O embaixador do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, disse hoje, em entrevista coletiva, que o Egito vai seguir o modelo iraniano “de liberdade e independência” para forjar seu próprio destino. Ressaltou que o Oriente Médio também vai para o islamismo: “O mundo terá em breve muitas novidades da região, que vai se desprender da dominação dos Estados Unidos e das potências ocidentais”.
Shaterzadeh, que falou esta manhã durante quase três horas para um grupo de jornalistas blogueiros de Brasília, a propósito do 32o. aniversário da revolução iraniana, descartou a possibilidade de uma intervenção ocidental ou de Israel para prevenir a ascensão islâmica, particularmente no Egito: “Os Estados Unidos já não têm poder para atacar o povo nas ruas, porque se desmoralizaram ao sustentar as ditaduras durante todos estes anos”. Shaterzadeh ainda mencionou o fato de o sistema norte-americano não praticar a real democracia: “Lá, nas eleições presidenciais apenas 50% comparecem para votar. Isso significa que um presidente é eleito por 25% dos eleitores. No Irã, onde o voto não é obrigatório, 85% votaram para escolher o presidente na última eleição (em 2009)”.
Indagado por um blogueiro se não havia a possibilidade de Israel revidar com um ataque nuclear ao Irã, o embaixador respondeu que “a força do estado judeu” é baseada na propaganda que lhe faz a mídia ocidental, cujas fontes “estão concentradas em 90% da versão sionista”: “Israel” – assinalou – “não conseguiu permanecer no Líbano mais que 33 dias”, ao referir-se à última invasão israelense sobre aquele país.
Mohsen Shaterzadeh, um professor de nano tecnologia, com domínio de inglês e francês, cuidou ainda de destacar os progressos da revolução de seu país no campo da aviação, dos satélites, tecnologia de informação, da ciência, da petroquímica e da genética – tudo com tecnologia própria. Mas sustentou que as usinas nucleares, em desenvolvimento no Irã, não se voltam para a fabricação da bomba, porque esta deixou de ser um instrumento de guerra para se transformar numa ferramenta para o progresso da humanidade sobretudo no campo da medicina: “Nem os Estados Unidos, nem a Europa, nem Israel levam a sério a ameaça nuclear, a não ser para fins de propaganda”.
Ao começar a entrevista, o embaixador Mohsen Shaterzadeh fez uma longa explanação sobre as causas e os efeitos da Revolução Islâmica, conduzida pelo Aiatolá Ruhollah Khomeini, em 1979, para chegar àquelas conclusões sobre a ascensão do islã, não apenas no Egito, mas també em outros países como Tunísia, Jordânia, Argélia, Marrocos, a Arábia Saudita e o próprio Iraque, hoje sob dominação do exército americano.
Relatou que o regime do Xá Reza Pahlevi, deposto por Khomeini, “funcionava como uma polícia militar para massacrar as populações não apenas do Irã, mas também de seus vizinhos árabes”. Exemplificou que os policiais e os torturadores da Savak, a polícia secreta, eram treinados diretamente nos Estados Unidos e em Israel: “Até os equipamentos que nos vendiam tinham de ser consertados naqueles países”.
Dominação – O embaixador Mohsen Shaterzadeh ainda historiou o processo do Oriente Médio, que classificou como uma região muito complexa e significativa para a humanidade, por ser o eixo de três grandes religiões: o islamismo, o catolicismo e o judaismo. Nesta região, o Irã, por se encontrar no cruzamento de uma corrida norte para o sul e do leste para o oeste, por causa das fontes energéticas (petróleo, principalmente), sempre esteve sob a ameaça de intervenção por parte das grandes potências, especialmente dos ingleses e dos norte-americanos.
– Por causa disso, os ingleses fizeram naufragar o regime popular e nacionalista de Mohamed Mosadegh, que antes tinha nacionalizado o petróleo e iniciado um programa de reformas sociais, em 1953. Instalaram em seu lugar o regime policialesco e apátrida dos Reza Pahlevi. A Revolução, cujo 32o. aniversário, agora celebramos, veio para libertar o Irã, que agora rege seu próprio destino e apresenta indicadores sociais dos mais elevados do mundo.
Entre estes indicadores, citou a abolição do analfabetismo, a liberação da mulher, que hoje ocupa 65% das vagas das universidades, que hoje são mais de 400, com 3,5 milhões de estudantes universitários (proporcionalmente, o dobro do Brasil), para um total de 72 milhões de habitantes, contra 60 universidades e 100 mil estudantes, na época do Xá. Na época do Xá, apenas estudavam 50% da população em idade escolar, e hoje a universalização do ensino chega a 99%. Tais conquistas que, explicou, foram fruto da grande mobilização ao longo destes 32 anos, ainda projetam o Irã como uma das nações mais desenvolvidas, no campo econômico, social e militar.
Mohsen Shaterzadeh lembrou ainda os avanços teconológicos, com o lançamento de satélites, com plataformas e mísseis totalmente iranianos (este ano serão lançados mais 4 satélites), a construção de submarinos, navios, aviões não tripulados com autnomia para mil quilômetros e mísseis de alcance intercontinental. E citou outros exemplos: 9 entre os 20 medicamentos contra a AIDS são fabricados pelo Irã, que também tem excelência nas células troncos, com a fabricação de rmédios para o câncer, a clonagem de animais e outros avanços.
Relações com o Brasil – Finalmente, Shaterzadeh falou sobre as relações entre o Brasil e o Irã, destacando que elas continuam no mesmo nível da época do presidente Lula e atribuiu alguns problemas surgidos no novo governo foram frutos da manipulação da imprensa e da mídia, que ele julga especialmente focadas no Irã: “Eles têm inveja de nosso progresso e influência na região”, disse.
Ressaltou que esses problemas estão sendo contornados pela via do diálogo e da compreensão, que são grandes entre os dois países. Sobre a questão do caso da viuva Sakineh Ashtiani, disse tratar-se de outra maquinação midiática, já que se trata de assunto afeto ao juidicário: “Imaginem se o Irã fosse querer interferir na justiça brasileira quando trata de suas 7 mil mulheres acusadas de crimes de homicídio”.
O embaixador pediu ainda atenção para outras manipulações do notiociário, que levam muitas pessoas a pensar mal do Irã: “Veja aquela notícia de que o país tinha censurado os livros de Paulo Coelho. Comprovou-se tratar-se de uma grande mentira, porque mais de cem mil exemplares de livros são vendidos em nosso país”.
Os jornalistas blogueiros que participaram da entrevista com Mohsen Shaterzadeh foram:
1 – Cesar Fonseca – Independenciasulamericana.com]
2 – Roberto Lemos – Jornal Hora do Povo
3 – Vitor Correa – Blog do Campanela
4 – Helena Iono – Pátria Latina
5 – João Goulart Filho – Página 64
6 – Beto Almeida – Carta Maior e Jornal Brasil de Fato
7 – Márcia Camargo – Blogueira e escritora, autora de dois livros sobre o Irã
8 – Iraê Sassi – TV Cidade Livre
9 – FC Leite Filho – CafénaPolítica
10 Alfredo Bessow – Passe Livre
11 – Chico SantAnna – Blog do Chico Infocom
12 – Acilino Ribeiro -MDD
13 – Samia Meneses – Blogueira e Cientista Política
14 – Romário Schetinno – Blog do Romário
Mais detalhes, por Beto Almeida, de Carta Maior