causa real, sem que ele o saiba, envolve também muito dinheiro -, como deve igualmente atender a seguidas necessidades de sua mãe (Susan Sarandon), que deixou de ser enfermeira para se aventurar como corretora de imóveis, estando em dificuldades a fim de pagar três casas que adquiriu para depois revendê-las. Para narrar essas peripécias todas, a linguagem de Stone é sempre irônica e fluente, mais do que em seus trabalhos anteriores, talvez porque pontuada por uma boa trilha sonora de Craig Armstrong. O grande feito, porém, da direção é o de conduzir um elenco homogêneo, de grandes astros – Frank Langella, Josh Brolin, Susan Sarandon, Carey Mulligan e Shia LaBeouf -, liderado por Michael Douglas no papel de Gordon Gekko, que lhe valeu o Oscar da Academia em 1987. E, mais uma vez, é preciso destacar, ele está soberbo até mesmo porque a personagem, que interpreta, enfrenta problemas que muito se assemelham aos seus, como pai.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
WALL STREET – O DINHEIRO NUNCA DORME
WALL STREET: MONEY NEVER SLEEPS
EUA/ 2010
Duração – 133 minutos
Direção – Oliver Stone
Roteiro – Bryan Burrough, Allan Loeb e Stephen Schiff
Produção – Eric Kopeloff, Edward R. Pressman e Oliver Stone
Fotografia – Rodrigo Prieto
Trilha Sonora – Craig Armstrong
Edição – David Brenner e Julie Monroe
Elenco – Michael Douglas (Gordon Gekko), Shia Labeouf (Jacob (Jake) Moore), Josh Brolin (Bretton James), Carey Mulligan (Winnie Gekko), Susan Sarandon (Mãe de Jake), Frank Langella (Louis Zabel) e John Bedford Lloyd (Secretário do Tesouro).

leitefo
leitefo
Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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