Por FC Leite Filho
A presidenta Cristina Kirchner havia anunciado na véspera “decisões históricas” do Mercosul e da Unasul. Maior articuladora da reação à ruptura democrática no Paraguai, com a deposição do presidente Fernando Lugo, e por isso chamada pela mídia brasileira “a grande chavista do hemisfério”, a igualmente presidenta pro-tempore do Mercosul tinha suas razões.
Seu governo também vinha sendo ameaçado por uma série de ensaios golpistas, incluindo, além de uma sistemática campanha midiática de desestabilização, uma greve de caminhoneiros, à la Allende, tanto é que foi obrigada a abandonar a Conferência Rio+20, no Rio de Janeiro, no mesmo dia da queda de Lugo, quinta-feira, 22 de junho de 2012. Não sem antes, de juntamente com a sua colega brasileira Dilma Rousseff e o presidente do Uruguai, Pepe Mojica, acertar decisões conjuntas diante da crise paraguaia.
Por isso, foi com especial vigor que ela anunciou o consenso, não apenas do Mercosul, mas de toda a Unasul e seus 12 chefes de Estado ali presentes ou representados, em torno da suspensão do Paraguai e do ingresso da Venezuela como membro pleno do Mercado do Sul. E pediu mais união, mais coesão, mais fortalecimento e mais integração, sobretudo econômica, dos países-irmãos para debelar os efeitos produzidos pela crise americano-europeia e explorar as potencialidades agro-limentar, mineral, energética e tecnológica da região para melhor se situar no mundo multipolar que se desenha no horizonte.
Junto com a decisão, Cristina, Dilma e Chávez, este assistindo à reunião pela TV, de Caracas, cuidaram de enviar uma mensagem de paz e de harmonia, sobretudo frente ao Paraguai, ao descartar sanções econômicas contra o país, ainda que punindo os golpistas. Ao contrário da prepotência dos norte-americanos e europeus que massacram povos, como o líbio e o sírio, e procuram asfixiar economicamente nações como Cuba, Venezuela e o Irã, os líderes sul-americanos se mostraram mais humanos e compreensivos. O próprio Chávez, que havia suspendido a ajuda de petróleo, que fornece, a preços irrisórios, 30% do consumo de combustível daquele país, teria se comprometido a revogar a medida, depois da decisão de ontem.
Por sua vez, a presidenta Dilma – que assumiu a presidência temporária do Mercosul, na mesma reunião de hoje – elogiou os líderes pela decisão de punir politicamente o Paraguai. Dilma afirmou que as convicções democráticas no Mercosul são fortes e, referindo-se à incorporação da Venezuela ao bloco, convidou o Equador, Bolívia, Peru e Chile a se unirem aos esforços de ampliar o bloco e fortalecer a Unasul.
Hugo Chávez afirmou de seu país que “a inclusão da Venezuela no Mercosul é uma derrota pra o imperialismo e os lacaios da região”, insistindo que “a burguesia venezuelana e a paraguaia fez o impossível para torpedear o caminho da Venezuela
“Vocês devem recordar”, disse ele, que a Venezuela pediu o ingresso no bloco quando eu não havia assumido a presidência, em 1999. Depois se passaram muitos anos. Depois chega o Lula na presidência do Brasil e Néstor Kirchner na da Argentina, e se dá a petição formal(…), em Caracas, em quatro de julho de 2006. Não obstante, logo nos deparamos com uma trava no Congresso do Paraguai, esse mesmo que deu o golpe em Lugo. Esse Congresso, acusando a mim e causando um grande prejuízo ao Mercosul e ao próprio Paraguai”.
Mas ele enfatizou sobretudo a importância geo=estratégica da decisão desta sexta-feira: “A Venezuela está próxima do CAnal do Panamá, a passagem para o Pacífico, o caminho para a Ásia,, Europa, o Atlântico Norte, pois isto tudo faz paerte dos impactos estratégicos, geo-políticos e geo-econIomicos
“Tenemos cercanías al Canal de Panamá, el paso al Pacífico, al igual que las cercanías con Asia, Europa, el Atlántico norte (…) esto forma parte de los impactos estratégicos, geopolíticos y geoeconómicos”.
Disse que agora seu país está integrado no espaço geo-político da união (latino-americana). Isto significará, na sua opinião, o aumento das importações e exportações nos mercados do Sul, em benefício dos povos. Para tanto, destacou o interesse dos empresários brasileiros e argentinos para iniciar empreendimentos na Venezuela, porque “por um lado”, como frisou, nós significamos energia barata, matérias primas para qualquer empreendimento industrial, e, por outro, estamos próximos dos mercados da América Central da América do Norte e do Caribe”.
Chávez, o ex-presidente Lula da Silva e o falecido Néstor Kirchner também receberam homenagem especial na reunião conunta do Mercosul e Unasul. Como o clima já era de festa e congraçamento, Cristina Fernández, ca[richou em seus dotes de anfitriã, fazendo a entrega de um retrato de Lula à presidenta Dilma, e outro de Chávez, ao chanceler venezuelano, Nicolás Maduro. O golpe paraguaio que tinha como objetivo estilhaçar a unidade sul, caribenha e latino-americana, terminou por consolidá-la com essas decisões realmente históricas, como prometeu a chefa de Estado argentina.