(Publicado originalmente em Qui, 06 de Novembro de 2008)
As notícias que chegam à maioria das pessoas é de que a Argentina está à beira da falência (de novo) e que o governo manipula os índices reais da inflação. Interessado que estou na votação de ontem da Câmara do projeto de reestatização da previdência,que devolve ao Estado a administração de cerca de 95 bilhões de dólares, e não vejo quase nada, inclusive nos sites da grande mídia argentina.
Se não tivesse passado antes no site da Telesul (Telesur), não ficaria sabendo que o projeto do Governo fora aprovado pela maioria acachapante, ou “abrumadora”, como dizem os “porteños”, de 160 votos a favor e 75 contra. Se tivesse sido o contrário, seria manchetão em todos os quadrantes. A matéria agora subirá ao Senado, para votação no próximo dia 20. Vejam como são as coisas.
Outra notícia importante, também quase surrupiada pela mídia argentina (e internacional, inclusive na braileña) é a diminuição do índice de desemprego, que chegou a 7,5%, segundo anunciou a presidenta, como eles dizem, Cristina Fernandez Kirchner. E dizer que, quando chegou ao governo, Nestor Kirchner, o presidente que precedeu sua mulher na Casa Rosada, econtrou um índice cavalar de quase 30% de desempregados. Imaginem se a gente vai confiar no que propala o grande aparato midiático..
Bom, mas vamos aos fatos, a Câmara de Deputados da Argentina aprovou hoje, sexta-feira, o projeto de nacionalização da Previdência (lá era quase tudo privatizado), através do qual os fundos retornarão às mãos do Estado, com vistas a uma melhor política de proteção para população de terceira idade. Com efeito, os argentinos corriam o risco de perder grande parte das economias que fizeram naqueles fundos privados, diante da ameaça de falência dos grandes bancos. No Chile, onde a privatização, introduzida pelo general Augusto Pinochet, foi ainda mais radical, os prejuízos já chegam a mais de 20 bilhões de dólares.
A grande queixa da mídia contra os Kirchner é que, com a futura lei, o governo da presidenta, Cristina Fernández, aprofunde o fortalecimiento do Estado como regulador e administrador. Na verdade, os Kirhcner vêm aos apoucos reestatizando grande parte da privataria, que lá foi comandada pelo grande presidente neoliberal Carlos Menem, um peronista cooptado pelo Consenso de Washington.
Ao justificar o projeto, a presidente Cristina sustentou que as empresas privadas (os bancos) praticavam uma “política de saque” contra o cidadão e que para manter esse sistema, os fundos se desmoronaram estrepitosamente.
“Fica evidente que quando ninguém regula o mercado, e se deixa fazer o que ele quiser, se chega ao descalabro financeiro ao qual está submetida a economia mundial”, afirmou la presidente.
Os fundos de pensão contam na Argentina com 9,5 milhões de trabalhadores registrados, mas somente 3,6 milhões são contribuintes efetivos, além de necessitar que o Estado os auxilie cada mês para poder pagar as aposentadorias, porque as contas dos beneficários não têm respaldo suficiente.