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Crítica do filme "Watchmen – O Filme"

(Publicado originalmente em Seg, 16 de Março de 2009 12:57)

Por Reynaldo Domingos Ferreira

Veja aqui o trailer

A paranóia da Guerra Fria da década de oitenta, quando o mundo se encontrava sob tensão ante a possibilidade de guerra nuclear entre a União Soviética e os EUA, está de volta como pano de fundo de Watchmen, o Filme, de Zack Snyder, adaptação para o cinema da mais apreciada HQ (para adultos) de todos os tempos, segundo os aficionados do gênero

Dispondo de argumento politizado desse nível, de autoria de Alan Moore, trabalhando com bom roteiro de David Hayter, um elenco de atores competentes e usando menos a parafernália tecnológica – tanto na composição dos cenários como na construção das personagens -, Snyder, o cineasta de 300, tem oportunidade de realizar, desta feita, um trabalho de mais sentido estético e de fulgor erótico-visual.

Desde a impactante sequência inicial, a do assassínio de Edward Blake (Jeffrey Dean Morgan), também conhecido por O Comediante, em seu apartamento, tem-se noção precisa, pela fotografia de Larry Fong e pela pontuação musical, em solo de órgão, de Tyler Bates, do belo trato áudiovisual que Snyder pretende dar à narrativa, nada comparável, entretanto, ao brilhantismo do de Christopher Nolan em Batman – O Cavaleiro das Trevas.

Sob esse aspecto, vale a pena observar que o filme de Snyder, obediente à estética de Taxi Driver, de Martin Scorsese – realista para dar idéia de que os vigilantes (watchmen) são humanos sujeitos às pressões sociais e psicológicas -, incorpora a consagrada experiência do ilustrador da HQ, Dave Gibbons, de usar, ao invés das cores primárias, convencionais, as secundárias (roxo, verde, laranja), cujas tonalidades vão-se tornando mais sombrias à medida que a história avança

A trama é situada no ano de 1985, quando os super-heróis são declarados fora da lei. Os únicos em atividade são controlados pelo governo de Nixon, que aparece em esotéricas confabulações com Kissinger e outros seus assessores numa ambientação que lembra a do Dr. Fantástico, de Kubrick. No passado, os super-heróis usaram máscara para lutar contra o crime. Mas, no presente, escondem suas identidades. Os que se aposentaram sabem, entretanto, da existência de um inimigo invisível que pretende eliminá-los um por um.

Ao perceber a presença desse inimigo em seu apartamento, o vigilante Blake, um grandalhão, machista, que trabalhava para a CIA, afirma: – Era questão de tempo,eu imaginava!… E trava com ele luta feroz, de forte impacto visual, até que, finalmente, é arremessado contra as vidraças, que se estilhaçam, do trigésimo andar. Sabedor de que Blake fora eliminado, Walter Kovacs (Jackie Earle Haley) ou Roscharch, o único que ainda usa máscara, procura avisar os amigos sobre o ocorrido, pois está decidido a desvendar o complicado esquema criminoso.

O primeiro que Roschach visita é Dan Dreiberg (Patrick Wilson), de codinome Coruja II, que leva vidinha pacata de aposentado, meio que disfarçado sob óculos de aros portentosos. Mas Dan anda um tanto desmotivado, coitado. Da vida passada ele só se lembra nas esporádicas visitas que faz a seu antecessor, o original Coruja, Hallis Mason (Stephen McHattie), com quem mantém conversa morosa e rasteira.

Isso acontece, porém até que a bela Laurie Jupiter (Malin Akerman) ou Espectra II, meio que desgastada com Jan Osterman (Billy Crudup) ou Dr. Manhattan – o único dotado de super-poderes, figura atemporal, elemento de ligação das demais personagens com os tempos atuais -, procura Dan e, após lhe dar erótico trato na cama, recupera-o para a luta. Rejuvenescido, Dan aciona sua geringonça tecnológica e, possante, parte, com Laurie, para ajudar pessoas em dificuldade.

O elenco se destaca em atuações eficientes para esse gênero de película pautada, na essência, pela estética dos quadrinhos, de vínculos estreitos com a literatura folhetinesca. A começar de Jack Earle Harley, indicado ao Oscar de Ator Coadjuvante por sua interpretação em Pecados Íntimos, de Toddy Field. Embora ele tenha o rosto envolvido por uma máscara de tonalidades variáveis em grande parte do filme, marca forte presença como Roschach, que busca ferozmente esclarecimento para a morte de seu ex-companheiro Blake.

As atrizes, Carla Gugino (no papel de Sally Jupiter, Espectra) e Malin Akerman estão igualmente compondo bem suas personagens, principalmente a primeira que, numa casa de repouso, relembra para a filha, Laurie Júpiter, seus áureos tempos de luta contra o crime, como única integrante feminina da turma dos vigilantes, quando foi violentamente estuprada por Blake.

Os atores Jeffrey Dean Morgan, Patrick Wilson e Matthew Goode atuam de forma irrepreensível. O último encarna o papel de Adrian Veidt ou Ozymandias, um fascista, que se considera o homem mais inteligente do mundo e, no presente, também o mais rico, pois fez fortuna explorando o filão da vigilância de máscaras sob a forma de bonecos, perfumes, livros e filmes.

Coube ao ator Billy Crudup desempenhar – e bem – o papel do físico Jan Osterman, que, devido a um acidente num laboratório nuclear, se transformou em Dr. Manhattan, este feito em computador. É figura composta em azul, já que se trata de um superser humano. O Dr. Manhattan está, porém, enojado da condição humana. Ele se muda para Marte. Mas teme que o homem chegue ao Planeta Vermelho para perpetrar lá as atrocidades que produz na Terra, como usinas nucleares. Por isso, instado pelos ex-companheiros, não quer mais salvar o mundo. Já não tem mais nenhum interesse nele. Pensa mesmo em ir para uma outra Galáxia…
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

FICHA TÉCNICA

WATCHMEN, O FILME

WATCHMEN

EUA/2009

Duração –

Direção – Zack Snyder

Roteiro – David Hayter, baseado na HQ homônima de Alan Moore e Dave Gibbons

Produção – Lawrence Gordon, Lloyd Levin e Deborah Snyder

Fotografia – Larry Fong

Música Original – Tyler Bates

Elenco – Malin Akerman (Laurie Jupiter), Billy Crudup (Jan Osterman), Patrick Wilson (Dan Dreiberg), Jackie Earle Haley (Walter Kovacs), Matthew Goode (Adrien Veidt), Jeffrey Dean Morgan (Edward Blake), Carla Gugino (Sally Jupiter).

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Francisco das Chagas Leite Filho, repórter e analista político, nasceu em Sobral – Ceará, em 1947. Lá fez seus primeiros estudos e começou no jornalismo, através do rádio, aos 14 anos.
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